Ouvimos músicas tristes para nos conectarmos a mais gente, diz estudo
O paradoxo da música triste afirma que geralmente não gostamos de ficar tristes na vida real, mas gostamos da arte que nos faz sentir assim
Diversos estudos analisam a relação dos sentimentos com as músicas tristes. Alguns deles sugerem que ouvimos canções melancólicas para expressar luto e negativos como raiva, terror e desespero;. Às vezes tristeza suave, saudade ou autopiedade.
Outros estudos, no entanto, sugerem que a música pode ter uma função social — a de conectar pessoas. Alguns psicólogos examinaram como certos aspectos das canções — modo, andamento, ritmo, timbre — se relacionam com as emoções que os ouvintes sentem.
Para avaliar a hipótese, Tara Venkatesan, uma cientista cognitiva e soprano operística, e George Newman, psicólogo da Rotman School of Management (Canadá), montaram um experimento em duas partes em 2021.
- Na primeira parte, eles deram uma das quatro descrições de músicas para mais de 400 participantes. Uma descrição era de uma canção que “transmite emoções profundas e complexas”, mas também era “tecnicamente muito falha”;
- Outro descreveu uma música “tecnicamente perfeita” que “não transmite emoções profundas ou complexas”;
- A terceira música foi descrita como profundamente emocional e tecnicamente perfeita, e a quarta como tecnicamente falha e sem emoção;
- Os sujeitos foram solicitados a indicar, em uma escala de sete pontos, se seu som “incorpora tudo o que é música”;
- A ideia era esclarecer a importância da expressão emocional em geral — de alegria, tristeza, ódio ou o que quer que seja — para a canção em um nível intuitivo.
A pesquisa mostrou que os participantes relataram que as canções profundamente emocionais, mas tecnicamente imperfeitas, refletiam melhor a essência da música; a expressão emocional era, portanto, um valor mais saliente do que a proficiência técnica.
Segunda parte
A segunda parte do estudo envolveu 450 indivíduos e cada um deles tinham 72 descrições de canções emocionais, que expressavam sentimentos como “desprezo”, “narcisismo”, “inspiração” e “luxúria”.
Como forma de comparação, pesquisadores também deram aos participantes instruções que descreviam uma interação conversacional na qual alguém expressava seus sentimentos conectados uns aos outros em conversa: amor, alegria, solidão, tristeza, êxtase, calma.
Por exemplo: “Um conhecido está falando com você sobre a semana dele e expressa sentimentos de melancolia”.
- Segundo Mario Attie-Picker, filósofo da Universidade Loyola de Chicago (EUA), que ajudou a liderar a pesquisa, propôs uma ideia simples para os resultados: talvez ouçamos música não por uma reação emocional;
- Muitos entrevistados relataram que a canção triste, embora artística, não era particularmente agradável, mas pela sensação de conexão com os outros;
- Aplicado ao paradoxo do som triste, nosso amor pela música não é uma apreciação direta da tristeza, é uma apreciação da conexão.