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Capoeira estimula senso crítico e leva alunos a títulos no CE

Professor de educação física cria iniciativa para transformar realidades de estudantes periféricos

6 jun 2022 - 18h56
(atualizado às 19h18)
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Há 20 anos, o professor de educação física Andreyson Calixto de Brito, 41, mais conhecido como Berimbau, uniu a educação ao esporte e iniciou o projeto Capoeira e Educação, para dar aulas gratuitas de capoeira em escolas das periferias cearenses. O programa que atualmente acontece nos bairros de Rodolfo Teófilo e João XXIII, em Fortaleza, e no IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará), do Canindé, já levou alunos aos pódios de torneios do Nordeste.

"Minha motivação para iniciar o trabalho social, além de difundir a capoeira como um legado cultural afro-brasileiro, foi também através dela modificar e conduzir melhor a vida dos adolescentes que participavam das atividades", conta o professor.

Neste ano, um grupo de alunos do projeto participou do IX Jogos do Nordeste de Capoeira, em Aracaju, entre os dias 13 e 15 de maio. A competição, promovida pela Abadá (Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte-Capoeira), é um evento aberto a todos os capoeiristas da região. Cada edição acontece em um estado diferente.

 

O professor Berimbau conta que apesar de ter levado uma equipe pequena, com cinco participantes, por conta das condições financeiras, o projeto trouxe alguns prêmios. Como foi o caso da aluna Wendy Kauanne, a Jandaia, 18, que foi vice-campeã na categoria E (laranja e azul), e ganhou ainda os prêmios de melhor corda laranja e melhor jogo de benguela.

"Pretendo continuar na capoeira até quando a vida permitir. Ganhar competições e dar orgulho para meu professor/mestre e meus amigos. Meu sonho é dar uma condição de vida melhor para minha família", diz Wendy.

Além da capoeirista, outros três integrantes da equipe e o professor foram premiados. Berimbau levou os prêmios de melhor corda marrom e vermelha, melhor jogo de siriuna e o terceiro lugar na categoria A (marrom e marrom/vermelha). Para o professor, participar das competições é importante, mas não é o principal foco do Capoeira e Educação.

"O maior propósito do projeto é modificar a vida de muitos desses adolescentes, dessas crianças e adultos. Trabalhar o conceito de cidadania, de despertar o senso crítico e discutir temas importantes da sociedade", diz Berimbau.

"É sobre formação. Às vezes fico mais feliz quando vejo um deles entrar em uma faculdade, conseguir um emprego, que ganhar uma competição"

O mestre cresceu em bairros das periferias da capital cearense, onde sempre se envolveu em projetos sociais voltados ao esporte. Foi em um deles que conheceu a capoeira e resolveu se especializar e a dedicar a sua vida.

Para o professor, a capoeira não pode se desassociar da educação e faz dela um fio condutor para discussões importantes. "É onde a gente trata de diversos temas possíveis dentro das comunidades, inclusive discutindo a realidade. Ela possibilita a busca por seus direitos, pelos seus sonhos, além de fazermos a valorização da cultura negra".

Alunos do Capoeira e Educação em atividade @Arquivo pessoal
Alunos do Capoeira e Educação em atividade @Arquivo pessoal
Foto: Agência Mural

O aluno Leonardo Denipoti, 24, conta que está no projeto há mais de quatro anos, quando começou nas atividades de extensão do IFCE. "Estava à procura de uma atividade física e fui me experimentar na capoeira. Aí me apaixonei e tenho praticado desde 2018", relembra.

O jovem ressalta a importância da modalidade nos espaços periféricos: "Acho muito massa a proposta das aulas de capoeira principalmente sendo na comunidade que é um espaço negligenciado pelas instituições".

 

Para a estudante Wendy, a capoeira mudou principalmente seu conhecimento sobre a cultura do nosso país e que poucos conhecem.

Sobre o professor Berimbau, a capoeirista elogia: "Ele é mais do que um professor para mim. Ele é meu pai da capoeira e da vida. O admiro muito, por conseguir ser pai, amigo, irmão, filho, esposo, coordenador, aluno e que mesmo nas dificuldades da pandemia, ele não desistiu do projeto Capoeira e Educação".

Atualmente, os encontros do projeto acontecem no IFCE, às terças e quintas, às 16h; no bairro Rodolfo Teófilo, ocorrem às segundas e quartas, às 19h, no colégio Antônio Sales; e na praça Governador César Cals são no bairro João XXIII, às terças e quintas, a partir das 20h, com uma roda mensal na última sexta-feira do mês, às 19h. Para mais informações acesse a página no Instagram: @capoeira_e_educacao

Por Karizia Marques, de Parangaba, Fortaleza

Foto: Agência Mural

Essa reportagem foi produzida por um dos estudantes universitários do Ceará participantes do "Acontece nas Escolas", programa de bolsas de jornalismo da Agência Mural em parceria com o Instituto Unibanco. A iniciativa faz parte do Clube Mural, nossa área de treinamento e laboratório de prática e experimentos em jornalismo local e das periferias.

Agência Mural
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