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2ª temporada de The Last of Us termina com confusão e gancho falso

Escolhas questionáveis ​​para personagens e responsáveis pela adaptação levam este capítulo da série a um final de season insatisfatório

26 mai 2025 - 10h01
(atualizado em 3/6/2025 às 14h44)
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Ellie (Bella Ramsey) e Abby (Kaitlyn Dever), personagens de The Last of Us
Ellie (Bella Ramsey) e Abby (Kaitlyn Dever), personagens de The Last of Us
Foto: Fotos: Divulgação / Rolling Stone Brasil

De certa forma, chamar "Convergência" de final da segunda temporada de The Last of Us parece uma definição inadequada. Sim, é o último episódio que teremos em 2025 — ou possivelmente, segundo o co-criador Neil Druckmann, por mais de um ano. Mas não soa, de modo algum, como uma conclusão de qualquer coisa, exceto deste período no qual Ellie era a principal personagem do ponto de vista da série.

Há um gancho bobo, onde parece que Abby atirou e matou Ellie — um caso clássico do que roteiristas de TV chamam de "schmuckbait" (isca para trouxa), em que apenas alguém que não entende nada de narrativa ou televisão acreditaria no que aparentemente acabou de acontecer — e então a história volta no tempo para o dia em que Ellie e Dina chegaram a Seattle, mas agora estamos acompanhando Abby como integrante da WLF(*). A temporada não termina propriamente; ela simplesmente para, de maneira abrupta e um tanto confusa.

(*) Quando reencontramos Abby no estádio, ela está segurando um exemplar de Cidade de Ladrões, o romance de David Benioff, co-criador de Game of Thrones, sobre dois jovens russos que, durante a Segunda Guerra Mundial, são enviados atrás das linhas inimigas em uma missão inútil. Parece apropriado, mesmo que eles estivessem procurando ovos (a pedido de um oficial militar que queria um bolo para o casamento da filha) e não vingança.

Esse é o risco inerente de dividir o material de origem em vários filmes ou temporadas de TV. Quando dá certo, temos os dois filmes recentes de Duna, onde parecia que Denis Villeneuve precisava realmente de todo aquele tempo para abordar adequadamente o material importante do livro. Quando não dá, como no final da série original de filmes de Jogos Vorazes, pode parecer apenas uma exploração descarada, esticada até o ponto de agradar apenas aos fãs mais obstinados. (E nem sempre eles.)

Com apenas sete episódios, em comparação com os nove da primeira temporada, esta nova leva de The Last of Us não parece exatamente esticada, mas incompleta. Sim, dramas serializados são construídos para que as histórias transbordem de uma temporada para outra. Mas, geralmente, há uma sensação clara de arco de personagem e/ou narrativa em cada temporada — seja ele resolvido completamente dentro dela, ou chegue a um ponto de virada importante ao final. Não é o caso aqui.

São quatro episódios (descontados os capítulos de abertura e o flashback de Joel) de Ellie buscando vingança contra Abby, com várias pessoas sugerindo por que isso pode ser uma má ideia, tudo culminando em um bang literal e então na mudança de perspectiva. Parece que estamos recebendo apenas metade da história — porque é exatamente isso —, sem saber quanto tempo levará até que a outra metade chegue. É uma maneira profundamente insatisfatória de começar um hiato prolongado, independentemente dos problemas que já existissem antes.

Mesmo que se aceite que a série precisava contar essa história de vingança, não importa o quanto a química entre Bella Ramsey e Pedro Pascal tenha elevado esta série acima de ser apenas um The Walking Dead mais inteligente, a execução foi inconsistente — sustentada mais pela intensidade e magnetismo da atuação de Ramsey do que por qualquer coisa que tenham dado para Isabela Merced fazer.

Para começar, houve a maneira como a temporada enquadrou a decisão de Ellie e Dina de permanecerem em Seattle depois que não apenas descobriram que os Lobos eram muito maiores, mais organizados e perigosos do que haviam presumido, mas também souberam que Dina estava grávida. Se a série tivesse mostrado uma ou ambas como ambivalentes sobre a ideia de ser mãe — seja de forma geral ou especificamente neste mundo quebrado e assustador —, então a ideia de permanecerem ali faria mais sentido emocional. Seria uma forma de adiar a reflexão, ou até mesmo deixar o destino decidir por elas.

Mas, desde o momento em que Dina contou para Ellie, ficou claro que ambas estavam radiantes com a possibilidade. E, mesmo assim, recusaram-se a partir. Só no início do episódio final, depois que Dina se machuca — e depois que Ellie finalmente conta toda a história sobre o que Joel fez, porque Abby foi atrás dele, e que Ellie já sabia da maior parte disso — é que Dina finalmente age como alguém que se arrepende de ter vindo para cá e de ter colocado a si mesma e a gravidez em risco.

Depois disso — e também após uma longa e implausível explicação sobre como Jesse conseguiu rastrear Ellie e Dina em um ambiente urbano vasto que ele nunca tinha visitado antes — nossos heróis começam a planejar como cair fora dali e pegar Tommy no caminho de volta para casa. Jesse repreende bastante Ellie por ser egoísta. Talvez devêssemos estar do lado dela — afinal, ela é a protagonista, e ele é um cara que mal conhecemos(*) — mas nada do que ele diz soa injusto ou irrazoável. Em uma realidade como essa, quando Maria e companhia conseguiram construir um paraíso relativo como Jackson, a decisão de Ellie de partir nessa missão louca tem implicações que vão muito além do risco para si mesma e para Dina.

(*) Além do episódio de flashback iluminar o quanto a série perdeu ao matar Joel, ele também destaca o quão decepcionante foi o trabalho da temporada em estabelecer muitos dos novos personagens, como Jesse, e até mesmo Dina. Ela esteve presente a temporada toda, e ele apareceu em mais da metade dela. E, mesmo assim, nenhum dos dois parece tão bem desenvolvido nesse tempo quanto o pai de Joel e Gene foram em poucos minutos no episódio passado. Parte disso é mérito de atores mais experientes, como Tony Dalton e Joe Pantoliano, que conseguem fazer muito com pouco. Mas Young Mazino e Isabela Merced se saíram bem com o que receberam; só não lhes deram tanto material para explorar quanto aos seus colegas veteranos.

Quando o trio parte para encontrar Tommy, deparamo-nos com outro grande problema estrutural da temporada: sabemos ao mesmo tempo demais e de menos sobre os outros personagens de Seattle. Se Druckmann, Mazin e companhia tivessem decidido mostrar as coisas apenas conforme Ellie as descobrisse — vendo os Serafitas apenas quando as mulheres encontrassem seus rastros ou cadáveres, sem conhecer Isaac ou quaisquer Lobos que não cruzassem diretamente o caminho de Ellie e Dina — então isso pareceria desorientador de um jeito interessante. E faria sentido com o plano de mudar para a perspectiva de Abby por um tempo. Em vez disso, recebemos um contexto que os protagonistas desta temporada não tinham, mas não o bastante para realmente entender os conflitos entre Lobos e Serafitas, ou mesmo dentro das próprias facções da WLF.

Ellie ser capturada pelos Serafitas, e só ser poupada do esquartejamento porque todos precisam correr para lidar com um ataque das forças de Isaac, seria ainda mais angustiante se soubéssemos tão pouco quanto ela sobre quem são essas pessoas e por que estão fazendo isso com ela.

Enquanto passa novamente pela livraria, Ellie folheia um exemplar de The Monster at the End of This Book, um livro autoconsciente de Vila Sésamo em que Grover está apavorado com o monstro que encontrará na última página, e aliviado ao descobrir que o monstro é ele mesmo. The Last of Us já fez sua versão disso, quando Joel revelou ser o monstro no final da temporada. Aqui, parece que estamos a caminho de uma sequência. A caminho de resgatar Tommy, Ellie descobre onde Abby está escondida e, mais uma vez, escolhe a vingança em vez da família. Quando Ellie chega, Abby já partiu, mas ela consegue matar dois de seus companheiros — e fica horrorizada ao perceber que um deles estava muito grávida. Ellie tenta fazer o parto, seguindo as instruções da mãe moribunda, mas isso não é The Pitt (nem Estação Onze, outro drama pós-apocalíptico da Max que teve um episódio memorável centrado em um parto). Ellie não tem ideia do que está fazendo e falha na tarefa improvisada. Ela se tornou exatamente aquilo que veio a Seattle para punir — e começa a perceber isso.

Talvez, se não fosse pelo gancho flagrantemente falso, isso já seria um arco de personagem suficiente para o ano. Mas o tiroteio é irritante, e a mudança de perspectiva não foi executada com a elegância necessária, encerrando uma temporada irregular em uma nota bem ruim.

Kaitlyn Dever é uma atriz de nível mundial, e talvez colocar Abby no centro da narrativa dê finalmente a essa trama de vingança a clareza emocional que ela lutou para alcançar até aqui. Mas, funcione ou não, isso ainda vai demorar. E ficamos com este final para refletir até lá.

+++LEIA MAIS: The Last of Us, série de sucesso da HBO, vai ter 3ª temporada?

Rolling Stone Brasil Rolling Stone Brasil
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