Presença do PCC na Baixada Santista tem conexão com a Bolívia pela “rota caipira”

Expansão internacional da facção explica presença no litoral paulista para exportar cocaína boliviana por Santos

16 set 2025 - 19h57
Resumo
A presença do PCC na Baixada Santista está ligada à rota de tráfico de cocaína boliviana que atravessa a fronteira seca e cidades do interior do país, para exportação por diversos portos, como o de Santos. É a atividade internacional da facção.
Operação Rota Khalifa, em agosto de 2025, contra o tráfico internacional, desdobramento da Operação Rota Caipira, da Polícia Federal
Operação Rota Khalifa, em agosto de 2025, contra o tráfico internacional, desdobramento da Operação Rota Caipira, da Polícia Federal
Foto: Divulgação/PF

Quando o chefe do Ministério Público de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, declarou, no velório do ex-delegado Ruy Ferraz, que a região de Praia Grande é um “ninho do PCC”, estava falando da chamada “rota caipira”.

É por ela que a cocaína produzida na Bolívia entra no Brasil, via Mato Grosso do Sul, seguindo para exportação por portos como Itajaí, em Santa Catarina, e Santos, no litoral paulista. A “rota caipira” é um dos caminhos por onde o Primeiro Comando da Capital (PCC) se internacionalizou.

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“A principal atividade da facção é o tráfico, e a cocaína gera mais dinheiro. A Bolívia é um dos principais produtores, mas não tem acesso ao mar. O PCC tem interesse e poder para fazer o transporte até Santos, principalmente”, diz o pesquisador Vinícius Figueiredo, do Observatório de Segurança Pública da UNESP.

Enterro do ex-delegado Ruy Ferraz, assassinado em Praia Grande. Vítima foi um dos primeiros a investigar o PCC.
Foto: Paulo Pinto/AB

Transferências de presos internacionalizou facção

O PCC começou a chegar à Bolívia a partir de transferências de presos de São Paulo para o Mato Grosso do Sul. Em 2006, houve rebeliões em Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Corumbá, com envolvimento da facção. “O primeiro registro explícito seria esse”, diz Figueiredo.

Passadas duas décadas, o PCC está estabelecido na Bolívia. Utiliza sua logística de transporte desde a fronteira seca, atravessando cidades do interior do pais e chegando a portos de onde manda cocaína para os mercados europeus e asiáticos, podendo passar por países africanos.

A atuação da facção mexe até com a campanha presidencial boliviana. No mês passado, o candidato Jorge “Tuto” Quiroga declarou à imprensa brasileira que seu país exporta mais cocaína do que gás para o Brasil.

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Transferência de Tuta, liderança do PCC preso na Bolívia e encaminhado à Penitenciária Federal em Brasília.
Foto: Divulgação/PF

Facção paulista se expande pela América Latina

No Paraguai, o PCC entrou à força. O fuzilamento de Jorge Rafaat, o “rei da fronteira”, em 2016, é o ponto culminante da disputa pelo controle do tráfico de maconha. Na Bolívia, para compra de cocaína, a facção firmou acordos com grupos locais, “o que favoreceu uma convivência menos conflituosa”, diz Figueiredo.

Por isso, lideranças importantes do PCC se estabeleceram no país vizinho, sendo inclusive presos, como Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, em maio deste ano. Gegê do Mangue, Fuminho e André do Rap, cria da Baixada Santista, viveram na Bolívia, onde atua em liberdade Sérgio Luiz de Freitas Filho, o Mijão, tido como “o traficante mais procurado do Brasil”.

Membros do PCC aparecem em pesquisas acadêmicas associados a bolivianos, peruanos e colombianos. É provável que a facção “tenha exercido controle direto sobre as ações do tráfico dentro e fora das prisões na Bolívia”, afirmam Giovanni França Oliveira, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), e Caroline Krüger, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Fonte: Visão do Corre
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