Entre a fama e a fome: Mari Fernandez sentiu a presença divina e isso mudou sua vida
Com agenda lotada e shows esgotados, a cantora vive seu melhor momento e já pensa no sucessor de seu DVD, ‘Ao Vivo em Fortaleza’
Mari Fernandez, de 21 anos, é uma das cantoras mais ouvidas do momento. Sua presença no Top 50 Brasil do Spotify e seus respectivos 6,9 milhões de ouvintes mensais na plataforma não deixam mentir.
Em conversa com o Terra, ela demonstra ser uma potência, não pela simpatia e simplicidade que esbanja pela chamada de vídeo, mas pela história muitas vezes ofuscada e pela garra em conquistar mais espaços.
Nascida e crescida em berço religioso, uma mescla familiar de evangélicos e cristãos de outros segmentos, foi nas igrejas de Alto Santo (CE) que começou a cantar, entre os 7 e 8 anos, foi lá que entendeu o que queria para a vida. Maior de idade, mudou-se para Fortaleza para seguir o sonho de ser artista. Na cidade, trabalhando como recepcionista, ela passava o mês com o que chama “dinheiro só para pagar o aluguel”.
Para não dizer que ficava sem comer e passava fome, Mari Fernandez relata que tinha um orçamento de R$ 100 a R$ 150 para gastar o mês inteiro com refeições. “Pense o que é uma feira com esse valor? Eu não comia carne, comprava tudo enlatado e vivia de miojo”.
Em meados de 2020, Mari perdeu sua avó, uma pessoa que apoiava seus sonhos. A perda a desestabilizou e a fez ter crises de ansiedade, mas também lhe proporcionou uma experiência que alega ter mudado sua vida. Dispensada do trabalho, voltando para casa, deu de encontro com um sorveteiro que dizia ter uma mensagem divina: "Você tem um dom, mas só será seu se usá-lo para Deus".
“Ouvindo, eu desatei a chorar. Fui para casa, cantei louvores e relembrei do meu início. Dois meses depois, me chamaram para o projeto Mari Fernandez, gravei meu CD, viralizei no TikTok e desde então Deus vem me abençoando”, relata ela, visivelmente emocionada, que diz sempre ouvir e cantar louvores, seja em aviões, em ônibus ou momentos de lazer.
Confira a entrevista na íntegra:
Seus shows estão esgotando pelo país inteiro, como é ter sucesso tão jovem?
"Tenho 21 anos, estou aprendendo a lidar com tudo, mas tem sido muito bom. Eu sempre sonhei com isso desde novinha, dos meus 7 ou 8 anos. Eu sonhava em ser cantora e compositora e hoje poder viver disso é um grande presente que Deus me deu".
Você disse que está aprendendo a lidar, explique melhor.
"O maior desafio tem sido conciliar minha vida pessoal com a vida profissional. É […] tempo para ver os amigos, para ver a família, enfim. Tenho curtido menos e trabalhado mais, mas ao mesmo tempo estou vivendo o melhor momento da minha carreira, estou aproveitando o máximo que posso. Estou fazendo mais shows, descansando menos, porém, em prol da carreira, que é meu sonho".
Na sua idade as pessoas fazem vestibular, estágio. Sente falta disso? Pretende fazer no futuro?
"Quando eu terminei o ensino médio eu prestei o Enem e passei para alguns cursos, porém, nunca foi minha vontade. Eu indico estudo para todo mundo, mas não foi o que eu segui. Hoje eu estudo meu trabalho, faço aula de canto, sou acompanhada por fonoaudióloga, eu estudo composição, estou sempre ali procurando novas ideias, procurando significados das palavras, pesquisando como encaixar cada vez mais as palavras em seus lugares para fazer o que eu gosto, o que eu amo".
Então nunca está parada, certo?
"Para ter 21 anos e viver esse momento que estou agora eu abdiquei de muita coisa. Mais importante do que o estudo é trabalhar com o que você ama, não consigo me ver fazendo outra coisa. Eu também tenho outro grande sonho: além de ser cantora, quero ser empreendedora, mas por enquanto a única coisa que consegui investir é investir em imóveis".
Qual curso passou no Enem?
"Por incrível que pareça passei em psicologia. Quando terminei o ensino médio, eu pensei: 'Não vou fazer faculdade agora, vou passar dois anos me dedicando à música, se não der certo eu faço faculdade'. Porém, deu certo, aí não fiz o curso. Mas a minha nota dava para passar em psicologia e outros cursos que não me recordo agora".
Você vem do TikTok, o que pensa sobre as pessoas que menosprezam seu sucesso?
"Percebo que a gente tem vivido numa época que as pessoas deviam apoiar mais os sonhos dos próximo. Poxa, eu sou cearense e morro de orgulho quando vejo outro fazendo sucesso. Eu sou brasileira, não vou torcer pela Espanha na Copa do Mundo, vou pelo Brasil, quero muito que Neymar seja o grande craque e a gente leve o título. Eu vejo que a galera desincentiva, a galera fica: ‘Ah, não vai dar certo’. ao invés de incentivar. É um mal que existe nas pessoas que ainda não consegui entender. Ao mesmo, sempre levei as coisas para o lado positivo. Sempre pensei: ‘Deus não coloca o sonho para a pessoa se ela não for capaz de conquistar’".
"Sim, você vai ter que passar por muitas coisas, eu passei por situações, sabe? De tocar em barzinho de esquina e espetinho na rua. Lembro que o cara colocava as mesas de plástico na rua e eu ficava cantando enquanto ele assava os espetinhos. A intenção era chamar atenção da galera para que eles sentassem, consumissem a música e o espetinho, o povo não ía. Eu pensava em chamar meu tio para sentar lá e fazer presença. Apesar disso, aquilo me motivava a não desistir. Eu pensava: ‘Tudo no tempo de Deus. Se não aconteceu ainda é porque não estou preparada'. Hoje parece ser ótimo ser a Mari Fernandez, mas ela também tem dificuldades".
Você citou a falta de incentivo das pessoas, ainda tem amizade com pessoas que desistimularam você?
"Não sou uma pessoa de guardar rancor, já passei por situações que deveria ter guardado, mas não sou assim. Mas a real é: ninguém é obrigado a acreditar nos seus sonhos. Quem deve confiar e lutar pelos seus sonhos é você. Não guardo esse rancor, porém, eu nasci e me criei em Alto Santo, Ceará, ontem mesmo eu estava lá, na casa da minha mãe. Os meus amigos são os mesmos de antes. Não que eu não seja aberta a novas amizades. Porém, quando eu desço para minha cidade, as pessoas que eu aviso para me encontrar são as pessoas que me procuravam quando eu era apenas a Mariana. Eu lembro que antes de tudo, eu descia e poucas pessoas me procuravam. Hoje, quando eu vou, eu aviso para esse punhado de amigos, que sempre me procuraram pelo que sou, não pelo momento ou o que está acontecendo".
E quanto aos amigos, a carreira te afastou dos amigos mais antigos?
"Afasta apenas os que não são verdadeiros. Os amigos que conhecem sua essência conseguem compreender que você não mudou, que é uma questão de trabalho. Desde manhã meu tio está me ligando, mas eu não consigo atender. Expliquei a ele que estou muito ocupada hoje. Se minha família entende, porque meus amigos não vão entender, né? Meus amigos de Alto Santo, ao todo são cinco que conto nos dedos, a gente senta para conversar e a conexão é a mesma, é instantânea".
Você falou "a Mariana também tem dificuldades", além disso, cita muito Deus em suas falas. Isso tudo tem conexão?
"Sim, cresci num berço religioso. A minha família é mistura de evangélico com cristãos de outros vertentes, sempre tiveram princípios muito fortes com Deus. Graças a Deus me ensinaram isso. Com 7 ou 8 anos comecei a cantar na igreja e eu tenho uma história com Deus muito linda".
"Aos 18, quando eu vim para Fortaleza atrás do meu sonho, eu passei dois anos aqui em condições difíceis. Eu trabalhava na recepção de uma universidade até às 15h00 e depois eu ia compor até às 18h00 da noite. Na minha cabeça era mais fácil vencer na música como compositora do que cantora. Depois disso, eu tocava em alguns barzinhos e espetinhos, o que não era regular".
"Eu dormia pouco, trabalhava muito, mas sempre ali. Foi algo que eu passei com Deus… que entendi como mensagem para eu não parar. Na época, a minha avó tinha acabado de falecer, eu criei uma crise de ansiedade muito grande, era a pessoa que mais me apoiava, que eu amava. Quando ela se foi, eu fiquei pensando: e agora, o que será de mim?".
"Eu trabalhava todo dia e não via a evolução do meu trabalho. Chegou uma época que eu trabalhava e só tinha condições de pagar o aluguel. Pra não dizer que não tinha nada, eu tinha R$ 100 a R$ 150 para fazer uma feira, isso não é nada. Eu comia muito miojo, comia carne enlatada, salsicha, sardinha e arroz. Minha feira do mês era isso e não durava. Nessa época, eu me peguei fazendo tudo isso e passando por todas essas dificuldades, foi uma fase que meu psicológico ficou bastante abalado. Graças a Deus, Ele me fez forte nessa situação. Tenho histórias com Deus se eu contar o povo diz que não acredita".
Quais histórias são essas?
"Nessa mesma fase que eu trabalhava e nada acontecia. Eu questionava Deus porque nada acontecia. Lembro que teve uma época que fui para a recepção da faculdade. Eu acordei ruim, se me dessem um ‘bom dia’ eu chorava. Lá, todo mundo percebeu que eu não estava bem. Saindo de lá, por volta de 12h30, quando fui atravessar para o ponto de ônibus, olhei para os dois lados e não tinha nada. Quando olhei de novo para os dois lados, tinha um rapaz com um carrinho de sorvete na minha frente. Ele não estava ali antes disso".
"Ele disse: 'Eu ia atrevessar mais tarde, mas Deus disse que eu tinha que atrevessar agora'. Nesse momento eu comecei a chorar que nem uma criança. Eu lembro que por trabalhar na faculdade eu estava de blusa de manga longa. Ele começou a dizer coisas de mim que só quem me conhecia podia dizer. Ele falou que eu canto, falou da minha tatuagem, foi me deixando surpreendida, tudo que ele falava, me tocava. Aí ele disse: 'Deus mandou uma mensagem para você'. Ele me disse que Deus tinha me dado um dom e que eu só ia poder usar esse dom se eu usasse esse para Deus. Quando eu cheguei em casa, eu orei. Me senti tocada por Deus, aí tive vontade de pegar o violão e cantar um louvor. Fazia tempo que eu não cantava louvores. Comecei a cantar, foi quando eu me lembrei que comecei na igreja".
"Então, assim, eu canto… mas antes de cantar no palco, eu sempre louvo a Deus. As vezes eu não vou a igreja, mas estou sempre louvando em casa, no carro, no avião. Desde desse dia, eu entendi que enquanto eu não usasse meu dom para Deus, meu dom nunca seria meu, seria dele e só quando ele permitisse as coisas dariam certo. Dois meses depois minha vida mudou, eu recebi a proposta de entrar nesse projeto, o projeto Mari Fernandez, e foi onde tudo começou a acontecer. Gravei meu primeiro CD e já viralizou uma música e desde então Deus vem abençoado".
E quanto a relacionamentos? Está aberta para um romance? Como lida com rótulos?
"Não tenho tido tempo para isso, eu tenho viajado bastante e permaneço nas cidades apenas o período do show ou do evento. Além disso, ultimamente nem estou querendo namorar, nem beijar na boca para ser honesta. A galera da internet adora rotular, hoje eu não tenho nenhum relacionamento, mas todos meus namoros foram com homens, tive namorados, teve até um deles que viralizou no TikTok [Lucas]".
Quais seus próximos passos e ambições?
"Eu não gosto de chamar de ambição, chamo de sonho. Nesse momento que estou com DVD, eu penso em lançar um novo projeto, quero aproveitar o momento, enquanto a galera está consumindo muito, já estou escutando e gravando novas músicas. Quanto ao sonho, algo que almejo muito é cantar num estádio de futebol lotado. Hoje eu tenho uma label, 'Mari Sem Fim', um evento meu que vai até de manhã e pretendo levar ele para um estádio. Também tenho sonhos pessoais, como comprar uma casa e carros, já tenho um, mas quero outros".