Compositor: "Vila Isabel mexe com o sofrimento da população"
Atual campeã do Carnaval carioca, a Vila Isabel chega ao desfile deste ano disposta a manter o título. O enredo Retratos de um Brasil plural, que fala um pouco dos costumes e da natureza de cada bioma do País, tem o que Evandro Bocão, compositor da escola, considera uma das marcas registradas da Vila: a possibilidade da população se identificar com o que vê na avenida.
“A Vila Isabel, com esses enredos, mexe um pouco com o sofrimento da população, com o sentimento das pessoas, elas se veem ali”, explica o compositor, ao lembrar o hábito da agremiação de optar por enredos envolvendo a cultura popular e o trabalhador.
Responsável por dar o grito de guerra da escola na avenida – só não vale perguntar o que ele fala, “a emoção é muito forte, não lembro” -, Bocão diz que é muito difícil colocar o Carnaval na rua e destaca a força da comunidade. “Hoje a Vila disputa o Carnaval. As alegorias são todas muito bonitas, mas não adiantaria nada sem a alegria, a comunidade por trás. O diferencial é o chão.”
Outro ponto forte é o capricho nas letras, que costumam incluir a comunidade, com citações ao bairro e a sua história. “O componente tem o samba que ele é obrigado a cantar e aquele que ele gosta de cantar”, diz. “A gente tenta colocar a comunidade dentro da música.”
No entanto, a vitória do ano passado não é vista como uma garantia. “A Vila é uma comunidade muito aguerrida. Tudo é difícil para Vila”, diz. Antes da atual boa fase a agremiação chegou a passar quatro anos no grupo de acesso, entre 2001 e 2004. “O meu coração é muito bom, se não já tinha ido”, diz Bocão, na torcida pelo bicampeonato.