Bispos dos EUA pedem investigação do Vaticano apoiada por leigos sobre abusos cometidos por ex-cardeal

16 ago 2018 - 16h52

Bispos da Igreja Católica Romana dos Estados Unidos pediram nesta quinta-feira uma investigação liderada pelo Vaticano apoiada por investigadores leigos sobre acusações de abusos sexuais cometidos pelo ex-cardeal Theodore McCarrick, de Washington e que renunciou no mês passado.

Cardeal DiNardo em Roma
 5/3/2013    REUTERS/Alessandro Bianchi
Cardeal DiNardo em Roma 5/3/2013 REUTERS/Alessandro Bianchi
Foto: Reuters

O pedido acontece dois dias após um grande júri na Pensilvânia divulgar as descobertas da maior investigação até hoje em torno de abusos sexuais na Igreja Católica dos EUA, entendendo que 301 padres no Estado abusaram sexualmente de menores de idade durante os últimos 70 anos.

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    "Independentemente dos detalhes que podem surgir a respeito do arcebispo McCarrick ou dos muitos abusos na Pensilvânia (ou em qualquer outro lugar), nós já sabemos que uma causa inicial é o fracasso da liderança episcopal", disse o cardeal Daniel DiNardo, presidente da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos, em comunicado.

    O grupo informou que irá criar uma nova maneira para que vítimas de abusos sexuais cometidos clérigos relatem acusações e para que estas acusações sejam investigadas sem interferências de bispos que supervisionam padres acusados de abusos sexuais.

    O grupo informou que o mecanismo irá envolver mais membros da Igreja que não são membros do clero, mas que possuem especialidades em psicologia ou na aplicação da lei.

    O relato do grande júri na Pensilvânia de terça-feira é a turbulência mais recente em um escândalo que irrompeu ao cenário global em 2002, quando o Boston Globe relatou que durante décadas padres haviam abusado sexualmente de menores enquanto líderes da Igreja acobertavam os crimes.

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    Relatos similares desde então surgiram na Europa, na Austrália e no Chile, gerando processos judiciais, levando dioceses à falência e enfraquecendo a autoridade moral da liderança da Igreja Católica, que possui cerca de 1,2 bilhão de membros ao redor do mundo.

    Um proeminente grupo católico, que foi formado para impulsionar as vozes de paroquianos após o escândalo de abusos surgir, expressou preocupação sobre como o processo de relatos de novos abusos irá funcionar.

    "Eu levo tudo de forma cética, mas esta é a afirmação mais forte que posso lembrar envolvendo leigos e aplicação da lei", disse Nick Ingala, porta-voz do grupo Voice of the Faithful, em entrevista por telefone.

    Ele disse que será essencial que qualquer novo processo de revisão seja independente de influência do clero, mas acrescentou: "Eu não sei como eles irão resolver isto".

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    McCarrick se tornou no mês passado o primeiro cardeal a perder seu chapéu vermelho e título. Outros cardeais que foram disciplinados em escândalos de abusos sexuais mantiveram o honorífico "Vossa Eminência".

    O Vaticano ainda não comentou publicamente sobre o relato do grande júri da Pensilvânia. A prática de rotina do Vaticano é deixar tal comentário para organizações nacionais de bispos.

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