Com Porchat, 'Vai Que Dá Certo' tem crise dos 30 e trapalhadas
A tão temida crise dos trinta não atinge apenas as mulheres. Pelo menos é isso que mostra o filme Vai Que Dá Certo, comédia que estreia nesta sexta-feira (22) nos cinemas brasileiros com atores globais e os fenômenos do canal cômico Porta dos Fundos, Fábio Porchat e Gregório Duvivier. "São grandes comediantes, é uma geração de grandes talentos", disse o diretor Mauricio Farias, durante o 4º Encontro do Cinema Nacional, realizado no início do mês em Jurerê Internacional (Florianópolis).
O longa-metragem conta a história de cinco amigos da época de colégio que se reencontram e lamentam suas frustrações, até que um deles surge com uma "solução milagrosa". Rodrigo, interpretado por Danton Mello, toca piano em um bar e, por após faltar algumas vezes no trabalho, é demitido. Consequentemente, perde a mulher (Georgiana Góes), que não aguenta mais sua imaturidade e o manda para fora de casa, e volta para a casa de sua mãe (Camila Amado).
Sem esperança de ganhar a vida como músico, ele procura o primo Danilo (Lúcio Mauro Filho), que certa vez lhe ofereceu emprego na transportadora de valores onde trabalha. O que parecia ser uma oportunidade de crescer profissionalmente, porém, se transforma em uma enrascada. Motorista de carro-forte, Danilo propõe ao pianista assaltar o veículo em uma de suas viagens e é aí que os amigos de Rodrigo entram em cena.
Amaral (Fábio Porchat) e Vaguinho (Gregório Duvivier) são herdeiros de uma lan house e locadora falidas e Tonico (Felipe Abib) é um professor particular de inglês que, segundo o próprio diretor do filme, "fala mal para caramba". Portanto, todos aceitam na hora a chance de embolsar uma bolada.
"Sair de casa, conquistar um espaço profissional, ter independência, é um processo demorado na vida de qualquer pessoa. Demora às vezes anos, às vezes as pessoas não conseguem, e algumas pessoas também não querem", afirmou Farias.
A comédia não se limita ao assalto que, obviamente, é frustrado. As típicas brincadeiras imaturas dos amigos de escola, no meio da rua ou no intervalo de uma partida de futebol, divertem por sua espontaneidade. "Acho que nenhum desses personagens é exagerado. Acho que eles existem mesmo", opinou Felipe Abib, cujo personagem debate com Vaguinho em uma das cenas: "quem come mais mulher: o Batman ou o James Bond?".
Na trama, o grupo ainda se envolve em uma dívida com o crime organizado e sofre ameaças de morte. Diante disso, a única solução viável que eles veem é roubar justamente um ex-colega de escola, o político Paulo (Bruno Mazzeo). Com a ajuda de Jaqueline (Natália Lage), por quem Amaral é apaixonado, os rapazes invadem a mansão de Paulo e, enquanto ela o distrai com insinuações no quarto, tentam pegar o dinheiro para quitar a dívida.
Questionado se teve preocupação com estereótipos, Farias disse que o alerta era constante e o personagem mais difícil foi de Bruno Mazzeo, um "político corrupto". "Dizem (que Paulo era corrupto)", defendeu-se o ator, arrancando risos do elenco. "O estereótipo é uma roubada, é muito imediato. Pode ser fácil de entender, mas dependendo do espaço que ocupar, as pessoas não acreditam", explicou o diretor.
Com atores conhecidos por papéis cômicos, como Lúcio Mauro Filho (da série A Grande Família), Bruno Mazzeo (dos filmes Cilada.com e E Aí...Comeu?) e Natália Lage (das séries A Grande Família e Tapas e Beijos), Vai Que Dá Certo marca a estreia de Danton Mello em uma comédia no cinema. "Eu venho fazendo o gênero no teatro em São Paulo. Fui aos poucos aprendendo, pois exige uma técnica. Nem acho que faço tanta comédia nesse filme. Pensei: 'não vou arriscar muito. Quero aprender, ver o resultado e melhorar cada vez mais'", disse.
Já Fábio Porchat, que se juntou à equipe apenas três meses antes das filmagens, não só atuou como também foi responsável por quase 80% dos diálogos e ainda escreveu o roteiro com Bernardo Guilherme, Marcelo Gonçalves e Farias.
"O Fábio é um cara muito inteligente. Já deu para sacar nos trabalhos de texto, de leitura, a criatividade dele, a inteligência dele em captar tudo o que surgia na mesa. Nas filmagens não teve muito improviso, mas durante as leituras sim. A gente criava coisa, opinava, dava sugestão. Daí ele observava tudo e voltava no dia seguinte com tudo escrito", afirmou Danton. "O Mauricio sempre deixa essa porta aberta, por isso só chama gente que confia. Mas a gente pouco improvisou. Esse é um sinal de que ele e o Porchat fizeram um roteiro bem amarradinho, que quando isso acontece não há essa necessidade de improvisar", declarou Lúcio Mauro Filho, para em seguida arrancar risos do elenco ao lembrar de seu pai, Lúcio Mauro, no set: "com meu pai a coisa é diferente...querer que ele siga um roteiro... já na primeira vez que ele entrou em cena veio com uma improvisação e ninguém sabia de nada. Daí todo mundo caiu na gargalhada".
A ideia do longa-metragem surgiu em 1995 (no entanto, foi filmado durante cinco semanas no segundo semestre de 2011), quando Mauricio Farias soube que o motorista, aparentemente honesto, de um conhecido havia sido preso por ter cometido um assalto. "Fiquei pensando: 'que tipo de situação leva uma pessoa a cometer um crime, colocando em risco a própria vida ou liberdade?'", indagou.
A partir disso, o diretor quis levantar a questão: até que ponto as pessoas são éticas? Seja por assaltar um carro-forte, como no filme, ou ultrapassar um semáforo vermelho na madrugada para não ser vítima de um assalto. Tudo sem perder o humor. "Não gosto muito de violência. Acho o Tarantino um gênio, mas me incomoda violência nos filmes", afirmou Farias.
E, se tudo der certo, o diretor admitiu que a trama pode ganhar uma sequência: "claro que, quando fizemos, pensamos que a história poderia continuar..."
*A repórter viajou a convite da Imagem Filmes.