Eleitorado israelense castiga Netanyahu, mas o mantém no poder

23 jan 2013 - 16h43
(atualizado às 16h46)

Benjamin Netanyahu se pôs nesta quarta-feira a forjar uma nova coalizão, depois de ser castigado nas urnas por sua aliança com os judeus ultraortodoxos e empurrado na direção de um partido centrista recém-formado.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, discursa em seu gabinete em Jerusalém nesta quarta-feira. 23/01/2013
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, discursa em seu gabinete em Jerusalém nesta quarta-feira. 23/01/2013
Foto: Darren Whiteside / Reuters

A eleição de terça-feira cristalizou as reivindicações de que o governo dê mais atenção a questões concretas do que aos interesses dos radicais religiosos. Questões de política externa, como os planos nucleares do Irã e as aspirações palestinas, ficaram em segundo plano.

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Disputando em coligação com o ultranacionalista Yisrael Beitenu, o partido Likud, de Netanyahu, elegeu 31 dos 120 deputados do Knesset (Parlamento), segundo dados quase definitivos da apuração, que deve terminar na quinta-feira.

Essa é a maior bancada do Parlamento, embora com 11 deputados a menos do que na legislação anterior.

Enfraquecido, Netanyahu sinalizou a intenção de ampliar sua coalizão, incluindo partidos de centro-esquerda e dando-lhe um caráter mais moderado.

Isso pode ajudar a atenuar os atritos dos últimos anos entre Netanyahu e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que também iniciou um novo mandato nesta semana e que pretende evitar uma ação militar de Israel contra o Irã e promover a retomada do processo de paz entre israelenses e palestinos.

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"A probabilidade de um governo puramente de direita diminuiu, junto com as dores de cabeça que isso causaria a Obama", disse David Makovsky, do Instituto de Washington para a Política do Oriente Próximo. "Então há uma chance melhor de que Netanyahu encontre um 'modus vivendi' com os Estados Unidos."

"DIVIDIR O ÔNUS"

A imprensa israelense deu grande destaque ao revés eleitoral de Netanyahu e à surpreendente ascensão do centrista Yesh Atid (Há um Futuro), que formou a segunda maior bancada, com 19 deputados, num Parlamento que deverá incluir uma dúzia de partidos.

O Yesh Atid e o centro-esquerdista Partido Trabalhista, que elegeu 15 deputados, exploraram o ressentimento da classe média laica contra os benefícios concedidos a judeus ultraortodoxos, como a isenção do serviço militar.

Num aparente aceno ao líder do Yesh Atid, o ex-apresentador de TV Yair Lapid, Netanyahu prometeu que seu governo vai buscar "uma forma mais igualitária de dividir o ônus", uma referência aos generosos privilégios concedidos aos ultraortodoxos, que compõem 10 por cento da população.

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Listando outras prioridades que ele disse ter definido com seu aliado Avigdor Lieberman, um ex-chanceler radical, Netanyahu prometeu moradia mais barata e mudanças no sistema eleitoral.

Os palestinos reagiram com cautela ao resultado eleitoral israelense por considerar que dificilmente resultará em um governo mais disposto a fazer concessões pela paz, apesar da inclusão de centristas.

Em editorial, o jornal palestino Al Quds disse que esses partidos vão oferecer uma "decoração cosmética" ao governo de Netanyahu, permitindo que ele engane a opinião pública mundial sem paralisar a ampliação dos assentamentos judaicos em territórios ocupados, principal obstáculo à retomada do processo de paz.

(Reportagem adicional de Matt Spetalnick, em Washington)

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