Fósseis encontrados na Austrália revelam três novas espécies de mamíferos que põem ovos
Fósseis de monotremados que estavam no Museu Australiano são classificados corretamente e revelam três novas espécies de mamíferos
Uma descoberta paleontológica foi feita no Museu Australiano em Sydney: nove fragmentos de mandíbulas fossilizadas que podem ser os primeiros sinais da era perdida dos monotremados. Após um estudo, os fósseis foram classificados, tendo três novas espécies e uma família totalmente nova de mamíferos descritas.
Dentro de um cofre antigo no Museu Australiano em Sydney, uma descoberta paleontológica estava guardada: nove fragmentos de mandíbulas fossilizadas. Segundo o paleontólogo Tim Flannery, esses fósseis podem representar os primeiros sinais de uma era perdida dos monotremados, uma ordem de mamíferos que põem ovos.
Atualmente, os monotremados foram totalmente substituídos por marsupiais e mamíferos placentários. Somente ornitorrincos e equidnas continuam a existir, restritos à Austrália e à Nova Guiné.
De acordo com o estudo conduzido por Flannery e sua equipe, publicado no último domingo (26), na Alcheringa: An Australasian Journal of Palaeontology, os fósseis foram coletados na cidade Lightning Ridge, em Nova Gales do Sul, um estado australiano.
Parte da coleção do Museu Australiano por décadas, eles foram recentemente classificados e estudados por especialistas.
Detalhes
Segundo a pesquisa, os nove fósseis de 100 milhões de anos são todos monotremados. Além disso, há três novas espécies e uma família totalmente nova de mamíferos que põem ovos, coexistindo com os dinossauros.
Com a descoberta, o número de espécies de monotremados conhecidas em Lightning Ridge duplica, indo de três para seis. Um dos fósseis, o Steropodon, coletado por um minerador de opalas na década de 1980, foi considerado tão valioso que o Museu Australiano o adquiriu por AUS$ 80 mil (R$ 275,7 mil, na cotação atual).
Feitos de opala sólida, esses fósseis são formações únicas, resultantes da sílica dissolvida em água que preencheu cavidades nas rochas após a decomposição dos ossos.
Processo evolutivo
Durante o Período Cretáceo, há 100 milhões de anos, a Austrália estava integrada ao supercontinente de Gondwana. Cientistas acreditam que Lightning Ridge provavelmente estava coberta por densas florestas tropicais e pântanos.
Embora as opalas encontradas na cidade tenham proporcionado uma rica fonte de fósseis de dinossauros, répteis e peixes, nenhum mamífero além dos monotremados foi descoberto na região.
Um mistério sobre a evolução dos monotremados é o momento exato em que ornitorrincos e equidnas divergiram de um ancestral comum. A evidência genética sugere que esse evento ocorreu aproximadamente há 50 milhões de anos.
Uma das espécies recém-identificadas, Opalios splendens, apresenta características que a aproximam tanto dos equidnas quanto dos ornitorrincos. Por conta disso, recebeu o apelido "equidnapus". Esta nova espécie foi classificada em uma família recém-criada denominada Opalionidae.
O equidnapus apresenta uma combinação de características anatômicas que o aproximam tanto dos equidnas quanto dos ornitorrincos.
Enquanto os ornitorrincos utilizam seus bicos para detectar campos elétricos e localizar presas debaixo d'água, o equidnapus compartilha dessa habilidade, possuindo canais na mandíbula semelhantes aos dos ornitorrincos.
Porém, o equidnapus se diferencia com um bico estreito e uma articulação da mandíbula longa, características que o aproximam mais dos equidnas.
Mesmo com as semelhanças, Flannery disse, em entrevista ao NewScientist, que é impossível saber o equidnapus foi um ancestral direto dos monotremados vivos, já que viveu muito antes de evidências genéticas sugerirem que os dois grupos se separaram.