'Pé na Cova' acerta com tipos bizarros e comédia equilibrada
Miguel Falabella sempre conduziu sua carreira de autor no humor. Mas, depois de marcar bem seu estilo transgressor nos textos de programas como Sai de Baixo e Toma Lá, Dá Cá, usa agora uma linguagem que chega a destoar da maioria de suas criações na televisão. O que, na verdade, é um grande feito. Mesmo tendo um estilo já bastante aproveitado pela Globo em sua linha de shows, Falabella consegue não se repetir no seriado Pé na Cova.
É cedo ainda para avaliar resultados, mas já se percebe que a mistura de tipos exagerados pode render bons momentos para o programa. E, ao contrário do que normalmente se vê nas produções assinadas por Miguel, não necessariamente no que diz respeito apenas ao humor. Se em muitas novelas a comédia serve de "respiro" para tanto drama, em "Pé na Cova" são as questões mais sofridas e densas que aliviam os excessos de tantos tipos bizarros juntos.
Ao analisar mais profundamente cada um dos personagens principais – especialmente os maduros –, vê-se de cara que todos têm algum drama em suas vidas. Ruço, papel do próprio Miguel, começa a perceber a finitude de seu tempo, já que chegou aos 50 anos. E Darlene, vivida por Marília Pêra, é completamente dependente do álcool e, apesar de "diplomada" em maquiagem, ganha a vida embelezando defuntos. Ou seja, há portas abertas para reflexões que podem agradar em cheio aos telespectadores. E de maneira mais leve que os outros programas que abordam temas pesados. Como a própria morte, pano de fundo do seriado, que tem grande parte de suas sequências rodadas em um cenário de funerária.
Mesmo assim, um detalhe merece certo cuidado: o exagero, por si só, já gera comédia. Com tipos tão carregados na bizarrice, o uso constante de tiradas de humor pode, com o passar do tempo, se tornar cansativo. Um ponto forte que Pé na Cova tem e, pelo menos até agora, vem sendo usado com êxito é a possibilidade de contar com participações especiais em todos os episódios. Como a experiente Laura Cardoso, por exemplo, que marcou presença no segundo. E Viétia Zangrandi, que interpretou Lurdinha, a filha do morto do capítulo de estreia. A atriz, aliás, deveria ser mais bem aproveitada pela tevê. Chamou a atenção mesmo em poucos minutos e dividindo cena com Miguel e Marília.
Quem também merece elogios é Luma Costa. Depois de ser deixada de lado em Fina Estampa, onde vivia a surfista Nanda, a jovem mostra que pode, sim, assumir papéis de destaque na emissora. Conseguiu construir uma "cyber stripper" que, mesmo desfilando de calcinha e sutiã pela sala de estar da casa, consegue fugir da vulgaridade. Sem contar que, verdade seja dita, a ausência de roupa da atriz em cena se torna um verdadeiro colírio em meio a tantos caixões, cadáveres e coroas de flores.