EUA desbloqueiam parte de ajuda militar ao Egito

22 jun 2014 - 16h36

O Egito atravessa "um momento crítico" em sua transição à democracia, afirmou neste domingo o secretário de Estado americano, John Kerry, durante visita ao Cairo, onde foi anunciado o retorno da ajuda militar ao país, bloqueada desde o golpe militar contra o presidente Mohamed Mursi.

"Este é um momento crítico na transição no Egito, com tremendos desafios", declarou Kerry, ao encontrar-se com o ministro das relações Exteriores, Sameh Shukri. A visita é a primeira parada de um giro por Oriente Médio e Europa para tratar da crise no Iraque.

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Antes de se reunir com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, Kerry adiantou que os "Estados Unidos estão muito interessados em trabalhar estreitamente" como o novo governo "para levar adiante essa transição com a maior celeridade e calma possíveis". Simultaneamente à chegada de Kerry, fontes americanas anunciaram o desbloqueio de US$ 572 milhões de ajuda ao Egito, depois da aprovação do Congresso.

A cifra é uma parte importante da ajuda americana a seu principal aliado árabe - US$ 1,5 bilhão, entre os quais US$ 1,3 bilhão são com fim militar - que foi congelada em outubro. O governo dos Estados Unidos determina como exigência a realização de reformas democráticas, depois do golpe militar que derrubou Mursi, o primeiro presidente eleito democraticamente no país.

A visita do chefe da diplomacia americana, a primeira desde que Sissi assumiu o poder, acontece um dia depois da confirmação da pena de morto do chefe da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e de outros 182 partidários do ex-presidente.

A repressão dos apoiadores de Mursi deixou, em um ano, mais de 1,4 mil mortos e cerca de 15 mil detenções. Autoridades americanas haviam anunciado em abril a retomada da ajuda, que incluía a entrega de dez helicópteros Apache. O objetivo é reforçar a defesa do exército egípcio contra ataques jihadistas quase diários na península desértica do Sinai. Os helicópteros ainda não foram entregues, mas Kerry assegurou que "confiava" que "os Apaches vão chegar em breve".

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John Kerry também pediu ao Egito que apoie a liberdade de imprensa, à véspera do pronunciamento da justiça no julgamento de jornalistas da Al-Jazeera acusados de apoiar os islamitas.

Neste caso, que provocou uma onda de protestos internacional, nove acusados, entre eles três jornalistas do canal do Qatar, assim como outras 11 pessoas julgadas à revelia, correm o risco de serem condenadas entre 15 e 25 anos de prisão, segundo um advogado de defesa. Dezesseis egípcios são acusados de pertencer a Irmandade Muçulmana, considerada organização terrorista, e quatro estrangeiros por terem difundido "informações falsas" para apoiar a confraria.

Os acusados - entre os quais figura o jornalista egípcio-canadense Fadel Fahmy, seu colega australiano Peter Greste e o egípcio Baher Mohamed, que estão presos há 160 dias - denunciam em cada audiência um julgamento injusto e político, assim como provas "totalmente fabricadas".

O Egito é o único país, ao lado da Jordânia, que assinou um tratado de paz com Israel, e ocupa um lugar estratégico na região. A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, indicou que Kerry trataria dos confrontos violentos "no Iraque, na Síria, na Líbia, assim como as relações entre israelenses e palestinos e a ameaças de extremistas e terroristas".

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Sissi foi eleito em março com 96,9% dos votos, depois de ter eliminado toda a oposição política possível, seja ela islâmica, laica ou liberal. O novo governo, empossado ma semana passada, é composto principalmente por membros do governo interino que Sissi instalou ao tomar o poder.

Funcionários americanos demonstraram preocupação "que certas táticas utilizadas para solucionar problemas de segurança" dividam a sociedade egípcia. "Nossas relações vêm de longe", garante essa fonte, "e estão assentadas em diferentes pilares. Estão atravessando um momento difícil, com certeza, e o clima político nos preocupa". O problema principal seria a "ausência de espaço para a oposição, os julgamentos massivos e as condenações à morte".

Em novembro foi promulgada uma lei que limita o direito de manifestação, e desde então foram presos vários líderes dos protestos de 2011, que derrubaram o presidente Hosni Mubarak.

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