Lugo enfrenta processo de impeachment após perder apoio de aliados

O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, enfrenta nesta quinta-feira um processo de impeachment, organizado a toda velocidade pelo Congresso, sob a acusação de mau desempenho de suas funções pela morte de 17 pessoas em uma operação de reintegração de posse em uma fazenda do nordeste do país, perto da fronteira com o Brasil.

Em apenas cinco horas, a Câmara dos Deputados aprovou por arrasadora maioria um "julgamento político", o Senado se transformou em "tribunal" e fixou um calendário de processo que terminará amanhã, às 16h30 locais (17h30 de Brasília), com a sentença de Lugo.

Publicidade

A crise no Paraguai gerou uma imediata reação internacional: vários presidentes sul-americanos se reuniram no Rio de Janeiro, onde acontece a Rio+20, e a Unasul anunciou o envio imediato de um grupo de chanceleres dos países-membros a Assunção.

O secretário-geral da Unasul, o venezuelano Alí Rodríguez, disse que o bloco "avalia a possibilidade de aplicar um protocolo contra um golpe de Estado no Paraguai", que, segundo o presidente da Bolívia, Evo Morales, é o que está sendo planejado contra Lugo. Nesse mesmo sentido se expressaram líderes sem-terra do Paraguai, que anunciaram passeatas em Assunção em defesa de Lugo.

Em sua mensagem à nação após a resolução dos deputados, Lugo disse que vai "honrar a vontade das urnas" e evitar que "mais uma vez na história da República um fato político tire privilégio e soberania da suprema decisão do povo".

Cercado por alguns de seus ministros e chefes militares, Lugo pediu ao Legislativo que lhe ofereça "toda a garantia de uma justa e legítima defesa".

Publicidade

Mas Lugo ficou só em ambas as câmaras do Parlamento depois que seu principal aliado, o Partido Liberal, lhe tirou o apoio e ordenou a renúncia de seus quatro ministros no governo.

Apenas uma deputada esquerdista votou a favor de Lugo na câmara baixa, e três senadores por uma moção que teria concedido uma sobrevida de três dias ao presidente para preparar sua defesa.

De acordo com o regulamento e calendário aprovados pelo Senado, Lugo (ou seus advogados) terá que comparecer amanhã para expor sua defesa em uma sessão extraordinária às 12h (13h de Brasília).

Em seguida, o tribunal resolverá sobre a admissão ou rejeição das provas apresentadas pelas partes. Depois, os promotores e acusado apresentarão suas alegações orais, e às 16h30 (17h30) os senadores emitirão sua sentença inapelável.

Publicidade

Caso seja considerado culpado, Lugo será imediatamente afastado do cargo. Neste caso, quem assumiria de forma interina é o vice-presidente, o liberal Federico Franco, até a realização de eleições gerais, previstas para abril de 2013.

O senador Carlos Filizzola, que perdeu a pasta do Interior devido ao confronto na fazenda de Curuguaty no último dia 15, chamou o processo de "manobra política para truncar o mandato" de Lugo, e destacou que ela foi organizada "de maneira recorde" na história do Paraguai.

O último presidente do Paraguai que se submeteu e perdeu um "julgamento político" foi Raúl Cubas, cassado em 1999 durante o violento "março paraguaio".

O liberal Luis Alberto Wagner, apesar de ter reafirmado a decisão de seu partido de abandonar Lugo, advertiu que "qualquer pressa e tentativa de golpe e para definir o impeachment do presidente sofrerá uma condenação não só nacional, mas também internacional".

Publicidade

Em um breve comunicado, as Forças Armadas asseguraram que "se mantêm dentro de sua função específica que lhe é conferida pela Constituição e as leis, respeitando a ordem constitucional e democrática vigente". EFE

ja/id

(foto) (vídeo)

  
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações