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A voz do artista em xeque: Ed Motta, censura velada e a cultura do cancelamento no Brasil

Polêmica de Ed Motta levanta questão sobre artistas brasileiros entre a liberdade de expressão e as tempestades digitais

1 jul 2025 - 15h19
(atualizado às 16h25)
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No universo do entretenimento brasileiro, a liberdade de expressão artística é um direito fundamental, consagrado pela Constituição de 1988, que proíbe licença e censura. No entanto, a realidade do meio artístico, como denunciado por Ed Motta, frequentemente se choca com formas mais sutis de restrição: a "censura velada" e a poderosa ascensão da cultura do cancelamento.

Ed Motta
Ed Motta
Foto: Reprodução/Instagram / Márcia Piovesan

A polêmica envolvendo o cantor, que alegou não ser chamado para shows desde o final do ano passado por conta de suas opiniões, acende um alerta sobre os limites da manifestação artística e o impacto da opinião pública na carreira de figuras conhecidas.

Ed Motta não é um caso isolado. Historicamente, o Brasil tem um passado marcado pela repressão à arte, especialmente durante a Ditadura Militar, quando artistas como Caetano Veloso, Chico Buarque e Geraldo Vandré tiveram suas obras censuradas e foram exilados. Hoje, a ferramenta não é a do regime, mas a da massa digital. A cultura do cancelamento, que ganhou força com as redes sociais, opera como uma espécie de "tribunal popular", onde falas e ações de personalidades são julgadas e, em muitos casos, condenadas ao ostracismo.

Apesar de, em tese, a cultura do cancelamento surgir como uma forma de responsabilizar figuras públicas por posturas consideradas ofensivas ou equivocadas, ela tem gerado intensos debates sobre seus limites e o impacto real na vida e carreira das pessoas. Muitos argumentam que, ao invés de promover a conscientização e o diálogo, o "cancelamento" muitas vezes se transforma em um linchamento virtual, com consequências sérias para a saúde mental e financeira dos envolvidos. Casos de grande repercussão, como o da rapper Karol Conká após sua participação em um reality show, ilustram como a rejeição online pode levar a um afastamento prolongado das redes e do cenário público.

O dilema para os artistas é complexo. Expressar-se livremente, como é seu direito e muitas vezes parte de sua essência criativa, pode acarretar em uma onda de críticas e boicotes. A cantora Luísa Sonza, por exemplo, já denunciou que artistas e influenciadores que se posicionam politicamente podem sofrer boicotes de marcas.

Em 2018, seguidores de certas ideologias políticas divulgaram listas pedindo boicote a celebridades que se manifestavam contra suas pautas. Esse cenário cria um ambiente de cautela, onde o medo de "errar" ou "ofender" pode inibir o diálogo honesto e a troca de ideias, limitando a própria arte em sua capacidade de provocar e refletir sobre a sociedade.

A questão central, como sofrida pelo artista parece ter percebido ao afirmar que aprendeu a "calar a boca" para continuar trabalhando, é o equilíbrio entre a autenticidade artística e a adaptabilidade a um novo panorama de interação pública. Enquanto o "cancelamento" pode ter efeitos positivos ao destacar a importância da responsabilidade social e dar espaço para debates relevantes, seus impactos negativos, como julgamentos rápidos e a criação de uma cultura do medo, exigem uma reflexão aprofundada sobre como a sociedade e a mídia lidam com a voz do artista. A obra e o artista são a mesma coisa? Essa é uma pergunta que a era digital, com suas rápidas sentenças, nos obriga a revisitar constantemente.

Márcia Piovesan
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