"Fico surpreso quando vejo que não fui cortado", diz Steve Carell sobre filmes
Ele já foi o chefe que só dava bola fora no seriado The Office, o homem virgem de meia-idade em O virgem de 40 anos e um suicída em Pequena Miss Sunshine. Fez romances, muitas comédias e, antes disso tudo, trabalhou para os correios dos Estados Unidos. Em 2013, Steve Carell comemora uma década de reviravolta em sua carreira: foi interpretando um âncora de telejornal que não dava folga para o personagem de Jim Carrey (Todo Poderoso), há exatos dez anos, que tudo mudou. E ele pensava até que seu personagem iria ser cortado do filme.
Hoje seu nome é sinônimo de comédia, mas nem por isso deixa de ser chamado para dramas ou outros gêneros. Só neste ano devem chegar aos cinemas três filmes do ator: Foxcatcher , que contaa história dos irmãos Schultz, campeões olímpicos de Wrestling, O Âncora 2, sequência de O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy, e a animação Meu Malvado Favorito 2, no qual empresta a voz para o personagem principal na versão americana. Gru foi inclusive inspirado em Carell. O filme chega aos cinemas brasileiros nesta sexta (5).
Em Los Angeles, o ator conversou com exclusividade com o Terra, falou dos desafios e prazeres da animação, de sua década de famoso, suas influências e inspirações.
Terra – Como é fazer parte de um filme de animação?
Steve Carell -
A melhor parte é a liberdade que temos para criar, atuar e tentar qualquer coisa. O ator não precisa ser tão cuidadoso com movimentos, expressões, e a gente se diverte muito. Quando faço um filme ou um programa de TV, tenho uma noção de como vai ficar, mas com animação é diferente. É emocionante ir assistir a um filme de animação que você participou, porque você simplesmente não sabe o que esperar.
Terra – Os atores interagem entre si? Como acontecem as gravações dos diálogos?
Steve Carell -
Todas as falas foram gravadas separadamente. Só encontrei os outros atores depois que o filme ficou pronto. Mas é divertido, você está lendo, grava de diferentes maneiras, pois a gente realmente não sabe como vão querer editar, tento fazer os outros rirem. Fico vendo os técnicos na sala de controle, tento fazer coisas engraçadas e vejo a reação.
Terra - O seu personagem, Gru, transformou sua própria vida depois que virou pai. Isso aconteceu com você quando teve o primeiro filho?
Steve Carell -
Tudo mudou na minha vida depois que tive minha primeira filha. Sempre levei muito bem minha vida sendo um ator, mas depois que tive minha filha, parei de ficar pensando só no trabalho, mudei meu foco e parei de me sentir tão pressionado, o que ajudou muito como ator. Por consequência, comecei a me sair melhor nos testes e conseguir trabalhos melhores, comecei a ganhar os papeis que sempre sonhara.
Terra - Gru é ainda um vilão ou agora virou herói?
Steve Carell -
Ele é os dois. Sempre foi um vilão, mas também é um herói agora, virou pai, realmente um pai muito bom, que faz qualquer coisa pelas suas filhas. Agora ele foi recrutado pela Liga anti-vilão, pra brigar contra o mal e fica do lado do bem.
Terra - Como você achou a voz para ele?
Steve Carell - No primeiro filme, ficamos numa sessão de gravação tentando diferentes vozes, sotaques estranhos, e o que eu achei não se refere a nenhuma nacionalidade, acho que é vagamente do leste europeu, talvez um pouco da América Latina, acho que passeia ao redor do mundo. Acho que às vezes parece bobo e ao mesmo tempo excessivo. Meus filhos riem muito quando o faço, por isso acho que funciona com as crianças.
Terra - Você vê alguma semelhança com seu personagem?
Steve Carell - Nesse filme, a filha de Gru está entrando na adolescência e começa a se interessar por meninos. Minha filha tem 12 anos e me identifiquei muito com ele, fiquei pensando: 'que tipo de pai eu serei quando vou vê-la com o primeiro namorado, será que vou querer protegê-la demais, vou perguntar milhões de coisas quando ele bater na nossa porta?'. Não sei, me fez pensar...
Terra - Você lembra qual foi a primeira vez na vida que atuou?
Steve Carell - Foi na segunda série do ensino fundamental, nós estávamos fazendo uma peça sobre os peregrinos e os índios na época do descobrimento da América do Norte, e eu interpretei um índio que estava remando numa canoa em círculo. Lembro que me diverti muito e que foi uma das melhores experiências da escola.
Terra – E lembra ainda de qual foi o sentimento ao fazer o primeiro filme?
Steve Carell -
Lembro da primeira vez que fui ao cinema para ver um filme que tinha feito, foi em
Todo Poderoso. Eu me lembro de ir com a minha mulher e pensei que minhas cenas tinham sido todas cortadas. Fiquei preparando minha esposa para isso. Baixei muito minhas expectativas e foi um grande choque e uma ótima surpresa ver que tive nele uma grande projeção.
Terra - Depois de fazer mais de 30 filmes, mudou alguma coisa nessa sensação de ir ao cinema para assistir ao seu trabalho?
Steve Carell - É meio estranho, não gosto muito de me assistir. Não acho que a sensação tenha mudado muito, mas acho que fico menos surpreso quando vejo que não fui cortado.
Terra – Algum ator o influenciou na carreira?
Steve Carell - Alan Arkin teve uma grande influência. Eu acho que ele é maravilhoso e um grande amigo. Nem acredito que posso considerá-lo um grande amigo. Já trabalhamos três vezes juntos.
Terra – Tem saudade do The Office?
Steve Carell -
Não da rotina, que era muito puxada. Sinto falta das pessoas, é um grande grupo e todos são meus amigos. Acabaram de passar pela grande emoção que eu tive há dois anos, quando saí do seriado. Aliás, eu não contei antes que participaria do final porque não queria que ninguém soubesse.
Terra – Você virou um hit com seu personagem do The Office e as pessoas, quando ouvem alguém dando uma bola fora, falando algo assim, sem filtro, costumam usar seu nome: é o momento Michael. Como você se sente estando da casa e na boca das pessoas com seu personagem que ficou no ar nove anos?
Steve Carell -
Não penso muito sobre isso, nunca pensei que o seriado seria um sucesso tão grande. Foram 200 episódios, marcou a minha vida e a história da TV, me sinto muito orgulhoso.
Terra – De todas as dezenas de personagens que já interpretou, tem algum que você se identifica mais?
Steve
Carell –Com certeza o Michael Scott, até espero não parecer tanto com ele.
Terra – Então você também tem seus momentos Michael?
Steve Carell - Sim, sempre tenho...