Quem era Ferruge, ambientalista encontrado às margens de represa

Cria do Grajaú, na periferia da zona sul de São Paulo, ativista foi encontrado morto à margem da Billings, local onde passou sua vida

10 ago 2022 - 15h37
(atualizado em 11/8/2022 às 18h38)
Ferruge foi encontrado morto no último sábado, 6
Ferruge foi encontrado morto no último sábado, 6
Foto: Arquivo pessoal

Adolfo Souza Duarte, 41, ambientalista encontrado morto às margens da represa Billings, na manhã do último sábado (6), lutava pela preservação das águas que cercam bairros da periferia do extremo da zona sul da cidade de São Paulo, como o Grajaú, além de cidades da região metropolitana, incluindo São Bernardo do Campo e Santo André.

Ferruge, como era conhecido por sua barba e os cabelos ruivos, era nascido e criado no Grajaú, e iniciou seus trabalhos socioambientais há 10 anos, após o falecimento do seu filho Miguel, 9, vítima de câncer. 

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Na época, a forma que Duarte encontrou para lidar com a morte do filho, segundo familiares e amigos, foi atuar na Billings. Quando perdeu Miguel, ele estava no último ano de história e preparava um TCC (Trabalho de Conclusão do Curso) justamente sobre a construção da represa.

A dor da perda lhe incentivou a criar alternativas para que jovens e crianças da periferia pudessem navegar pela imensidão aquática da Billings. Com a morte de Miguel, o ambientalista passou a realizar pequenos passeios de caiaque no local. Para ele, uma terapia. 

Esses passeios pelas águas logo chamaram a atenção de crianças da região, que pediam para navegar também. Assim, Ferruge viu a necessidade de trabalhar com o meio ambiente. Os passeios se tornaram aulas sobre zeladoria, economia, preservação e cuidados contra afogamentos na represa. 

Ferruge atuava em proteção ao meio ambiente no extremo sul de SP
Foto: Arquivo pessoal

Dessa iniciativa nasceu o projeto Remada na Quebrada e a ONG Meninos da Billings, que atuam pela preservação da região, promove projetos sociais e realiza passeios de barco na represa, ambos tocados por Duarte. 

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Já formado em história pela Universidade Estácio Uniradial, o ativista também atuou como coordenador de parques municipais, entre eles o parque Prainha e o Linear Cantinho do Céu, no Grajaú, além de um parque na região da represa Guarapiranga. Ele também foi coordenador e professor cultural do CEU Navegantes.

Nesses parques, Adolfo realizava mutirões de limpeza e projetos sociais com a participação e colaboração de moradores e coletivos culturais. Basta chegar a um dos espaços coordenados por ele para ver lixeiras 100% recicláveis, produzidas de garrafas pets recolhidas das margens da represa Billings. 

Entre tantas atividades em prol do meio ambiente, Duarte achou uma brecha para dar vida ao DJ Ferruge, que se apresentava em festas de casamentos, escolas e outros eventos em sítios no entorno da Billings.

Durante a pandemia da covid-19, Ferruge criou uma rede do bem para atender famílias sem recursos. Assim, garantiu alimentos e produtos de higiene para bairros necessitados da periferia do distrito do Grajaú.  

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O DJ e historiador morreu na última semana durante um passeio em seu barco pela represa Billings, enquanto conduzia dois casais pela região. Na ocasião, os jovens relataram que ele caiu da embarcação após um solavanco.

A embarcação envolvida no caso foi adquirida por um dos sócios de Ferruge, que atuava no novo barco havia cerca de um mês, e complementava a renda da família. 

O seu sepultamento,  realizado no domingo (8), em Paralheiros, atraiu milhares de pessoas, entre amigos, admiradores e familiares. Para eles, uma única certeza, a luta pela Billings foi um dos legados do ativista, e ele “morreu fazendo o que amava”. 

Ferruge deixa esposa, com quem viveu cerca de 20 anos, e uma filha de 15 anos.

Fonte: Visão do Corre
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