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Milton Hatoum ganha espaço como porta-voz da Amazônia


Quinta, 02 de agosto de 2001, 23h15

O escritor Milton Hatoum conseguiu a proeza de colocar Manaus no mapa literário do Brasil. Explica-se: antes de seus livros, a capital do Amazonas tinha a imagem de uma cidade engolida pela floresta, onde caboclos deliciavam-se com frutas de nomes exóticos e índios nadavam nos rios junto a botos e iaras.

A literatura de Hatoum apresentou ao resto do país -- e ao mundo -- uma cidade mais real, que deixou no passado o jeito provinciano e hoje é uma metrópole com todas as qualidades e defeitos que esse substantivo traz na bagagem.

Embora tenha rascunhado centenas de histórias, Milton Hatoum publicou só dois livros em seus 52 anos: Relato de um Certo Oriente e Dois Irmãos.

O primeiro levou diversos prêmios, entre eles o Jabuti de melhor romance em 1989 e foi traduzido em diversas línguas. O segundo, indicado para o Jabuti deste ano, tem tudo para seguir o mesmo caminho. Os dois romances estão interligados.

Relato... fala de uma família de imigrantes libaneses recém-chegada a uma Manaus que ainda vivia das glórias de sua época áurea. O segundo discorre sobre a disputa entre dois irmãos gêmeos pelo carinho da mãe, uma imigrante libanesa autoritária e possessiva.

O cenário em ambos os livros -- e um dos protagonistas das histórias -- é a cidade de Manaus. Hatoum descreve os altos e baixos da capital amazônica, do início do século aos anos posteriores ao golpe de 64, relacionando a decadência das famílias ao declínio da metrópole.

Infância no paraíso

O segredo do sucesso de Hatoum deve-se ao fato de que ele escreve sobre o que conhece. Ele nasceu e cresceu em Manaus. Passou a infância nadando nos igarapés que cortam a cidade, comendo fruta no pé, brincando com os curumins filhos das índias da região.

Mas, filho de imigrantes libaneses muçulmanos -- seu pai tinha uma modesta loja de tecidos, também participava dos eventos da comunidade árabe, das festas regadas a quitutes delicados e dançarinas do ventre.

A adolescência ficou perdida em boates de Manaus, onde se apresentava com a banda de rock The Stepping Stones, batizada em homenagem ao grupo de rock inglês The Monkeys.

"Eu era um seresteiro", conta Hatoum, orgulhoso. "Cantava em qualquer lugar: clube, festa de amigo, coreto da praça...".

Essa boa vida, no entanto, estava com os dias contados. Aos 15 anos Hatoum resolveu que queria conhecer o mundo. Após anunciar a decisão à família, viajou para Brasília "porque, por incrível que pareça, era o lugar mais próximo a Manaus".

Preso na capital do País

A mudança, de uma cidade de 300 mil habitantes, isolada nos confins do país, para a recém-fundada capital do Brasil, e em pleno regime militar, foi traumática. "Eu comi o pão que o diabo amassou", lembra o escritor.

"Passei de uma boemia desatinada para a solidão de uma cidade desconhecida. Achava que todo mundo era delator".

Jovem e engajado, o aprendiz de escritor comparecia a comícios, participava de passeatas, distribuía folhetos. Acabou preso. Quando saiu da cadeia, pegou o primeiro avião para São Paulo. "Nunca mais voltei para Brasília. Jurei não colocar mais os pés naquela cidade", garante, quase 30 anos depois.

Em São Paulo, o tímido manauara entrou na USP, onde se formou em arquitetura em 1977. Nunca exerceu a profissão. Ao invés disso, foi parar nas redações de uma revista, onde batucava na máquina de escrever críticas literárias, crônicas e reportagens sobre diversos assuntos, como a primeira "missa" do papa da Igreja Universal, Edir Macedo.

Apesar de ter um futuro garantido como repórter de cultura, Milton largou o emprego e foi estudar na Europa.

Auto-exilado em Paris

Ficou quatro anos vagando por vários países, até se estabelecer no bairro boêmio do Marrais, na capital francesa. Foi ali, num apartamento minúsculo, que começou a escrever Relato de um Certo Oriente. Tinha 37 anos. O livro vendeu oito mil exemplares e virou enredo de escola de samba em Manaus.

"Foi um horror, era odalisca para todo lado", diverte-se o escritor, comentando a homenagem que ganhou da cidade natal.

Perfeccionista extremado, Milton Hatoum se assustou com as boas críticas que cercaram o lançamento de seu primeiro livro.

Resultado: ficou 11 anos sem escrever. "Dois Irmãos" saiu como um parto. "Escrevi sete versões da história até me dar por satisfeito", conta. Como já acontecera com o primeiro, o segundo romance de Hatoum também ganhou elogios de público e crítica.

E o principal: deu ao autor a certeza de que não vai demorar tanto tempo para escrever o próximo livro.

"Agora ficou mais fácil. Meu próximo romance se passa em Manaus e no Rio de Janeiro. É sobre um artista que é impedido de seguir carreira pelo pai", fala, enquanto enrola um cigarro de fumo Drum, hábito adquirido quando estudava literatura na Sorbonne.

Saudade do cheiro da floresta

Como aconteceu com seus romances anteriores, também este Milton vai escrever longe de Manaus. Desta vez, em São Paulo, onde vive há dois anos com sua mulher num amplo apartamento repleto de bricabraques amazônicos e árabes.

Sentado no meio da sala em uma cadeira de palhinha, o escritor de cabelos grisalhos e olhar calmo suspira ao falar da 'sua' Manaus.

"Sinto muito a falta do cheiro da floresta", explica. "Do cheiro da cidade, das frutas, dos peixes... E principalmente do Rio Negro. Não dá para pensar em Manaus sem pensar no Negro, que é um rio-mar, o caminho para toda uma vida".

Como a saudade é um potento combustível para a inspiração, os leitores podem esperar que esse rio desempenhe um importante papel no seu próximo romance.

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Reuters

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