Vídeos denunciam massacre de mais de 200 na Síria

29 mai 2013 - 07h43
(atualizado às 08h16)

Ativistas de oposição síria dizem ter documentado as mortes de mais de 200 homens, mulheres e crianças, no que pode ser um dos piores massacres nos dois anos de guerra civil no país. 

No início do mês, o governo havia declarado ter matado "combatentes terroristas" em uma operação em distritos de al-Bayda e Baniyas, no oeste da Síria. Mas imagens em vídeo e testemunhas oculares reforçam suspeitas de que a região foi palco de uma das maiores atrocidades do conflito.

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Frames do suposto vídeo mostram fila de corpos
Frames do suposto vídeo mostram fila de corpos
Foto: BBC News Brasil

"Não importa como eu descreva o que vimos e ouvimos, não será nada comparado ao que aconteceu", diz à BBC Om Abed, uma mulher coberta em um véu negro que pede para ser identificada com um pseudônimo porque teme represálias.

Mãe de dois filhos, ela chora ao lembrar o que diz ter visto em al-Bayda no início de maio. "Não dava para andar sem passar por cima de corpos, massacrados ou queimados", diz ela. "Havia sangue por todo os lados."

Ofensiva

Em 2 de maio, tropas do governo entraram em al-Bayda, na costa mediterrânea da Síria. No dia seguinte, atacaram a vizinha Baniyas. Descreveram a ação como um combate a "terroristas armados".

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A mídia estatal reportou a morte de 40 combatentes oposicionistas. Mas ativistas de oposição e testemunhas dizem que mais de 200 civis foram mortos e centenas estão desaparecidos, no que dizem ter sido um ataque sectário contra pessoas indefesas.

Frames do vídeo foram obtidos pela BBC
Foto: BBC News Brasil

Um vídeo e fotografias mostram corpos queimados e amontoados, de homens, mulheres e crianças com ferimentos terríveis.  É impossível verificar a autoria das imagens, mas entrevistas feitas pela BBC com quatro mulheres que dizem ter estado lá na época parecem confirmar as suspeitas de massacre. Segundo elas, apesar das tensões já elevadas na região há dois anos, o que provocou a ofensiva foi uma emboscada feita mais cedo naquele dia por rebeldes contra tropas do governo.

Famílias se agruparam enquanto as tropas, acompanhadas de paramilitares, entraram na aldeia. Moradores dizem que nesse momento começou um massacre: incêndios, saques e mortes.

Poças de sangue

Um vídeo aparentemente feito por um soldado e vazado à oposição dá uma ideia do que aconteceu: mostra tropas na praça de al-Bayda com carros e casas incendiadas ao redor e poças de sangue no chão. A câmera mostra então um homem de costas, prostrado, claramente morto. Uma mancha vermelha sob suas costas marca o caminho pelo qual seu corpo foi arrastado. A gravação termina no que parece ser uma loja. O chão está repleto de corpos enfileirados.

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Naquele dia, Om Abed diz ter sentido cheiro de fogo e ouvido gritos de homens, que haviam sido reunidos pelas tropas. Mas só à noite as mulheres, em casa, tiveram coragem de sair às ruas. "Corri para a rua e vi 20 a 30 homens, no chão, todos alvejados com tiros. Vi meu marido e meu sogro com tiros na cabeça. Não havia sobrado nada da cara de meu marido, exceto por seu nariz e sua boca."

Famílias queimadas

Ativistas dizem que as tropas passaram também por dois distritos sunitas de Baniyas, onde a imprensa estatal diz que 40 terroristas foram mortos. Mas testemunhas falam que houve, na verdade, uma ofensiva alauíta contra a população xiita.

Testemunha relatou a matança de civis por forças leais ao governo de Assad
Foto: BBC News Brasil

Fotos e vídeos do episódio são assustadores: mostram homens, mulheres e crianças desfigurados, empilhados; aparentemente, famílias inteiras foram mortas. As mulheres entrevistadas pela BBC descrevem cenas semelhantes: "Casas foram incendiadas. As pessoas lá dentro queimaram. Havia tanto sangue."

Este não foi o primeiro massacre da guerra civil síria, e provavelmente não será o último. Membros da comunidade internacional esperam que a diplomacia possa reverter a situação, apostando suas fichas em uma conferência sobre a Síria a ser realizada no mês que vem.

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Mas poucos acreditam que a conferência terá sucesso. Enquanto isso, os dois lados - governo e rebeldes - continuam a acreditar que podem derrotar o outro, e o povo sírio continua morrendo.

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