PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Copa do Mundo: como o físico dos jogadores evoluiu ao longo das décadas?

Hoje em dia, os integrantes de uma equipe de futebol são muito mais exigidos em campo e precisam ter um preparo físico invejável para competir com os adversários. Entenda o que mudou no corpo desses atletas para revolucionar a forma como o esporte é praticado.

23 nov 2022 - 05h54
Compartilhar
Exibir comentários
Exigências físicas e táticas do futebol moderno demandaram que jogadores se transformassem em atletas de ponta
Exigências físicas e táticas do futebol moderno demandaram que jogadores se transformassem em atletas de ponta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em dezembro de 2019, Cristiano Ronaldo protagonizou um lance que entrou para a história.

Numa bola cruzada durante a partida entre Juventus e Sampdoria pelo Campeonato Italiano, ele saltou 71 centímetros e alcançou 2,56 metros de altura para cabecear a bola e fazer um gol decisivo.

O atacante português talvez seja um dos principais exemplos de como o futebol mudou: atualmente, esse esporte demanda um preparo físico e uma força muscular muito superiores ao que era exigido há poucas décadas.

"Quem pratica futebol profissional hoje não é apenas jogador. Precisa ser um atleta de ponta", compara o fisiologista Orlando Laitano, professor da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos.

"A capacidade de correr, de saltar e de fazer movimentos com o corpo se aproxima cada vez mais de atletas olímpicos que treinam especificamente uma dessas habilidades em específico", acredita.

Mas o que aconteceu para o esporte mudar tanto em poucas décadas? Por trás dessa verdadeira revolução, está o avanço no conhecimento de fisiologia e preparo físico.

Quase uma nova modalidade

O médico Paulo Zogaib, atual coordenador da medicina esportiva do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, lembra como os jogadores de antigamente tinham tempo para pensar o que fariam com a bola.

"Se você assistir uma partida dos anos 1970, vai conferir que meio campistas como o Gérson recebiam a bola, pensavam, ficavam com ela nos pés por vários minutos até que algum adversário se aproximasse", descreve.

Hoje em dia, cada centímetro do gramado é disputado e ocupado pelos 22 atletas que estão ali.

"Antigamente, o zagueiro só passava do meio de campo em raríssimas ocasiões. O lateral praticamente não ia para o ataque. E o centroavante pouco saía da área adversária", informa o especialista, que também é professor aposentado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e trabalhou no Palmeiras por 25 anos.

"Atualmente, os zagueiros iniciam a armação de jogadas, os laterais precisam ir da defesa ao ataque o tempo todo, os centroavantes são responsáveis por iniciar a marcação…", lista.

O fisiologista do exercício Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), destaca que até os goleiros modernos participam mais da dinâmica de jogo.

"Em tese, o goleiro era quem se movimentava menos. Mas as equipes de hoje exigem que eles saiam da área e joguem com os pés", acrescenta.

Por trás de tudo isso, está a competitividade e a necessidade de impor o estilo de jogo e a força física sobre o adversário.

"Essa é uma daquelas clássicas perguntas do ovo e da galinha. O que veio primeiro: os jogadores viraram atletas e o esporte ficou mais intenso? Ou a intensidade das partidas exigiu que os jogadores aprimorassem cada vez mais a parte física?", questiona Laitano.

Em lance histórico, Cristiano Ronaldo saltou impressionantes 2,56 metros para fazer um gol decisivo em 2019
Em lance histórico, Cristiano Ronaldo saltou impressionantes 2,56 metros para fazer um gol decisivo em 2019
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Do ponto de vista das partidas, essa mudança nas últimas décadas ajudou a igualar e a aumentar a competitividade, acreditam os especialistas.

"Historicamente, os brasileiros sempre tiveram uma vantagem técnica sobre os adversários, o que tornava a nossa seleção praticamente imbatível", analisa Laitano.

"Porém, com o passar do tempo, os adversários foram diminuindo essa diferença ao evoluir na parte física e na capacidade de marcação", complementa.

Isso fez com que os especialistas que cuidam dos atletas do país precisassem se adaptar e exigir não apenas habilidade e criatividade, mas também um nível de preparo físico muito maior.

Como isso se resume em campo

A distância percorrida pelos jogadores durante uma partida é uma boa medida para entender a diferença entre o passado e o presente.

Um trabalho publicado em 2015 por um time da Escola Universitária de Educação Física de Poznan, na Polônia, calcula que nos anos 1960 e 1970 um jogador percorria entre 4 e 5 km durante os 90 minutos em campo.

Esse número triplicou de lá para cá. A partir dos anos 2000, um atleta do futebol chega a correr 12 km — e alguns ultrapassam os 15 km.

"Para alcançar isso, é preciso muito treinamento com o objetivo de aumentar a capacidade cardiorrespiratória", diz Laitano.

Outra diferença notável está na constituição do corpo: os integrantes de uma equipe moderna costumam ser mais altos e fortes, o que permite aguentar o ritmo intenso e disputar o espaço com os adversários.

Zogaib conta que atualmente existem equipamentos e tecnologias capazes de medir cada parâmetro do corpo humano — e, se for o caso, detectar pontos que podem ser aprimorados nos treinamentos.

"Hoje sabemos até as características genéticas dos atletas. Também avaliamos a capacidade de resistência, a eficiência da corrida, os limiares de velocidade, a distribuição da massa muscular, a potência, o tipo de fibras musculares…", lista.

"Com isso, conseguimos direcionar a carga e o tipo de treinamento de maneiras cada vez mais individualizadas."

Gualano destaca que toda essa capacidade de análise provocou outra mudança no futebol: os atletas de ponta possuem atualmente um estafe particular.

Ou seja, além do batalhão de técnicos, fisiologistas, preparadores físicos, fisioterapeutas e demais profissionais do clube e da seleção onde atuam, esses jogadores contratam uma equipe própria, que ficará focada apenas nas necessidades deles.

"Isso é algo que vem do basquete nos Estados Unidos, em que o trabalho de todos esses auxiliares se torna absolutamente essencial para que os atletas consigam mostrar o talento que possuem ao jogar em alto nível", explica o professor da USP.

Apesar de tantos avanços, Zogaib entende que há espaço para evoluir mais e desenvolver jogadores com capacidade física ainda mais avantajada.

Na visão do especialista, a próxima fronteira está nas categorias de base, que reúnem os atletas adolescentes.

"Se essa preparação começa já na infância e na adolescência, é possível pensar que esses indivíduos terão um rendimento muito maior quando forem profissionais mais para frente", conclui.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63720969

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade