Jornalista faz do TCC um projeto para formar jovens na Bahia

A cultura abre a mente dos jovens e faz com que percebam novas possibilidades, se desfazendo de estereótipos ditados pela sociedade

3 jan 2022 - 09h00
(atualizado em 5/1/2022 às 19h57)
Sintonia oferece bolsas para jovens carentes que não podem pagar
Sintonia oferece bolsas para jovens carentes que não podem pagar
Foto: Ramon Batista / ANF

O Centro Cultural Sintonia, localizado no bairro da Barra, em Salvador, foi idealizado pela atriz e jornalista Lais Almeida, 33 anos, moradora de Castelo Branco, e ajuda crianças e adolescentes a criarem sua própria identidade, além de enxergarem novas perspectivas de vida, por meio de atividades e ações no âmbito cultural.

Por entender que cultura é necessária para a formação dos jovens, Lais criou o Centro Cultural Sintonia, no qual oferece aulas de teatro e música e possibilita bolsas de até 100% para alunos carentes. A iniciativa surgiu após ministrar um curso gratuito para alguns alunos durante seis meses, em 2014, trabalho desenvolvido para o projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso de Licenciatura em Teatro, feito após o BI em Artes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no qual abordou o estudo sobre a dramaturgia, finalizado com apresentação dos alunos na Universidade.

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Lais em apresentação cultural, ao lado do marido, Lucas
Foto:

“Acredito que a cultura é um elemento importantíssimo para formação da Criança e do Adolescente porque modifica a maneira de pensar sobre a sociedade, cria senso crítico, transforma os jovens e faz com que eles percebam novas possibilidades, criando sua identidade e se desfazendo de estereótipos ditados pela sociedade. A cultura abre a mente do jovem e liberta a criatividade”, garante Lais.

Atualmente, com cerca de 40 integrantes, entre alunos e monitores, o Sintonia, que já teve sua sede em Acupe de Brotas e no Largo dos Paranhos, cobra uma mensalidade de R$140 para conseguir se manter, mas, sempre que possível, oportuniza bolsa para aqueles que não podem arcar com o custo, seguindo a mesma filosofia do projeto Ayrton Sena, desenvolvido pelo Teatro Sesi, para o qual que Lais foi apresentada aos 15 anos, quando não tinha condições de pagar e participou dos cursos de teatro gratuitos oferecidos para a comunidade do Rio Vermelho.

Segundo a Constituição Federal de 1988, o Estado tem o dever de garantir o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional, apoiando e incentivando a divulgação de manifestos. Porém, nem sempre essas ações e projetos estão disponíveis para todos os jovens, embora a cultura seja considerada um elemento crucial nas suas formações.

Os artistas precisam sobreviver, mas nem todos conseguem ser aprovados em editais ou conseguir patrocínio e subsídios suficientes para se sustentar. No momento de pandemia, por exemplo, as cobranças de aluguéis das salas e das taxas mínimas de energia e água continuaram chegando para um público que viu sua fonte de renda parar, acarretando no fechamento de espaços e cancelamento de projetos.

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“Eu gostaria muito de ter um apoio que pudesse viabilizar o acesso às aulas para esses jovens. Hoje consigo perceber que eles têm muito mais possibilidades do que na minha época. Vejo a Fundação Gregório de Mattos (FGM) fazendo um trabalho muito bom nessa área, além dos espaços Boca de Brasa, que oferecem vários cursos para as comunidades. Às vezes o que falta é fazer com que esses jovens saibam que existem esses projetos”. "Um exemplo disso, segundo Lais, é que poucas pessoas sequer sabem que existe um teatro no bairro que tem apresentações e cursos gratuitos para a comunidade"

Sem esquecer da sua formação em jornalismo, Lais também utiliza dessas habilidades no fomento a cultura para o teatro, com envio de matérias e releases para vários canais, mas a recepção não é tão grande quanto a de shows da área musical, que são fortes e predominantes no cenário cultural de Salvador. Muitas vezes, o Centro Cultural Sintonia quer divulgar sorteios de bolsas para um semestre, mas acaba tendo baixa adesão, pois essas informações não chegam aos jovens das favelas, que pensam que a instituição é apenas privada.

Integrante de um grupo de jornalismo cultural, que apoia na divulgação de outros projetos, a atriz acredita que é necessário mais incentivo para que as criações sejam vistas e possam acontecer: “acho que falta incentivo para essas produções, faltam oportunidades para que possam falar sobre seus trabalhos, falta a gente, junto, ganhar mais espaço. Tem muita gente boa por aí e eu acredito muito no pessoal que faz teatro comigo”, conclui Lais, que também é dramaturga.

"Às vezes o que falta é fazer com que esses jovens saibam que existem esses projetos", garante Lais
Foto: Ramon Batista / ANF

Hoje, o Sintonia trabalha com turmas mistas a partir dos 12 anos, podendo ir até os 100, para que os alunos aprendam que, no teatro e no espetáculo, trabalha-se com público diversificado. Apenas as crianças ficam na turma infantojuvenil, que vai de 5 a 11 anos, mas são separadas por faixa etária. As aulas de teatro acontecem aos sábados pela manhã e à tarde e, durante a semana, sempre à noite. O curso também conta com aulas de canto online e presenciais. Também estão previstas aulas de dança e instrumentos musicais para 2022.

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Das passarelas para os palcos

Morador do bairro de Trobogy, em Salvador, o modelo Ednei William, 18 anos, tem a cultura em suas raízes e desde pequeno sonha em ser ator. Já teve a oportunidade de participar de projetos sociais como o Teatro Escola, onde fez cursos de dança e teatro.

Ednei em mostra cultural do Teatro Escola
Foto: Jordan Vilas Boas / ANF

“A cultura sempre foi presente em minha vida, além de ser diversão, é meu ganha pão, pois trabalho com isso, sou ator, modelo, poeta e apresentador. Além disso, minha mãe, nas poucas oportunidades que tinha, sempre me levava ao teatro”, conta Ednei.

O ator acredita que a cultura pode mudar a perspectiva de vida e salvar os jovens que moram na favela do mundo do crime. De acordo com ele, os projetos sociais dos bairros, como as rodas de capoeira e outros, fazem pessoas pretas, como ele, acreditarem em uma nova saída.

Ednei acredita que a cultura pode salvar jovens do crime "já vi meninas que se achavam feias se tornarem modelos"
Foto: Rô Morais / ANF

“Quantos jovens deixam o mundo do crime depois de se descobrirem jogadores de futebol, ou então, meninos de rua que conhecem um projeto social de dança e mudam de vida? Acredito que a cultura pode salvar e mudar vidas e isso gera perspectivas, afinal a cultura faz parte de quem nós somos, eu já vi meninas que se achavam feias se tornarem modelos através de projetos de moda”, garante Ednei William.

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