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Há histórias de amores modernos mal resolvidos como Romeo e Julieta e de mulheres adúlteras como a personagem Anna Karenina ou Madame Bovary que causam comoção no público e povoam o imaginário de várias feministas.
Wong Kar-wai, que se tornou o queridinho das casas de filmes de arte e da crítica especializada, principalmente depois de obras como Happy Together (Felizes Juntos), uma odisséia homossexual romântica e pessimista envolta em uma bela fotografia, consegue repetir a façanha de filmar belos contos de fadas modernos e realistas.
Não se trata de milagre. Com uma câmara que carrega na poesia através do uso de técnicas como o "slow-motion" e a música - quase um bolero - como pano de fundo, Wong Kar-wai prefere sugerir do que mostrar, optando por criar uma atmosfera de expectativa, repressão e solidão. São esses recursos que tornam o filme tão interessante. Nunca sabemos ao certo se o jornalista Chow, vizinho da bela jovem Li-chun em um apartamento em Hong Kong nos anos 60, se envolve sexualmente com Li-chun, que também é casada, assim como Chow. Ambos acabam se aproximando e tornando-se grandes amigos, na suspeita de que os respectivos cônjuges estão tendo um caso. O clima cinematográfico que Wong Kar-wai cria sugere apenas uma grande paixão existente que é reprimida principalmente por Li-chun, que apesar de saber das peripécias do marido, é rápida em aceitar o conselho da vizinha idosa de "ficar mais em casa".
Chegamos quase a imaginar como seria este outro casal, e não há como fugir de traçar um paralelo entre os dois e perceber a diferença entre um amor profundo e sufocado e um relacionamento ocasional, possivelmente passageiro, mas certamente mais libertário. Isso parece ser a tônica do discurso de amor professado por Wong Kar-wai, seja através dos diálogos entre Chow e Li-chun, ou nas belas cenas que ressaltam a graciosidade de Li-chun e a sua tristeza quando esta vai comprar macarrão e é observada por Chow.
Pode-se estranhar que um diretor que se destacou primeiramente fazendo comédia tenha se dado tão bem em retratar desencontros amorosos modernos sem cair na tentação fácil da apelação. Mas é sem dúvida na criação desta nova linguagem que a obra de Wong Kar-wai se torna tão obrigatória para o cinema contemporâneo, com Amor À Flor da Pele entrando necessariamente na fila dos belos contos românticos cinematográficos de todos os tempos.(Redação Terra)
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Título
Original: In the Mood for Love |
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