Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Integrantes do Afoxé Filhos de Gandhy explicam origem e fama

31 jan 2013 - 15h29
(atualizado às 15h29)
Compartilhar
Exibir comentários

Algum lugar no mundo tem um grande Candomblé desfilando pela rua com quase 10 mil pessoas? Salvador tem. É o Afoxé Filhos de Gandhy, fundado por 33 estivadores em 18 de fevereiro de 1949. A fama da troca de colares por beijos durante o Carnaval cresceu, e parece ter ficado até maior que o foco da agremiação: ser um candomblé dessacralizado, que leva agogôs e atabaques e a honra dos orixás para o meio do povo, com um tempero da cultura de paz pregada por Mahatma Gandhi.

Sérgio Lima é um dos mais comprometidos da agremiação, e ele só não participa das atividades quando seu trabalho na Justiça do Trabalho não permite
Sérgio Lima é um dos mais comprometidos da agremiação, e ele só não participa das atividades quando seu trabalho na Justiça do Trabalho não permite
Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra

Lençol, toalha, alfazema, faixa, fita, sandália e flâmula. É isso que um novo associado dos Filhos de Gandhy recebe quando se junta ao grupo. O traje é feito com o lençol e a faixa, e enfeitado com a flâmula. A alfazema é borrifada em quem passa, muitas vezes, em "moças bonitas". Mas o mais curioso é que a fantasia não inclui sequer um dos famosos colares, embora eles estejam presentes em todos os participantes. "Essa é a minha parte de preparação. Não compro nenhum. Faço todos em casa, com o maior carinho", conta Diôgo Braz.

Braz, que tem 26 anos, alimentou o sonho de "ser fibra do tapete branco" desde os 6. Ele mora em Nazaré, interior baiano, e sempre assistiu ao Carnaval pela TV. Após 16 anos de sonho, em 2009 conseguiu um "padrinho". Um Filho de Gandhy tradicional que lhe permitiu se tornar um associado. Dali foram mais alguns anos de espera até a folia. "Foi difícil segurar a emoção de fazer parte do maior e mais lindo afoxé do mundo", se derreteu.

Diogo Braz não é do tempo onde, para integrar o tapete branco, era preciso indicação de um sócio antigo e até análise de antecedentes criminais. "Isso acabou com a Constituição de 1988 e o Código de Direito do Consumidor, assim como as fichas com foto para os blocos mais elitistas", explicou o "padrinho" do rapaz, Sérgio Lima. Um dos mais comprometidos da agremiação, ele só não participa das atividades quando seu trabalho na Justiça do Trabalho não permite. "Fora isso, estou sempre presente".

É ele quem explica ao longo do ano, os Filhos de Gandhy honram os orixás e quando a festa se aproxima, pedem a benção de cada um deles para que tudo corra em paz. Entre outros rituais, ocorre o sacrifício de uma cabra, que é o Ebó de Ogum, e o oferecimento do amalá – tipo de abará de milho branco – que é comida de Oxalá. Essas cerimônias de permissão acontecem na sede do bloco, e só participam o núcleo dirigente e alguns associados iniciados na seita.

O último momento sagrado acontece antes do desfile e serve para abrir os caminhos. O Padê, que homenageia Exú, o orixá guardião das ruas, é concretizado com o derramamento de farofa, pipoca e milho branco. Dali por diante, está aberto o caminho do tapete branco, que passa a temperar a cidade com seus agogôs e atabaques, sua pregação pacífica e o aroma adocicado da alfazema.

Apesar de toda a liturgia que o cerca, o Gandhy não conseguiu fugir da ditadura do Carnaval comercial e precisou abrir as suas portas para não deixar de existir. "Houve um tempo em que corremos até o risco de deixar de existir, de tão pequeno que o bloco ficou. Foi preciso abrir", explicou Sérgio Lima.

E foi nessa abertura que veio, a reboque, o grupo que se interessa por ser "um ponto branco no meio no Carnaval". Chamados por alguns de "gandhyotas", eles compram a fantasia – muitos sequer desfilam com o Gandhy – apenas com o intuito de fazer sucesso entre as mulheres no Carnaval. Segundo o diretor de eventos do afoxé, João Paulo dos Santos, 10% das fantasias vendidas vão para essas pessoas. Além disso, outros 10% ficam em camarotes e 20% ficam em algum ponto do circuito esperando o cortejo.

Santos explicou que o bloco evita dar atenção excessiva a essa distorção, para que o assunto não vire o centro dos comentários sobre a entidade. "Fazemos o possível, que é destacar no regulamento do associado que é proibido trocar colares por beijos, colocar os turbantes na cabeça de mulheres ou trazê-las para dentro do bloco", afirmou.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade