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Filme 'Luiz Gonzaga — Légua Tirana' é viagem cinematográfica pela essência do rei do baião

Com três protagonistas dando vida ao músico, cinebiografia, sem cansar, se demora na infância do homenageado para alcançar sua jornada

25 ago 2025 - 15h25
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"Virei cantor de rádio, mas não deixei de ser matuto". A frase que está no filme Luiz Gonzaga — Légua Tirana aponta que a decisão dos diretores Marcos Carvalho e Diogo Fontes em alongar o tempo em que focam na infância do Rei do Baião na cinebiografia que chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 21, é correta: foi no meio do sertão nordestino, na aridez da caatinga, que o sanfoneiro mais famoso do Brasil talhou sua música e seu caráter. Essa foi a jornada do menino.

Protagonizado pelo ator mirim Kayro Oliveira, nessa fase em que retrata a infância de Gonzagão (1912-1989), o filme passeia com pequeno Gonzaga que queria tocar sanfona com o pai, Januário (Erivaldo Oliveira), aquele respeitado sanfoneiro dos oito baixos, e aprender a ler. "Escola de pobre é a enxada", reclama a mãe do personagem, Santana (Eliana Figueiredo), ao dizer que o menino nascido em Exu, Pernambuco, tinha mesmo é que ajudá-la a vender corda na feira da cidade.

Impossível não lembrar do gosto e da alegria com que Gonzagão, anos mais tarde, cantava o forró ABC do Sertão, um de seus grandes sucessos, parceria com Zé Dantas. Do abecedário, que ele conheceu só mais tarde, tirou música - e das boas: o "jota é ji, o éle é lê, o ésse é si, mas o érre tem nome de rê". Deu aula sobre como se aprende no sertão.

Mas, justamente: se o menino Gonzaga não podia ir para a escola, ele era livre para abrir os braços, sentir e, principalmente, ouvir o vento batendo nas pedras e nas folhas pequeninas e cascas grossas de árvores como mandacaru, xique-xique, carnaúba, aroeira e angico. Havia som nisso. Inventou seu mundo, e jamais largou dele.

Com o pulo para a adolescência, quando o personagem passa a ser interpretado por Wellington Lugo, Gonzaga sai do seu quintal para conhecer a realidade da vida, da rejeição e dos amores. É o tempo que ele parte para o mundo, mesmo que ele seja apenas há algumas léguas de casa. É o suficiente para despertar o desejo de ir além. Tocou na zona, onde sentiu o Cheiro da Carolina, contraiu doença lá. A mãe ralha, o pai acha natural.

Na fase adulta, é Chambinho do Acordeon quem assume Gonzaga, repetindo o personagem que ele fez no filme Gonzaga: De Pai pra Filho, de Breno Silveira, lançado em 2012. É bom lembrar que um filme não se sobrepõe e nem contém o outro. Não há repetição ou uma nova visão sobre a mesma história. São visões diferentes sobre como a música de Gonzagão se fez.

É a voz grave de Chambinho, tal qual a de Gonzagão, que ecoa como narrador do longa. Ela dá peso à tal da Légua Tirana, uma das canções mais tristes do repertório do rei. "Varei mais de vinte serras/De alpercata e pé no chão/Mesmo assim, como inda' farta'/Pra chegar no meu rincão".

E a qual rincão Luiz Gonzaga — Légua Tirana chega? Ao de que Gonzagão estava fadado a ser como tantos meninos desse País, sem oportunidade de agarrar seu destino, confiar no sonho e seguir o som que o mundo lhe apontava.

Porém, há um final feliz, como todos sabem. Foi por isso que Gonzagão pôde cantar, cheio de saudade e orgulho, a Asa Branca: "Espero a chuva cair de novo/Pra mim voltar pro meu sertão". Sempre há felicidade quando se tem para onde voltar.

Estadão
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