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Acidente em Goiânia faz 35 anos, mas Brasil ainda erra com lixo nuclear

Como o Brasil lida com o lixo radioativo que produz? Parte dele está guardado até hoje perto de prédios residenciais em Interlagos (SP)

13 set 2022 - 11h38
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Brasil ainda apresenta irregularidades no armazenamento de lixo nuclear
Brasil ainda apresenta irregularidades no armazenamento de lixo nuclear
Foto: Enrique / Pixabay

Lixo nuclear é um tema que, no Brasil, automaticamente remete ao vazamento ocorrido em Goiânia, em 1987. Foi considerado o maior acidente radioativo da história fora de uma instalação nuclear, matando oficialmente quatro pessoas, mas estima-se que 2.000 pessoas foram afetadas.

Na ocasião, um aparelho de radioterapia contendo o material radioativo césio-137 foi deixado em uma clínica desativada, Depois, foi coletado por catadores e levado para um ferro-velho. Algumas pessoas se encantaram pelo pó que "brilhava" azulado, mas infelizmente, tratava-se de um componente altamente perigoso, que se espalhou e fez várias vítimas diretas e indiretas na época.

Algumas partes da região onde o contato do césio-137 foi maior tornaram-se inabitadas, e ainda existe material radioativo estocado em solo brasileiro. O fato trouxe lições para o Brasil aprender a cuidar melhor de materiais radioativos, mas ainda há muitas incertezas.

Como é gerado o lixo nuclear e onde se localiza

Hoje em dia, todo o lixo nuclear armazenado no Brasil é gerado pelas usinas Angra 1 e Angra 2 e armazenado em piscinas, que ficam na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Porém, o lixo de Angra 1 e 2 agora é levado para uma nova instalação, chamada Unidade de Armazenamento Complementar a Seco para Combustíveis Irradiados (UAS). Este processo começou no ano passado. Juntas, essas duas usinas produzem cerca de 3% de toda a energia consumida no país. 

Os elementos combustíveis ficam no núcleo do reator por três anos. Quando não podem mais ser usados para gerar energia, recebem o nome de “elemento combustível irradiado” (ECI) e são levados para contêiners no interior de piscinas nas usinas.  

A professora Emico Okuno, do Instituto de Física da USP, comentou no podcast da própria instituição que a questão da segurança nos reatores nucleares é complicada. “Quando acontece um acidente em reator nuclear, é realmente um problema, porque nos arredores você não vai poder viver cerca de 10 mil anos. Agora o uso na nossa vida cotidiana tem muitas aplicações importantes”, explica ela. 

São Paulo e Minas Gerais guardam bastante lixo radioativo

De acordo com reportagem do Estadão de outubro de 2021, existem irregularidades no armazenamento do lixo radioativo. Na época, o governo federal buscava — e ainda busca — local para armazenar 1.179 toneladas de rejeitos radioativos, um lixão nuclear que ainda está guardado em galpões velhos localizado no bairro de Interlagos, na zona sul de São Paulo.

O material não poderá mais ficar no local, que é cercado por prédios residenciais e terá de ser desocupado. Mas ainda não houve acordo sobre um novo local para levar os rejeitos.

Radioatividade é utilizada para exames e outros procedimentos necessários
Radioatividade é utilizada para exames e outros procedimentos necessários
Foto: Bokskapet / Pixabay

Eles contém a chamada "Torta II", resíduo que vem do tratamento químico da monazita, um fosfato que inclui terras raras e metais pesados como urânio e tório. Esse material pertencia à antiga Nuclemon, a Usina de Santo Amaro, em São Paulo. Nos anos 80, com o fechamento da usina e a venda do terreno, parte desse rejeito foi transferida para a INB Caldas. O material é considerado de baixa radioatividade, mas precisa ser guardado sob diversas normas de segurança para evitar contaminações.

A Nuclemon é uma antiga estatal nuclear que operou em São Paulo e foi fechada após a contaminação de seus trabalhadores, problemas trabalhistas e a morte de um de seus funcionários. 

A INB também armazena cerca de 3.500 toneladas de Torta II em área de proteção ambiental sem documentação do Ibama na Unidade de Estocagem de Botuxim (UEB), em Itu (SP). 

A empresa deseja levar os rejeitos de Interlagos para a pequena cidade de Caldas (MG) ou para Itu, mas o poder público dos municípios já se manifestou para não receber o material.

Em 2016, um documento interno da INB afirmou que uma outra quantidade de Torta II armazenada em Unidade de Tratamentos de Minérios em Caldas (MG) "apresenta riscos de vazamentos devidos à deterioração em função do tempo dos  tambores de metal, das bombonas plásticas e dos paletes de madeira que dão sustentação às pilhas". O local armazena 12.534 toneladas de Torta II, quase 11 vezes o volume guardado em Interlagos.

Em dezembro do ano passado, a INB e o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência, assinaram contrato para realizar estudos hidrológicos, hidrogeológicos e isotópicos relacionados ao armazenamento em Caldas. A ideia é trazer novas soluções para os rejeitos nucleares.

Fonte: Redação Byte
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