Sérgio Gwercman/Redação Terra
Atualizado às 17h
Vicente Cascione, o advogado de defesa do coronel da reserva da PM, Ubiratan Guimarães, disse hoje do lado de fora do Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, que a culpa pelo massacre do Carandiru "é dos presos que se rebelaram". "Houve um confronto e a polícia acabou levando a melhor. Quem estava lá dentro não era freira", disse ele.
Cascione tentará mostrar aos jurados que não houve execução, em outubro de 1992, quando seu cliente comandou uma invasão da PM na Casa de Detenção do Estado. O advogado afirmou que ele e Guimarães estão "tranqüilos" para enfrentar o processo. O promotor de acusação, Felipe Cavalcanti, afirma que as evidências de execução sumária são fortes. "Eu quero que eles me apontem no laudo um preso que tenha reagido. Como se pode falar em reação de homens que estavam nus".
Cavalcanti vai se basear seus argumentos em um relatório do Instituto de Criminalística da Polícia Civil. "Esse laudo é taxativo, claro e enfático, no sentido de que houve execução", disse ele. "Eu queria saber como pode ter havido confronto, quando pessoas foram vitimadas pelas costas, com inúmeros tiros na cabeça". "Li 30 mil volumes do processo e não encontrei uma prova concreta de que houve reação de qualquer preso", disse ele.
Programa de TV - Cascione reclamou que não participou de um programa de debates da TV Cultura, chamado Matéria Pública, na época da invasão. O advogado disse que não foi convidado pela emissora. Um representante da Pastoral Carcerárea e um promotor, de acordo com o Cascione, participaram do programa. "Não pensaram em convidar o advogado de defesa do Ubitatan", disse.
Levantamento - De acordo com um levantamento realizado por grupos de direitos humanos, aproximadamente 80% dos 111 presos mortos no Carandiru, em outubro de 1992, ainda aguardavam por uma sentença definitiva na Justiça. Nove detentos assassinados haviam sido condenados a penas superiores a 20 anos. Ainda segundo o levantamento, 51 dos 111 mortos tinha menos de 25 anos e 35, entre 29 e 30 anos. Com relação aos crimes cometidos, 66% dos detentos mortos haviam praticado assaltos e 8%, homicídios.
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