- Tariq Saleh
- Da BBC Brasil
A crise instaurada após o ataque da Marinha de Israel a uma frota de navios com ajuda humanitária à Faixa de Gaza aumentará o poder do discurso dos grupos ditos 'radicais' e enfraquecerá os 'moderados' da região, disseram analistas no Oriente Médio ouvidos pela BBC Brasil.
Israel divulga vídeo para justificar ataque a barcos
Video Player
Após o ataque, líderes árabes que defendem um diálogo com o governo israelense e as tentativas de reiniciar um processo de paz ficaram mais enfraquecidos, de acordo com os analistas.
Os barcos levavam 750 ativistas e cerca de 10 mil toneladas de suprimentos para Gaza em uma operação organizada pela ONG Free Gaza (Gaza Livre).
De acordo com Oraib Rintawi, presidente do Centro Al Quds para Estudos Políticos, a ação foi uma derrota política e diplomática para Israel e dará munição suficiente para os grupos mais radiciais da região, que defendem a luta armada.
"Após o ataque, governos e grupos com posições mais duras condenaram o governo israelense com as retóricas de sempre. Isso só causou um constrangimento para aqueles que defendem conversas de paz com Israel", salientou ele.
Segundo o professor Sinan Ogan, do Centro Turco para Relações Internacionais e Análises Estratégicas, o governo israelense cometeu "um suicídio diplomático" aprovando uma operação contra ativistas internacionais.
"O pior cenário possível aconteceu. Com seu péssimo trato a ativistas da paz, Israel fez ruir quaisquer tentativas de reiniciar o processo de paz, e fez parecer idiotas aqueles que defendiam a diplomacia ao invés do conflito".
Para Rintawi, os ditos líderes 'moderados' ficaram em uma posição extremamente difícil.
"Em uma situação destas, fica cada vez mais complicado para líderes árabes defenderem conversas de paz com Israel, quando cada vez mais o governo israelense mostra total indiferença pelas leis internacionais e ações humanitárias".
Segundo o analista, grupos como o palestino Hamas e o libanês Hezbollah ganham mais força e adesão quando discursam em favor da luta armada.
"Não somente a perda de vidas humanas de ativistas deixará Israel na berlinda, mas também os resultados em médio prazo, aumentando a tensão na região", explicou Rintawi.
Sem conflito
Para o analista Sinan Ogan, os árabes moderados que se posicionavam por conversas com Israel receberam um tapa no rosto, como o próprio governo do presidente palestino Mahmoud Abbas, que ficará em péssima posição para sentar à mesa com israelenses.
"Aqueles que se opõem à paz e semeiam o ódio foram os grandes vencedores do ataque aos ativistas", completou o analista.
No Líbano, o grupo Hezbollah classificou o ataque israelense como "um crime horrível" e disse que ação contra os ativistas era a "prova de que o regime sionista não respeita vidas humanas, independentemente de sexo ou religião".
Líderes do Hezbollah também declararam que o ataque seria uma prova de que Israel não está interessado em paz com seus vizinhos.
Ismael Haniyeh, o primeiro-ministro do Hamas, declarou que a postura de Israel era de "piratas e terroristas do mar" e que isso só aumentava a legitimidade do grupo palestino, que defende a luta armada.
Para Oraibi Rintawi, no entanto, um conflito não deverá acontecer, ao menos não em curto prazo, em decorrência desta crise.
"Os efeitos serão sentidos mais adiante. E conversas de paz, neste momento, parecem impossíveis".
Punição
Mahjoob Zweiri, especialista em Oriente Médio da Universidade do Catar, defendeu que a comunidade internacional adote "uma política de tolerância zero com crimes deste tipo", para evitar o risco de que ações unilaterais de ambas as partes sejam legitimadas.
Para ele, assim como o Ocidente é rápido em condenar e punir erros cometidos por árabes e iranianos, eles também deveriam punir Israel por seus atos e crimes.
Segundo Zweiri, o bloqueio a Gaza deve terminar, pois só mostrou a ineficiência em enfraquecer o Hamas, que controla o território desde 2007.
1 de 35
Ativistas internacionais do grupo IHH dão entrevista antes de partir para Gaza
Foto: AP
2 de 35
Manifestantes seguram faixas que pedem a libertação da Faixa de Gaza, no porto de Ashdod, em Israel
Foto: EFE
3 de 35
Mulher chora durante protesto contra o ataque, em Istambul, na Turquia
Foto: AP
4 de 35
Soldados carregam homem ferido do helicóptero para um hospital em Jerusalém
Foto: EFE
5 de 35
Libaneses protestam contra a ação dos militares israelenses em frente à sede da ONU em Beirute
Foto: EFE
6 de 35
Em Amã, na Jordânia, manifestantes começam a pôr fogo em bandeira de Israel
Foto: EFE
7 de 35
Manifestantes seguram cartazes contra o ataque israelense, na cidade do Cairo, no Egito
Foto: AP
8 de 35
Médicos israelenses levam um ferido no confronto para um hospital de Haifa
Foto: AP
9 de 35
Turco lamenta o incidente do lado de fora do consulado de Israel em Istambul
Foto: AP
10 de 35
Frame de vídeo mostra luzes de um navio da Marinha israelense iluminando o horizonte
Foto: Reuters
11 de 35
Imagem mostra um tripulante do navio de ajuda humanitária ferido após o ataque israelense
Foto: Reuters
12 de 35
Frame de vído mostra soldados israelenses fortemente armados invadindo o navio de ajuda humanitária
Foto: Reuters
13 de 35
Manifestantes entram em conflito contra policiais durante protestos em frente a embaixada israelense em Atenas, na Grécia
Foto: AFP
14 de 35
Mulheres choram durante protestos em Bruxelas, na Bélgica
Foto: Reuters
15 de 35
Homem queima bandeira israelense durante protestos em Nicosia, no Chipre
Foto: AP
16 de 35
Milhares de pessoas se reúnem em Istambul, capital turca, para manifestação de repúdio ao ataque em Gaza
Foto: EFE
17 de 35
Manifestantes criticam ajuda americana à Israel, durante protestos em Roma, na Itália
Foto: Reuters
18 de 35
Representantes da ONU (Organização das Nações Unidas), fazem reunião emercial em Nova York sobre as atitudes a serem tomadas após ataque em Gaza
Foto: Reuters
19 de 35
Homem é arrastado por militares durante conflitos em frente a embaixada israelense, em Atenas
Foto: EFE
20 de 35
Muçulmana usa burca e pede liberdade para a Palestina, durante manifestação em Londres
Foto: Reuters
21 de 35
Militante da Frente Democrática pela Libertação da Palestina ergue um fuzil e a bandeira turca, durante protestos no campo de refugiados de Ein el-Hilweh, na cidade de Sidon
Foto: AP
22 de 35
Nilüfer Çetin concede entrevista a repórteres no aeroporto de Istanbul
Foto: AP
23 de 35
Manifestantes jogam pedras durante protestos nas proximidades da embaixada israelense, em Paris
Foto: Reuters
24 de 35
Crianças palestinas jogam flores no mar, próximo ao porto de Gaza, em homenagem às vitimas do ação policial israelense
Foto: AFP
25 de 35
Muçulmanos fazem protesto em Ramallah carregando uma réplica de um navio com a bandeira palestina
Foto: Reuters
26 de 35
Homem grita palavras de ordem durate manifestações em Cairo
Foto: Reuters
27 de 35
Manifestantes pedem o fim do Hamas na Faixa de Gaza, em frente à embaixada israelense em Viena
Foto: Reuters
28 de 35
Muçulmanos protestam em frente à embaixada israelense em Viena
Foto: Reuters
29 de 35
Mulher segura cartaz durante protestos na embaixada turca, em Amman, na Jordânia
Foto: AP
30 de 35
Manifestantes criticam ações de Israel, durante protestos em Ramallah, na Cisjordânia
Foto: Reuters
31 de 35
Manifestantes protestam em frente a embaixada israelense em Istambul
Foto: AFP
32 de 35
Manifestante segura cartaz pedindo liberdade aos palestinos em Gaza, durante manifestação em Bruxelas
Foto: EFE
33 de 35
Indianos se solidarizam com a situação dos palestinos, durante protesto em Nova Delhi
Foto: EFE
34 de 35
Hedy Epstein pretende embarcar no navio irlandês que tentará romper o bloqueio israelense à Faixa de Gaza
Foto: Free Gaza Movement
35 de 35
Manfestantes protestam contra a ação dos militares israelenses em frente à Casa Branca, em Washington
Foto: AP
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.