Como Claudia Raia, você fala com seu filho sobre a vida íntima dele?

Você se sente confortável para discutir esses temas em casa? Atriz afirmou que esse é um 'serviço' que os pais deveriam oferecer aos filhos.

27 set 2024 - 05h02

Na última semana a atriz Claudia Raia, 57, voltou a afirmar que é papel dos pais falar sobre masturbação e sexualidade com os adolescentes. Será que ela tem razão? E você se sente confortável para discutir esses temas em casa?

Falar de vida íntima com os filhos adolescentes: tabu ou 'serviço'?
Falar de vida íntima com os filhos adolescentes: tabu ou 'serviço'?
Foto: sweetlouise/Pixabay

Em entrevista recente ao podcast Surubaum, dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, Raia havia afirmado que criou um código com seu filho mais velho, Enzo, hoje com 27 anos, para saber quando ele estava “ocupado”, cuidando do próprio prazer. Ele colocava uma placa na porta do quarto com a frase “sex in progress”.

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Na última semana em participação no programa Foquinha Entrevista, a atriz respondeu às criticas à sinalização no quarto de Enzo, reafirmando que falar sobre sexo é um “serviço” que os pais deveriam oferecer aos filhos. E ela está certa!

Claudia Raia com seu filho mais velho, Enzo
Foto: Reprodução/Instagram/@enzocelulari

Com a evaporação dos programas de educação sexual das escolas (muitas vezes por pressão de famílias e governos mais conservadores) e a dificuldade crescente que os pais têm para arrumar tempo para falar de intimidade com seus filhos, o vácuo das dúvidas sobre sexualidade, tão comuns nessa fase da vida, acaba sendo preenchido por criadores de conteúdo digital e por material erótico fartamente disponível e acessível na internet.

No vasto mundo das redes sociais temos desde influenciadores que produzem conteúdo confiável e de boa qualidade até gente com formação duvidosa, que não sabe bem o que diz, mas acredita que sua versão dos fatos é sempre a verdade absoluta. Assim, seria importante que alguém ajudasse os mais novos a fazer uma curadoria sobre o que consome no mundo digital. E quem seriam essas pessoas na ausência das escolas? Os pais!

Já os conteúdos eróticos, via de regra, exageram no seu tom machista, sexista e na objetificação da mulher. Carregam nas cores e nas edições ao propor posições e práticas mirabolantes, fetiches e comportamentos muito distantes da realidade de uma turma que ainda está aprendendo a beijar na boca. De novo, o contraponto nesse cenário da ausência dos projetos de educação sexual seriam os pais.

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Talvez a conversa franca, aberta e bastante explícita da casa de Raia não funcione para todas as famílias. Tem gente que pode achar um exagero uma placa com sinalização de “é proibido entrar”. Mas conversas frequentes, desde o final da infância, adequadas às fases de desenvolvimento físico e emocional dos jovens, podem fazer com que eles aprendam a trancar a porta do quarto quando acharem necessário e, por tabela, fazer com que os adultos respeitem a autonomia e intimidade dos seus filhos.

Evitar aproximações muito invasivas em um momento em que o jovem está passando por transformações, inseguranças e questões de autoestima também é uma boa ideia. Assim, é melhor introduzir o assunto aos poucos, de preferência aproveitando os “gatilhos” do cotidiano, do que surgir do nada com aquela velha história do “você está crescendo e a gente precisa ter um papo sério”.

Nesse sentido, deixar claro que a porta do seu quarto está aberta para que eles venham falar sobre o que os aflige parece uma estratégia muito melhor do que entrar no quarto deles para falar “daquele assunto”.

Se criar um tom mais “festivo” para falar sobre sexualidade faz parte do clima da casa, sem problemas. Valem placas, brincadeiras e coisas do gênero. Se o ambiente for mais discreto, é importante que se crie uma atmosfera acolhedora, e não constrangedora, para tratar do tema.

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Já atendi mães que queriam reservar a suíte de um hotel e criar toda uma decoração, com flores e velas, para celebrar a estreia da vida sexual dos filhos. Meio exagerado! Isso parece falar muito mais sobre a fantasia das próprias mães do que sobre a realidade dos jovens. Melhor seria pensar em condições para que esse começo  acontecesse no momento em que o jovem desejasse, cercado de privacidade e respeito às suas escolhas.

E nunca é tarde lembrar: filhos e filhas merecem o mesmo tipo de tratamento e acesso às informações, liberdade e autonomia. Nada mais antigo e descolado da realidade do que estimular e festejar a masturbação e início de vida sexual de garotos, e reservar o silêncio e a proibição às descobertas sexuais das garotas. Todo mundo tem que estar na mesma nota. Vamos nessa?

*Jairo Bouer é psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.

Fonte: Jairo Bouer
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