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Danilo Gentili se diz vítima de censura e perseguição

Governo Bolsonaro determinou a retirada de 'Como se tornar o pior aluno da escola' de plataformas de streaming, como Netflix e YouTube

15 mar 2022 - 13h43
(atualizado às 16h24)
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O apresentador e humorista Danilo Gentili disse ao Estadão que considera estar sofrendo censura por parte do governo federal, após determinação do Ministério da Justiça para que o filme 'Como se tornar o pior aluno da escola' seja retirado das plataformas de streaming. Nesta terça-feira, 15, a Pasta instituiu multa diária de R$ 50 mil aos serviços que mantiverem a obra em seus catálogos. A decisão cita a Netflix, Globoplay, YouTube, Amazon Prime Video e Apple TV.  

Gentili é autor do livro homônimo que deu origem ao filme, lançado em 2017, e ajudou a escrever o roteiro da produção audiovisual, que chegou recentemente aos serviços de streaming. Segundo ele, a determinação do Ministério "soa como oportunismo, censura e perseguição". O humorista afirmou que o movimento nas redes contra a obra, impulsionado por políticos bolsonaristas, serve para "destratar desafetos que possuem opiniões independentes, fazer cortina de fumaça contra problemas reais e engajar a rede deles" em ano eleitoral.  

Filme de Danilo Gentili foi criticado por cena em que personagem assedia adolescentes. 
Filme de Danilo Gentili foi criticado por cena em que personagem assedia adolescentes.
Foto: Reprodução/Divulgação / Estadão

"Uma vez que o filme passou por todos os trâmites legais e classificatórios de todos os órgãos competentes, sem dúvida (parece censura)", disse o humorista. O livro foi lançado em 2009, com indicação para maiores de idade; já o longa, que estreou em 2017, recebeu classificação indicativa do Ministério da Justiça para espectadores acima de 14 anos.

O trecho que circula na internet mostra um personagem interpretado pelo ator Fábio Porchat tentando convencer dois adolescentes a fazer sexo com ele. No filme, uma comédia, os menores de idade fogem do homem após o convite, mas essa parte foi cortada do vídeo que está sendo compartilhado.

Após a repercussão da cena em questão, Gentili diz ter passado a receber mensagens hostis em seus perfis. "Muito cristão dizendo que Deus vai me amaldiçoar e muito cidadão de bem dizendo que vai me dar tiro", afirmou.

A indicação etária foi definida por uma comissão do próprio Ministério da Justiça, à época do lançamento nos cinemas, sustentando que a produção tinha um "contexto cômico e caricato", o que serviu de atenuante para a definição dos 14 anos como idade mínima adequada.

"Eu não entendo de classificação", disse o humorista. "Eu apenas fiz o filme e aceitei a classificação que deram. Durante todos esses anos, todos que viram o filme entenderam e nunca teve problema. Então (a classificação) me parece acertada."

Disponibilizado recentemente na Netflix, "Como se tornar o pior aluno da escola" ganhou destaque esta semana após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) compartilhar o mencionado trecho em seus perfis, acusando o longa de fazer "apologia à pedofilia".

Na segunda-feira, 14, o ministro Anderson Torres, da Justiça, disse que pediria "providências" contra a obra. O resultado veio expresso no Diário Oficial da União desta terça-feira, com a ordem para que as plataformas de streaming suspendam a exibição e retirem a obra de seus catálogos.

A cena editada também gerou críticas do secretário da Cultura, Mário Frias, da deputada Carla Zambelli (União Brasil-SP), entre outros políticos e autoridades do campo bolsonarista.

Estadão
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