Já virou uma rápida tradição. Pelo segundo ano seguido, artistas brasileiros se reúnem em show para homenagear o Camaleão do Rock, David Bowie, bem no mês de janeiro, que celebra tanto o seu aniversário (ele nasceu em 8 de janeiro de 1947), como relembra a sua morte (Bowie nos deixou em 10 de janeiro de 2016).
Desta vez no Sesc Pompeia, na capital paulista, o novo show Let's Dance: Uma Homenagem a David Bowie será realizado neste sábado, 19. Filipe Catto, Leo Cavalcanti e Ritchie retornam para cantar músicas do ídolo britânico, com Barbara Ohana, Charly Coombes e Antiprisma se juntando a eles este ano. As apresentações devem começar às 21h30.
"É sempre bom reunir os fãs de David Bowie", acredita Ritchie, que apesar de nunca ter sido um fervoroso seguidor de Bowie, divide com ele um lugar em comum em suas trajetórias musicais. "Embora ele tenha nascido em Brixton, se mudou aos seis anos para Beckenham, a cidade em que nasci", explica o cantor britânico-brasileiro. "Foi lá que ele escreveu suas obras primas. É uma cidade referência para nós dois. Não tínhamos proximidade, mas é um elo que tenho com a figura dele."
Para Ritchie, o show vem no momento ideal de se relembrar a obra de seu compatriota. "Estamos num momento em que começam a contestar várias conquistas lideradas por Bowie, conquistas de liberdade", diz. "É o momento de homenagear pessoas com essa coragem. Eram poucas pessoas que tinham a visão de arte dele."
Filipe Catto concorda. "Estamos vivendo um retrocesso a níveis bizarros. Nunca foi tão importante escutar David Bowie e falar sobre a fluidez artística que existe na gente", acredita. Para ele, que vai cantar no show músicas como Heroes e Under Pressure, a subjetividade da música de Bowie deve ser celebrada. "É importante ouvir Bowie e refletir sobre o que ele estava querendo dizer. É uma maneira de não perder a subjetividade, algo que está sendo tirado de nós."
Catto se diz devoto a Bowie. Cresceu, segundo ele, ouvindo suas músicas. "Na adolescência, a música da minha vida era Rebel Rebel. De madrugada, ficava ouvindo Ziggy Stardust", relata. "Essas músicas moldaram a minha vida por inteiro."
Para ele, um dos pontos mais importantes da obra de Bowie é a liberdade estética. "Sou obcecado pela estética e pela iconografia, ele é uma das figuras mais inspiradoras", afirma. "Ele colocou a estética acima do gênero, criou um lugar de androginia e liberdade que me influenciou profundamente."
Barbara Ohana, que estreia no show este ano, também é das fãs mais fervorosas. "Sempre me abasteço com Bowie, sempre tem uma coisa nova para descobrir em sua obra", ela diz. "A cada fase da minha vida eu vou catando uma coisa nova."
A cantora afirma ainda estar em luto por sua morte. "Foi muito traumático, eu estava em Los Angeles no dia, passei em frente à estrela dele na Calçada da Fama. Fiquei com as pessoas chorando, cantando", relembra.
Barbara é mais uma a acreditar que as conquistas de liberdade feitas por Bowie estão sendo questionadas. "Ele passava a ideia de consciência humana na arte, na roupa, no cabelo, no olhar", afirma. "Temos que falar de Bowie principalmente agora, com as pessoas questionando os valores que já tínhamos dado como conquistas."
David Bowie (1967) - Estreia solo de Bowie. Ali, o músico mostrava a base do que viria a seguir, seu primeiro grande sucesso. Ouça: Love You till Tuesday
Foto: Reprodução / Estadão
David Bowie (1969) - Este, sim, é o primeiro passo do britânico para o estrelado. O álbum, também chamado de Space Oddity, trazia na canção homônima, a força motriz de Bowie como artista, um outsider, alienígena. A solidão do espaço, usada inclusive pela Nasa, gerou o burburinho em cima desse personagem incomum da música pop. Ouça: Space Oddity
Foto: Reprodução / Estadão
The Man Who Sold the World (1970) - Embora o disco anterior seja considerado pelo próprio Bowie um marco para seu início de carreira, foi com este álbum (lançado na Inglaterra no ano seguinte), que os críticos e o público passaram a entender o início da personalidade do inglês como artista. Ouça a faixa título: The Man Who Sold the World
Foto: Reprodução / Estadão
Hunky Dory (1971) - Estouro ambicioso de Bowie, quando a persona glam que viria a seguir, Ziggy Stardust, começa a nascer. Ouça as mágicas: Life on Mars, Changes e Oh! You Pretty Things
Foto: Reprodução / Estadão
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972) - Um dos principais discos da década de 1970, quando o mundo pós-Beatles ainda lidava com o fim da cultura hippie. Bowie criou esse personagem título que veio do espaço, um deslocado, distante, embora completamente humano e falível. Ouça: Five Years, Moonage Daydream, Starman, Ziggy Stardust e Rock 'n' Roll Suicide.
Foto: Reprodução / Estadão
Aladdin Sane (1973) - Bowie “matou” Ziggy Stardust e retornou como o personagem título deste álbum, outro ícone da carreira, traduzido por ele como “Ziggy vai para a América”. Ouça: The Jean Genie e Drive-In Saturday
Foto: Reprodução / Estadão
Pin Ups (1973) - Um álbum de covers, o último acompanhado pela banda Spiders From Mars. O disco é cheio de nostalgia sessentista. Ouça: Sorrow
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Diamond Dogs (1974) - Inspirado no livro 1984, de George Orwell, Bowie pincela em canções um mundo apocalíptico. Ouça: Rebel Rebel, Diamond Dogs e 1984
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Young Americans (1975) - A obsessão de Bowie pelo soul, funk e pela disco music enfim foi escancarada neste álbum. O artista deixou o rock de lado e partiu para um mergulho profundo no R&B, continuado no ano seguinte. Ouça: Young Americans e Fame
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Station to Station (1976) - Nesse mergulho no funk e disco, Bowie também se afundou na dependência de cocaína, como o último grande personagem da sua carreira, o Thin White Duke. O disco é um marco, quando experimentalismo dos anos seguintes começava a mostrar, com toques de sintetizadores. Ouça: Station to Station, Stay e Golden Years.
Foto: Reprodução / Estadão
Low (1977) - Bowie vai para Berlim, mergulhar num encontro de música eletrônica, influenciado por bandas como Kraftwerk. Com canções clássicas, tal qual Sound and Vision, ou experimentais, como Warszawa, por exemplo.
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Heroes (1977) - Segundo capítulo da trilogia de Berlim. Considerado outro dos melhores discos da carreira do camaleão. Mostra um Bowie inspirado na composição das canções, vide a faixa- título, que mostra o encontro de dois amantes à sombra do Muro de Berlim. Não se engane, contudo, ainda há bastante experimentalismo por parte do camaleão. Ouça: Heroes, V-2 Schneider e Beauty and the Beast.
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Lodger (1979) - Terceira parte da “fase Berlim”, o álbum é mais acessível que os dois anteriores, mais pop, por assim dizer. É um dos discos subestimados da carreira de Bowie, mas merecia um olhar mais atento. Ouça: Look Back in Anger, Boys Keep Swinging e Yassassin.
Foto: Reprodução / Estadão
Scary Monsters (And Super Creeps) (1980) - Embora a trilogia de Berlim seja marcante para a carreira de Bowie – a partir da perspectiva contemporânea –, ela não foi tão bem sucedida comercialmente. Com este álbum, na entrada da década de 1980, ele encontrou o balanço entre os dois lados, o popular e o experimental. Ouça: Ashes to Ashes.
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Let's Dance (1983) - “Vamos dançar?”, sugere Bowie no título do seu 15.º disco, co-produzido por ninguém menos do que Nile Rodgers, guitarrista do Chic e uma unanimidade ao produzir um som capaz de ferver a pista de dança. Bowie mesmo ficou surpreso com a boa recepção do álbum. Ouça: Let's Dance, China Girl e Criminal World.
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Tonight (1984) - O álbum levou 5 semanas para ser gravado, algo que para Bowie era tempo demais. Ele não gravou instrumentos no disco e seguiu na linha sonora do álbum anterior, mantendo consigo o novo público que havia angariado graças a Let’s Dance. Ouça: Blue Jean, Loving the Alien e Tonight.
Foto: Reprodução / Estadão
Never Let Me Down (1987) - Um retorno ao rock. Assim Bowie descreveu o disco durante o seu lançamento – a capacidade de perceber o ambiente que o circulava se mostra claro aqui, afinal, o rock em alguns anos voltaria à moda graças às guitarras sujas do grunge. Ouça: Bang Bang, Day-In Day-Out, Time Will Crawl e Never Let Me Down
Foto: Reprodução / Estadão
Black Tie White Noise (1992) - Depois de iniciar a década de 1990 comandando sua banda de hard rock chamada Tin Machine. É o retorno de Bowie à velha forma. Começava o que a BBC chamada de “nova fase” do britânico. Ouça: Jump They Say e Miracle Goodnight.
Foto: Reprodução / Estadão
Outside (1995) - O britânico volta a trabalhar com o produtor Brian Eno, seu parceiro durante o período em Berlim dos anos 1970. De volta ao estúdio, Bowie criou o personagem Nathan Adler, cuja vida em uma sociedade distópica de 1999 é narrada ao longo das canções do disco e 75 minutos de som. Ouça: Hallo Spaceboy e Strangers When We Meet.
Foto: Reprodução / Estadão
Earthling (1997) - O disco, inspirado pela recém-nascida cultura de drum and bass e música eletrônica industrial, marcou o retorno de Bowie à produção dos próprios álbuns, algo que ele não fazia desde Diamong Dogs, de 1974. Um disco cheio de boas texturas e loopings, mas longe de ser um grande sucesso comercial. Ouça: I'm Afraid of Americans, Little Wonder e Telling Lies.
Foto: Reprodução / Estadão
‘Hours...’ (1999) - O álbum dividiu críticas, mas era inegável que Bowie havia chegado a um nível de maturidade e segurança com o qual tinha domínio completo de si como artista. O primeiro disco de um músico de grande gravadora a dar a possibilidade de que o público pudesse ouvi-lo na íntegra na internet, duas semanas antes do lançamento físico. Ouça: The Pretty Things Are Going to Hell.
Foto: Reprodução / Estadão
Heathen (2002) - A gestação desse disco teve início em 2001, mas foi diretamente afetada, tematicamente, pelos atentados às Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro daquele ano. Ouça: Everyone Says ‘Hi’.
Foto: Reprodução / Estadão
Reality (2003) - O último disco de Bowie antes da pausa para cuidar a saúde. Há uma simplicidade marcante neste trabalho, algo proposital. O músico disse, na época, que havia se tornado uma personalidade “abstrata” para as pessoas ao longo daqueles anos. Era hora de tornar as coisas mais simples. Ouça: Pablo Picasso, Try Some, Buy Some e The Loneliest Guy.
Foto: Reprodução / Estadão
The Next Day (2013) - Grande retorno de Bowie. Um disco que foi lançado de forma tão surpreendente que até sua equipe der assessoria de imprensa foi pega desprevenida com o mesmo. A surpresa foi tão bem recebida que o álbum, cheio de guitarras proeminentes, foi para o primeiro lugar das paradas britânicas e concorreu ao Grammy de melhor disco de rock. Ouça: Where Are Whe Now?, The Stars (Are Out Tonight) e Love Is Lost.
Foto: Reprodução / Estadão
Blackstar (2016) - Último disco de Bowie. Uma pérola jazzística, inovadora, reveladora. Quando ninguém poderia imaginar Bowie se transformando, ele o fez. Um álbum sombrio, contudo, que flerta com a ideia da morte e do fim.