O passageiro Ari Caldas de Almeida, 48 anos, que estava no vôo 280 da Vasp, seqüestrado ontem ao sair de Foz do Iguaçu, e desviado para Porecatu, no norte do Paraná, acredita que as armas utilizadas na ação já estavam no avião quando do embarque dos passageiros. "O sistema de segurança do aeroporto de Foz do Iguaçu estava funcionando", afirmou.Proprietário de uma agência de turismo em Curitiba, ele comprovou o funcionamento perfeito dos equipamentos, pois estava com o celular no bolso ao embarcar e foi barrado. Sua bagagem também passou por todos os procedimentos normais de segurança. "Como esses seqüestradores conseguiram entrar tão bem armados em uma aeronave, sendo que não se consegue entrar com um celular sem ser mostrado?" questionou. "É uma pergunta a ser respondida pela Polícia Federal." Os cinco seqüestradores carregavam, cada um, duas armas pequenas.
Ele disse ter visto também uma mini-metralhadora. "Pelo menos uma das armas era verdadeira", afirmou Almeida, lembrando o tiro dado logo no início do anúncio do seqüestro, cerca de 10 minutos após a decolagem, quando a circulação pela aeronave já estava liberada e as comissárias iriam servir o lanche.
Sentado na penúltima fila, ele percebeu uma pessoa, três poltronas à sua frente, dirigir-se à cabine. Ao mesmo tempo, saíram dois homens dos toaletes e mais dois levantaram-se, todos encapuzados, dando o tiro e anunciando o seqüestro. "Acho que o tiro foi para chamar a atenção", disse. "Eles disseram: está suspenso o rango, aqui todo mundo vai morrer com fome." Ele achou que o tiro era espoleta, para uma encenação ou uma "pegadinha", e somente quando os bandidos disseram que não era brincadeira e pediram para rezar para que tudo desse certo, ele passou a temer.
A maioria dos 61 passageiros era turista estrangeiro. Segundo o empresário, um chinês, sentado ao lado da porta de emergência, tentou abrí-la. Um dos seqüestradores jogou-se sobre ele, enquanto outro gritou para matá-lo. Eles pegaram o turista e jogaram-no em outra poltrona.
Houve pânico entre os passageiros, logo controlado. "As aeromoças ajudaram a manter a tranqüilidade", elogiou Almeida. Dois bandidos faziam ameaças, mas, segundo o passageiro, o que parecia ser o líder transmitia tranqüilidade.
De acordo com ele, tão logo começou o seqüestro, eles avisaram que o vôo seria desviado, mas que nada deveria acontecer com os passageiros. "Um deles disse que iriam próximo a Londrina para tirar o que estava na barriga do avião", referindo-se aos R$ 5 milhões colocados nos malotes do Banco do Brasil. "Mas também disseram que era para rezar para tudo dar certo, que não queriam nos matar, nem nos assaltar, mas, se desse errado, iríamos morrer juntos", lembrou Almeida. Por isso ele disse ter ficado tranqüilo somente quando desceu do avião em Londrina. Por ter visto alguns dos seqüestradores com mochilas nas costas, pensou que talvez houvesse uma bomba na aeronave e que ela explodiria depois de os bandidos terem descido. "Se entraram tantas armas, podiam ter colocado também uma bomba", ponderou o empresário.
Almeida disse que também chamou sua atenção o planejamento da quadrilha e o conhecimento que tinham do dinheiro. "Eles disseram que todos podiam ficar calmos, porque se acontecesse alguma coisa, havia entre eles um comandante de vôo experiente, que tinha saído recentemente de uma empresa, com plenas condições de tomar a aeronave e levá-la para onde fosse preciso." Eles também levavam um rádio, com o qual se comunicavam com o pessoal em terra. "Foi um verdadeiro milagre", disse. "Tenho visto esse filme repetidamente e não vai acabar tão cedo."
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