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Emmy 2025 abraça o velho e o novo em noite caótica, mas com recado pertinente

Com grandes vitórias para 'The Pitt', 'O Estúdio' e 'Adolescência', Emmy 2025 faz o jogo da previsibilidade, mas com ressalvas

15 set 2025 - 13h46
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Se durante muitos anos o Emmy ficou marcado pelas repetições excessivas, com séries como Modern Family e Mad Men saindo vitoriosas por anos consecutivos e deixando poucas surpresas para a grande noite, é seguro dizer que a realidade agora é — minimamente — outra. Embora a grande parte das previsões para a edição deste ano tenha acertado os principais vencedores, a Academia de Artes e Ciências Televisivas conseguiu causar boas surpresas e encontrar o meio-termo entre abraçar as tradições e se abrir às novidades em uma noite que celebrou o velho e o novo sem sair muito do roteiro.

Não quer dizer que as grandes vencedoras da noite não estivessem dentro das previsões, mas o anúncio final de The Pitt como a melhor série de drama certamente arruinou alguns bolões por aí. Disputando de perto o principal prêmio da categoria dramática estava a segunda temporada de Ruptura, que não terminou mal (foram 8 Emmys contando a noite principal e as categorias técnicas na semana anterior). A escolha pela série médica certamente remonta aos tempos de ER (Plantão Médico), já que a atual é uma espécie de "sucessora espiritual" da clássica.

O significado desta vitória tem um gosto especial para amantes da TV. Em tempos de grandes séries que jogam pela janela o formato clássico da telinha, reconhecer um drama estruturado com episódios individuais que mantêm um arco serializado, e não uma série que parece mais um tenebroso filme de 10 horas, parece um recado da Academia (e também do público, considerando o sucesso da atração) sobre o que anda fazendo falta no streaming.

Mesmo assim, a verdade é que é uma vitória que ainda está dentro das estatísticas. As três grandes vencedoras, The Pitt, O Estúdio e Adolescência estão entre as que dominaram as apostas, as conversas e as redes sociais ao longo dos últimos meses, e passaram no teste do que faz uma grande vencedora do Emmy no século 21. Não basta ser uma produção tecnicamente boa. A repercussão e o poder de gerar conversas tornam-se tão importantes quanto a qualidade do produto final.

O reconhecimento de Dan Gilroy, de Andor, com o Emmy de melhor roteiro em série de drama, e o de Adam Randall, de Slow Horses, com o de melhor direção em série de drama adicionaram frescor à mistura, retirando um pouco da previsibilidade que torna a premiação cansativa. Já o prêmio de melhor ator coadjuvante em série de comédia para Jeff Hiller, por Alguém em Algum Lugar, foi um dos momentos inesperados mais deliciosos da noite. Se parecia um milagre apenas vê-lo indicado, a vitória configura um aceno, ainda que breve diante da dominação das outras atrações, a tudo de tão rico que anda escondido pelas plataformas de streaming. Basta tempo e paciência para procurar (e fica a dica: Alguém em Algum Lugar está na HBO Max).

Mesmo assim, ficou a cargo de Hannah Einbinder, de Hacks, um dos discursos mais honestos da noite, que terminou de forma politizada, com um xingamento direcionado ao Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (a ICE, em inglês) e um pedido pela libertação da Palestina. Já o jovem Owen Cooper, que aos 15 anos tornou-se o mais jovem melhor ator coadjuvante em série limitada, encantou com sua emoção e seu discurso improvisado, com uma mensagem bonita direcionada a jovens cheios de sonhos e com pouca esperança. É dessas energias sem ensaio que saem os melhores momentos de uma noite como esta.

Tentativas de agitar cerimônia 'sem política' frustram

Mas é claro que nem tudo pode ser sem ensaio. Encarregado da missão sabidamente árdua de conduzir a cerimônia de 3h, o comediante Nate Bargatze teve boas ideias e intenções, mas tudo isso se esgotou rapidamente.

O monólogo de abertura, substituído por uma esquete inspirada no Saturday Night Live, foi um ótimo início, com direito a piadas afiadas sobre a TV, sobre O Urso ser comédia e o excesso de true crime e anúncios nas plataformas de streaming. Retirou do apresentador a missão tradicional de fazer um posicionamento, mas ao menos foi criativo.

No entanto, cansou rápido a ideia usada para manter os discursos dos vencedores dentro do tempo — o de atrelá-lo a um valor que seria doado para uma instituição de caridade, que cresceria ou diminuiria conforme o tempo de cada discurso. A proposta não apenas pareceu uma piada cruel como deixou de surtir efeito antes do fim do primeiro bloco do programa. O saldo final da tal doação ficou negativo, e foi contornado com o anúncio de uma doação a ser feita em conjunto pelo apresentador e pela CBS. Teriam gastado menos tempo deixando os vencedores falarem em paz.

Pouco conhecido do público brasileiro, Bargatze fez uma apresentação competente mas insossa, engraçada em alguns pontos mas incapaz de contornar os momentos mais lentos da longa cerimônia. A falta de alfinetadas mais ácidas, já tão comuns ao Emmy, talvez tenha sido o problema. Com stand-ups lotados nos Estados Unidos, ele faz piadas amenas e mais voltadas para o público familiar, o que deixou o tom da noite bastante neutro de manifestações políticas e, por consequência, morno — o próprio Nate havia dito, em entrevista à Fox News, que não falaria sobre política.

O contraponto foi a simples presença de Stephen Colbert, ovacionado nas três vezes em que subiu ao palco. O influente apresentador, crítico ferrenho do presidente Donald Trump, foi recebido com entusiasmo no palco do Peacock Theater dois meses após o anúncio de que seu talk show na CBS sairá do ar em 2026. O fim de seu programa, um dos mais tradicionais da América, foi comemorado por Trump, e o comunicador não economizou no recado que tornou seu discurso inevitavelmente político ao receber um Emmy carregado de significados:

"Às vezes, você só sabe o quanto ama algo quando tem a sensação de que pode estar perdendo. Dez anos depois, em setembro de 2025, meus amigos, nunca amei meu país com tanto desespero. Deus abençoe a América. Mantenham-se fortes, sejam corajosos e, se o elevador tentar derrubá-los, enlouqueçam e deem um soco para um andar mais alto!"

Mesmo com uma cerimônia cansativa, houve bons momentos com as homenagens a algumas séries clássicas. Impossível não sorrir com Lauren Graham e Alexis Bledel falando sobre a falta de orçamento de Gilmore Girls ou com a homenagem às décadas de Law & Order.

Isso acontecer no ano em que as grandes vencedoras de melhor comédia e drama são primeiras temporadas (e a vencedora em melhor série limitada é de fato uma temporada única, e não uma antologia) cria uma interseção bonita e simbólica entre o velho e o novo. Mostra que a TV precisa reconhecer o valor do que veio antes para sobreviver no futuro. Resta ver o que os produtores farão com essa informação a partir dos próximos dias.

Estadão
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