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Como a wall of sound do errático Phil Spector mudou a vida de Brian Wilson

Membro mais criativo dos Beach Boys fez história como músico e produtor ao levar "parede de som" para outro patamar, influenciando os "rivais" Beatles

12 jun 2025 - 12h17
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Brian Wilson, dos Beach Boys, durante as gravações de Pet Sounds, em 1966
Brian Wilson, dos Beach Boys, durante as gravações de Pet Sounds, em 1966
Foto: Michael Ochs Archives / Getty Images / Rolling Stone Brasil

Um gênio da música nos deixou. Brian Wilson, multi-instrumentista, principal compositor e produtor dos Beach Boys, teve sua morte anunciada na última quarta-feira, 11. Ele tinha 82 anos e faria seu 83º aniversário no próximo dia 20.

Uma das grandes marcas de Wilson como artista estava em seu estilo de produção. E sua maior influência foi uma personalidade aclamada, mas ao mesmo tempo errática: Phil Spector, produtor que passou seus últimos anos de vida na cadeia em função do assassinato da atriz Lana Clarkson, em 2003.

Muito antes disso, na primeira metade da década de 1960, Phil Spector criou uma técnica de produção denominada Wall of Sound (Parede de Som, em tradução livre), responsável por mudar a vida de Brian Wilson. Consistia, basicamente, em explorar uma estética musical bastante densa, com muito reverb e camadas instrumentais.

A ideia era gerar um som interessante para as rádios e os jukeboxes daqueles tempos. Dava-se um caráter de "orquestra" para a música pop da época, deixando o som cheio, mesmo em aparelhos de menor qualidade.

Para chegar a essa ideia, Phil apostava em instrumentistas (especialmente rítmicos) vindos do rhythm & blues e combinação de instrumentos (cordas, percussão, sopros e até vozes humanas) para gerar o que de fato é uma parede de som. Some-se isso a um doses generosas de eco — e um bom gosto para, também, saber os momentos de reduzir a parede e até oferecer silêncio e nuances — e temos, aí, a fórmula pop dos anos 1960, levada para as décadas seguintes.

Phil Spector no início dos anos 1970 -
Phil Spector no início dos anos 1970 -
Foto: Michael Ochs Archives / Getty Images / Rolling Stone Brasil

Mais de meio século depois, pode parecer obsoleto. Na época, porém, isso não existia. "Combinar instrumentos" era considerado um erro técnico. Não se percebia que, na verdade, a união faz a força. O próprio Wilson explica, em entrevista do início dos anos 1980:

"Nos anos 40 e 50, os arranjos eram tipo: 'ok, ouçam aquela trompa' ou 'ouçam esta seção de cordas agora'. Tudo tinha um som definido. Não havia combinações de sons. Com o advento de Phil Spector, encontramos combinações de sons, o que — cientificamente falando — é um aspecto brilhante da produção sonora."

Brian ficou encantado com a técnica. Obstinado a produzir uma obra ainda mais grandiosa do que Rubber Soul (1965), dos Beatles, o líder criativo dos Beach Boys — já afastado das turnês devido a questões de saúde mental — absorveu a influência de Phil Spector e levou tudo a outro patamar.

A obra-prima de Brian Wilson

Nasceu, daí, Pet Sounds (1966), álbum mais aclamado dos Beach Boys — embora não tenha feito o sucesso almejado na época. Brian Wilson deixou de lado seus colegas de banda (que em maioria eram seus familiares) para envolver músicos de estúdio, vários deles da equipe do próprio Phil Spector, e aplicou muitas de suas técnicas.

Não era igual, obviamente. Wilson não se permitiria a apenas imitar Spector, que elevava todo o conceito de "wall of sound" ao máximo. O mais criativo dos Beach Boys recorria à combinação de instrumentos e outras táticas, mas sem abdicar da clareza sonora. Há camadas, mas você ouve cada instrumento de Pet Sounds com nitidez.

E haja instrumento. Brian fugiu do tradicional e agregou acordeão, flauta, trombone, teremim, bongô e até objetos não musicais. Tem barulho de garrafa de Coca-Cola, latido de cachorro e buzina de bicicleta em Pet Sounds. A ficha técnica do disco é imensa, não à toa tendo custado uma fortuna para ser feito: US$ 70 mil o equivalente a US$ 680 mil (quase R$ 4 milhões) em valores atuais.

Brian Wilson, dos Beach Boys, durante as gravações de Pet Sounds, em 1966 -
Brian Wilson, dos Beach Boys, durante as gravações de Pet Sounds, em 1966 -
Foto: Michael Ochs Archives / Getty Images / Rolling Stone Brasil

Legado

Há quem diga que Brian Wilson tenha se tornado um dos pouquíssimos profissionais da música que Phil Spector respeitava. Os dois se admiravam e Spector ficava lisonjeado por influenciar Wilson, embora reconheça que os Beach Boys levaram seus "ensinamentos" indiretos a outro patamar.

Mas não era apenas Phil quem admirava Brian. Todo produtor passou a cultuá-lo. A função de produção mudou sensivelmente após Pet Sounds: esse tipo de profissional de estúdio ganhou importância e começou a estar mais presente em todas as etapas da gravação. Wilson começou a fazer arte, também, direto da mesa de som.

Sabe quem acabou influenciado pelo mais criativo dos Beach Boys? Os Beatles, que haviam levado Brian a compor Pet Sounds. O próximo disco do grupo inglês, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), tem clara inspiração no trabalho do "rival".

Mais tarde, Paul McCartney admitiria que a real competição de sua banda era com os Beach Boys, que Wilson foi um dos dois baixistas que mais o influenciou (com o outro sendo James Jamerson) e que "God Only Knows", faixa de Pet Sounds, é a sua canção predileta de todos os tempos. O Fab Four chegou a trabalhar com Phil Spector no álbum Let It Be (1970) e alguns de seus integrantes também contaram com o produtor em discos solo. Se não pode vencê-los, junte-se a eles.

Beach Boys em 1967 (E-D): Carl Wilson, Al Jardine, Brian Wilson, Mike Love, Dennis Wilson -
Beach Boys em 1967 (E-D): Carl Wilson, Al Jardine, Brian Wilson, Mike Love, Dennis Wilson -
Foto: Michael Ochs Archives / Getty Images / Rolling Stone Brasil

Ainda mais ambicioso, o sucessor de Pet Sounds, Smile, acabou engavetado. Brian queria superar a si mesmo e a Sgt. Pepper's. Não precisava, mas um gigante da música como esse era motivo, também, pelo exagero. Com problemas de saúde mental e uso excessivo de drogas, Wilson nunca mais repetiria o que fez naquele disco de 1966. Também não precisava. Aquilo foi o suficiente para colocá-lo no rol dos maiores da história.

O fim de Phil Spector

Phil Spector, como Brian Wilson, era da turma dos excessos. Mas foi para um lado ainda mais errático, a ponto de ter cometido um crime terrível.

Em 2003, a atriz Lana Clarkson, conhecida pelo trabalho no filme The Barbarian Queen (1985), foi morta a tiros na mansão de Spector na Califórnia, Estados Unidos. O produtor alegou que ela havia cometido suicídio acidental, ao beijar uma arma. Porém, a investigação policial revelou que a artista, de 40 anos, foi assassinada pelo produtor.

Em função disso, a Justiça americana o condenou em 2009 a prisão perpétua, com possibilidade de pedir liberdade condicional após 19 anos. Desde então, ele permaneceu detido no sistema prisional da Califórnia. Morreu de covid-19 na cadeia, em 2021, aos 81 anos.

Na cadeia, indiretamente, Phil Spector também pagou pelo que fez com sua esposa, Ronnie Spector, cantora das Ronettes, grupo que ele havia gravado nos anos 1960. O produtor teve comportamento extremamente abusivo e agressivo com a artista. Ela foi proibida de se apresentar e até mesmo de sair de casa.

Foi necessário que Ronnie fugisse de casa em 1972 para dar fim a anos de abuso. Saiu descalça, com uma mão na frente e outra atrás. No acordo de divórcio, recebeu US$ 250 mil e um carro usado em troca de todos os direitos autorais de sua obra e das Ronettes, caso contrário, Phil contrataria um assassino de aluguel para acabar com ela.

Ronnie Spector faleceu em janeiro de 2022, aos 78 anos. Sua história será contada em breve numa cinebiografia, com Zendaya a interpretando.

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