Atualizado às 04h36
Depois do susto, os passageiros do avião da Vasp seqüestrado anteontem, em Foz do Iguaçu, começaram a voltar para casa ou seguir viagem, no caso dos turistas, principalmente os estrangeiros. Dezessete desembarcaram ontem no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Evitando a imprensa, seis turistas italianos chegaram à tarde em Maceió, onde ficarão durante uma semana. "O pavor foi grande", contou o estudante Leonardo Lopes, de 19 anos. "Nunca fui assaltado em terra e não imaginava que isso pudesse ocorrer no ar." O estudante mora nos Estados Unidos e tinha ido ao Paraguai visitar os pais. Lopes disse que nada foi roubado dos passageiros. Os passageiros do vôo 280 saíram de Londrina (PR) às 8h15 de ontem, numa aeronave da Rio Sul. Eles fizeram conexão em Congonhas e desembarcaram às 11h30 no Rio.
Um dos integrantes da tripulação do avião seqüestrado, que se identificou como Mauro Barros, evitou a imprensa. "Eles bateram na cabine de comando e anunciaram o assalto. Não posso falar mais."., enquanto corria pelo Santos Dumont. Na fuga, Barros chegou a derrubar uma lixeira de ferro.
Entre os passageiros que desembarcaram ontem no Rio estava um grupo de turistas italianos, que foram recepcionados pelo cônsul Leonardo Bencini. "Vamos ver como estão psicologicamente e se querem continuar a viagem pelo País", disse Bencini. Sem identificar-se, uma das italianas contou que o drama dos passageiros começou dez minutos após a decolagem do vôo 280. "Eles se armaram e cobriram os rostos com máscaras pretas", lembrou.
Também sem identificar-se, outro italiano disse que cinco homens se levantaram das poltronas e foram ao banheiro, onde colocaram as máscaras. "Eles ordenaram: fechem as janelas ou atiramos em vocês, não se mexam", disse o rapaz, antes de entrar no carro do consulado. Após uma noite sem dormir, a italiana Paola Caizzi, de 30 anos, estava muito abatida. "Senti medo. Ainda não sei se terei coragem de voltar ao Brasil."
Máscaras - Sentado na penúltima fila, o empresário Ari Caldas de Almeida, 48 anos, disse que percebeu uma pessoa dirigir-se à cabine de comando, momento em que saíram dos toaletes dois homens e mais dois se levantaram, todos encapuzados, dando um tiro e anunciando o seqüestro."Acho que o tiro foi para chamar a atenção", disse "Eles disseram: está suspenso o rango, aqui todo mundo vai morrer de fome."
O empresário achou que o tiro era de espoleta e fazia parte de uma "pegadinha". Somente quando os bandidos pediram para que todos rezassem, ele passou a temer a morte. Almeida acredita que as armas utilizadas no seqüestro do vôo 280 já estavam no avião quando os passageiros embarcaram. Proprietário de uma agência de turismo em Curitiba, ele disse que comprovou o perfeito funcionamento dos equipamentos, pois estava com o celular no bolso e, ao embarcar, foi barrado.
Sua bagagem também passou por todos os procedimentos normais de segurança. "Como esses seqüestradores conseguiram entrar tão bem armados em uma aeronave, sendo que não se consegue entrar com um celular?" questionou"É uma pergunta a ser respondida pela Polícia Federal." Cada um dos ladrões carregava duas armas pequenas.
A maioria dos 61 passageiros era turista estrangeiro. Segundo o empresário, um chinês, sentado ao lado da porta de emergência, tentou abrí-la. Um dos seqüestradores jogou-se sobre ele, enquanto outro gritou para matá-lo. Eles pegaram o turista e jogaram-no em outra poltrona.
Houve pânico entre os passageiros, logo controlado. "As aeromoças ajudaram a manter a tranqüilidade", elogiou Almeida. Dois bandidos faziam ameaças, mas, segundo o passageiro, o que parecia ser o líder transmitia tranqüilidade. De acordo ele, tão logo começou o seqüestro, eles avisaram que o vôo seria desviado, mas que nada deveria acontecer com os passageiros. "Um deles disse que iriam próximo a Londrina para tirar o que estava na barriga do avião", referindo-se aos R$ 5 milhões colocados nos malotes do Banco do Brasil.
"Mas também disseram que era para rezar para tudo dar certo, que não queriam nos matar, nem nos assaltar, mas, se desse errado, iríamos morrer juntos", lembrou Almeida. Por isso, ele disse ter ficado tranqüilo somente quando desceu do avião em Londrina. Por ter visto alguns dos seqüestradores com mochilas nas costas, pensou que talvez houvesse uma bomba na aeronave e que ela explodiria depois de os bandidos terem descido. "Se entraram tantas armas, podiam ter colocado também uma bomba", ponderou o empresário.
Almeida disse que também chamou sua atenção o planejamento da quadrilha e o conhecimento que tinham do dinheiro. "Eles disseram que todos podiam ficar calmo, porque se acontecesse alguma coisa, havia entre eles um comandante de vôo experiente, que tinha saído recentemente de uma empresa, com plenas condições de tomar a aeronave e levá-la para onde fosse preciso." Eles também levavam um rádio, com o qual se comunicavam com o pessoal em terra. "Foi um verdadeiro milagre", disse. "Tenho visto esse filme repetidamente e não vai acabar tão cedo."
Maceió - O grupo de seis italianos que estava na avião seqüestrado desembarcou ontem à tarde no aeroporto Zumbi dos Palmares em Maceió. Eles não quiseram falar com a imprensa e se mostraram bastante assustados com a presença dos jornalistas no aeroporto. Segundo o gerente do hotel Pratagy, Marcelo Spadoni, eles vão ficar em Maceió durante seis dias.
O gerente disse também que aguarda a chegada amanhã de mais dez turistas italianos que estavam no mesmo avião, e que ficaram em Salvador. Só o gerente conversou com os italianos e disse que eles estavam assustados com tudo que aconteceu, mas que por isso não desejam falar com a imprensa e queriam chegar ao hotel para descansar.
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