Festival Literário do Museu Judaico terá Scholastique Mukasonga e Rutu Modan; veja programação
Quarta edição do evento em São Paulo começa nesta quinta, 9, e vai até o domingo, 12, com destaques nacionais e internacionais
A 4ª edição do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo (FliMUJ) começa nesta quinta-feira, 9, e segue até o domingo, 12, com participação de escritores brasileiros e estrangeiros que discutirão alguns dos temas mais relevantes da sociedade contemporânea.
Os debates são guiados pela pergunta "Emet: A verdade tem começo, meio e fim?" - em hebraico, a palavra "verdade" (emet, ???) é formada por letras que simbolizam o início, o meio e o fim do alfabeto. O tema é inspirado pela tradição judaica, já que os textos sagrados do Talmud e do Midrash dizem que a verdade é construída em coletivo.
Entre os destaques internacionais está a escritora franco-ruandesa Scholastique Mukasonga, vencedora do Prêmio Renaudot e sobrevivente do genocídio em Ruanda, que fará mesa no sábado, 11, com Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto, sobre o papel da literatura como testemunho e memória dos que se foram.
Antes disso, na sexta, 10, a premiada quadrinista israelense Rutu Modan se encontra com a cartunista brasileira Laerte Coutinho para discutir como cartuns, charges e histórias em quadrinhos são ferramentas potentes para criar narrativas, discutir o cotidiano e fazer críticas sociais.
A escritora e historiadora israelense Fania Oz-Salzberger participa da mesa de abertura nesta quinta, com mediação de Laura Capelhuchnik, e discute seu o livro Os judeus e as palavras, escrito com seu pai, o celebrado romancista Amós Oz. Outros destaque são Jennifer Teege, escritora alemã com ascendência nigeriana, e a socióloga franco-israelense Eva Illouz.
Programação completa
As descrições das mesas são da organização do evento
9 de outubro, quinta
- 19h - Mesa 1 | Abertura - Quem se importa com palavras?
- com Fania Oz-Salzberger
- mediação de Laura Capelhuchnik
"A continuidade judaica sempre se articulou em palavras", escrevem a historiadora israelense Fania Oz-Salzberger, e seu pai, o romancista Amós Oz, no livro Os judeus e as palavras. Para os autores, a linhagem judaica não é de sangue, mas de texto. É como se a longevidade e a singularidade do povo judeu dependessem do permanente debate entre gerações. E o que acontece quando o diálogo entra em crise? Quando ninguém mais parece disposto a ouvir? Quando palavras, de tão desgastadas, tornam-se clichês? E quando qualquer coisa que se diga - ou que se escreva - parece insuficiente para transformar a realidade? Na mesa de abertura do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo, Fania Oz-Salzberger reflete sobre identidade judaica, sociedade israelense, o potencial e o limite das palavras.
10 de outubro, sexta
- 15h - Mesa 2 | Como as democracias sobrevivem?
- com Alessandra Orofino e Leonardo Avritzer
- mediação de Thais Bilenky
A democracia encontra-se sob enorme pressão, seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel. Alguns autores, inclusive, têm alertado para o fato de que o Estado democrático de direito não é mais derrubado por rupturas violentas, revoluções ou golpes militares. O avanço do autoritarismo tende a ocorrer pelo enfraquecimento de instituições como o judiciário e a imprensa, e pela erosão das normas políticas. O que fazer, então, para frear esse processo? Nesta mesa, a economista, diretora e ativista Alessandra Orofino e o cientista político Leonardo Avritzer convidam a pensar sobre como garantir a vida dos regimes democráticos.
- 17h - Mesa 3 | Quem nunca?
- com Carol Rodrigues e Felipe Poroger
- mediação de Bianca Mantovani
Memórias de infância e juventude podem ser agradáveis ou embaraçosas. Afinal, essas fases da vida são repletas de incertezas, expectativas e desejos, normalmente acompanhados da sensação de desarranjo - no corpo, na família, no grupo de amigos. Como se não bastasse, o fato de se perceber mulher, ou judeu, acrescenta ingredientes peculiares à experiência do amadurecimento. Nesta mesa, dois autores da mesma geração, cujas obras, cheias de humor e ironia, constituem testemunhos de quem cresceu nos anos 90, conversam sobre o modo pelo qual a identidade torna-se matéria-prima para a escrita, mostrando que vivências pessoais raramente são individuais.
- 19h - Mesa 4 | Quer que eu desenhe?
- com Laerte Coutinho e Rutu Modan
- Mediação: Micheline Alves
Cartuns, charges e quadrinhos tornaram-se formatos consagrados para contar histórias e fazer críticas sociais. Talvez isso se deva à sua capacidade única de sintetizar mensagens, combinando imagem e palavra, e à presença do humor, que permite aos criadores dizer verdades muitas vezes impronunciáveis. Nesta mesa, duas expoentes da nona arte, a cartunista brasileira Laerte Coutinho e a quadrinista israelense Rutu Modan, conversam sobre ilustração, sátira e política - dentro e fora dos quadrinhos.
11 de outubro, sábado
- 11h - Mesa 5 | Escrever para fugir ou para voltar?
- com Julián Fuks e Tatiana Salem Levy
- mediação de Rita Palmeira
A violência das ditaduras militares latinoamericanas levou muitas famílias ao exílio, incluindo as de Julián Fuks e de Tatiana Salem Levy, que fizeram da experiência de deslocamento um tema para seus livros. Mas não só. Atravessados pela ascendência judaica e sensíveis a questões sociais urgentes, escrevem como quem confia na palavra para intervir no mundo. Nesta mesa, os premiados autores dialogam sobre memórias familiares, embates entre narrativa e silenciamento e a capacidade da literatura de se haver com a realidade.
- 15h - Mesa 6 | Nós lembramos?
- com Carlos Reiss e Scholastique Mukasonga
- mediação de João Torquato
Ao contrário do que se costuma pensar, o mal raramente é fruto da ação de pessoas inerentemente cruéis. O Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram mortos num período de poucos anos, e o genocídio de Ruanda, quando cerca de 800.000 tutsis foram assassinados em apenas três meses, mostraram que pessoas ordinárias, pais de família e trabalhadores podem repentinamente participar do extermínio de seus vizinhos. Nesta mesa, Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, e Scholastique Mukasonga, nascida em Ruanda e autora da livros sobre o genocídio em seu país natal, dialogam sobre a construção da memória, a importância do testemunho e os processos de responsabilização, reparação e cura após o horror.
Esta mesa é organizada no âmbito da Temporada França Brasil com apoio do Institut Français e da Embaixada da França.
- 17h - Mesa 7 | O ódio pode ser virtuoso?
- com Eva Illouz
- mediação de Fábio Zuker
As reações aos ataques de 7 de outubro de 2023 chamaram a atenção da socióloga Eva Illouz. Afinal, nos círculos progressistas, o dia seguinte não foi marcado apenas pela solidariedade às vítimas israelenses e inequívoca condenação ao Hamas. Em Nova York, Paris ou São Paulo, muitos celebraram os assassinatos como um ato de resistência. Nascida no Marrocos e radicada parte do ano na França, parte em Israel, a autora do livro "8 de outubro, genealogia de um ódio virtuoso" analisa os fatores intelectuais, políticos e psicológicos por trás do antissemitismo justificado com base em valores progressistas. Adversária do governo de Benjamin Netanyahu, Illouz defende que não precisamos escolher entre a condenação das ações de Israel na Faixa de Gaza e a luta contra o antissemitismo.
Esta mesa é organizada no âmbito da Temporada França Brasil com apoio do Institut Français é da Embaixada da França.
12 de outubro, domingo
- 11h - Mesa 8 | Acabou o amor?
- com Renato Noguera e Priscila Sztejnman
- mediação de Cris Bartis
O amor entrou em crise? Em meio a tantas possibilidades, o casal deixou de ser o ponto central numa relação? Como a transformação nos papéis sociais do homem e da mulher interfere na forma como nos apaixonamos? Matrimônio e maternidade ainda organizam os laços conjugais? Nesta mesa, a atriz, roteirista e escritora Priscila Sztejnman e o filósofo Renato Nogueira chamam a atenção para a importância de ampliarmos o repertório sobre o amor e dialogam sobre apaixonamento, desejo, sexo e as novas relações afetivas.
- 15h - Mesa 9 | E quando a verdade vem à tona?
- com André de Leones e Jennifer Teege
- mediação: de Gabriela Longman
Imagine ser uma mulher negra e, num belo dia, descobrir que seu avô foi Amon Göth, um dos mais conhecidos oficiais nazistas, retratado no filme A Lista de Schindler. É precisamente esse o caso de Jennifer Teege, escritora alemã de ascendência nigeriana que contou sobre a experiência no livro autobiográfico "Amon: Meu Avô Teria Me Executado". O brasileiro André de Leones, no romance "Meu passado nazista", também escreve sobre um avô nazista. Este, porém, habita o interior do Goiás, no centro-oeste brasileiro. Nesta mesa, os autores dialogam sobre como o extremismo costuma estar mais próximo do que pensamos, lembrando que ideias que julgávamos superadas podem reaparecer nos lugares mais improváveis.
Esta mesa tem o apoio do Goethe-Institut.
Serviço
- 4º FliMUJ | Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo
- Período: 9 a 12 de outubro de 2025
- Local: Museu Judaico de São Paulo
- Endereço: Rua Martinho Prado, 128 - São Paulo, SP
- Funcionamento: Terça a domingo, das 10h às 18h (última entrada às 17h30).
- Ingresso: Gratuito, necessita de retirada no site