UE e Celac se reúnem em cúpula com diferenças e ausências

8 jun 2015 - 18h12

A UE e a Celac se reúnem esta semana, em Bruxelas, em uma cúpula que terá a ambição de aproximar posições em temas da agenda global e dar um novo impulso às relações comerciais. A presidente Dilma Rousseff estará entre os chefes de Estado presentes, enquanto o cubano, Raúl Castro, será uma das ausências mais sentidas.

A luta contra as mudanças climáticas, a questão dos direitos humanos e os acordos comerciais assinados por 26 dos 33 países da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe com a União Europeia são alguns dos temas que serão abordados na cúpula, quarta e quinta-feira.

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A União Europeia espera que compareçam 40 dos 61 chefes de Estado dos dois blocos, que somam 1,1 bilhão de habitantes.

No entanto, este segundo encontro birregional, depois do celebrado em janeiro de 2013, no Chile, será realizado sem alguns de seus protagonistas, como o presidente cubano Raúl Castro, a argentina Cristina Kirchner e o venezuelano Nicolás Maduro.

Raúl Castro, cujo país está mergulhado em um acelerado processo de normalização das relações com os Estados Unidos que a UE quer imitar, alegou "motivos de agenda" para justificar sua ausência.

No entanto, nem Kirchner, a quem seus parceiros do Mercosul acusam de frear um acordo comercial com a UE, nem Maduro, criticado na Europa pela situação política na Venezuela, explicaram porque não comparecerão.

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Outros líderes latino-americanos chegarão a Bruxelas debilitados, como a presidente Dilma Rousseff e sua colega chilena, Michelle Bachelet, confrontadas a escândalos de corrupção e uma queda histórica de sua popularidade.

O mexicano Enrique Peña Nieto, cujo partido salvou no domingo sua maioria no Parlamento em eleições marcadas pela violência, também enfrenta dificuldades em seu país.

O colombiano Juan Manuel Santos, por sua vez, esperava chegar à cúpula com um processo de paz bem encaminhado, mas o reinício dos combates com as Farc ofuscam as perspectivas de um acordo.

Do lado europeu, está confirmada a presença do presidente francês, François Hollande, e dos chefes de governo britânico, David Cameron; alemã, Angela Merkel, e espanhol, Mariano Rajoy.

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O premiê grego da esquerda radical, Alexis Tsipras, ligado no campo político a vários governos latino-americanos, também estará presente.

Segundo o governo grego, Tsipras deveria se reunir à margem da cúpula com Hollande e Merkel para tentar fechar um acordo vital para resolver a crise da dívida de Atenas.

A Grécia negocia com seus credores o desbloqueio da última parcela de 7,2 bilhões de euros do resgate concedido por seus parceiros desde 2010, e que estes condicionam a um draconiano programa de reformas.

Tsipras poderia encontrar solidariedade na Celac com o seu problema da dívida, que chega 180% do PIB grego. Dentro da Celac, Argentina, em litígio com fundos especulativos pela dívida soberana não reestruturada, impulsionou a inclusão de uma referência aos processos de reestruturação da dívida na declaração final, o que a UE recebeu friamente e ainda está em negociação.

Assim como em 2013, a UE busca "relançar" suas relações com os países da Celac. Quer dialogar de "igual para igual" com os membros de uma região na qual os investimentos europeus equivalem aos investimentos diretos do bloco em "China, Rússia, Índia e África do Sul juntos", algo em torno de 500 bilhões de euros.

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Ao "diálogo político" para "nos entendermos melhor", segundo uma fonte europeia, se somam os "desafios globais", como as mudanças climáticas e as drogas.

A UE busca "aproximar posições" antes da conferência sobre o clima de Paris, em dezembro, e pesar na Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre Drogas, que será celebrada em 2016, um tema no qual a "cooperação é forte".

"Este é um momento muito bom para o relançamento das relações entre a Europa e a América Latina, especialmente mediante o diálogo político", disse, em entrevista à AFP, o presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís.

Neste ponto, concordou com seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, que assegurou, em outra entrevista à AFP, que "o que se busca é uma aproximação entre a Europa" e a região.

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Solís destacou que "temas como a segurança e as mudanças climáticas (...) serão centrais".

Os temas comerciais não faltarão na agenda da cúpula. Chile e México, que já assinaram acordos comerciais com a UE no começo de 2000, começaram os trabalhos para "modernizá-los" com o objetivo de incorporar setores em seu âmbito de aplicação.

O Equador assinou no ano passado um acordo comercial para se incorporar ao Acordo Multipartes, assinado entre a UE, Peru e Colômbia. O processo "está bem encaminhado" e não são esperados anúncios.

Quanto ao Mercosul e à UE, que deviam trocar ofertas no ano passado, fontes europeias destacaram que "estamos mais perto de nos entendermos sobre o que é possível e o que não é".

A UE sustenta que tem mandato para negociar com os quatro países do Mercosul, que retomaram as negociações em 2010. Do lado sul-americano, o Mercosul assegura que continuará como um bloco. Mas pairam dúvidas sobre o que acontecerá porque o Brasil e o Uruguai estudam a possibilidade de avançar em separado.

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