Após Israel aprovar plano de paz com Hamas, exército acelera retirada de tropas da Faixa de Gaza

O fim da guerra na Faixa de Gaza pode estar próximo, após a ratificação do governo israelense ao plano negociado com o grupo Hamas, no Egito, nesta sexta-feira (10). Segundo comunicado do exército israelense, o cessar-fogo entrou em vigor às 6h no horário de Brasília.

10 out 2025 - 06h29
(atualizado às 08h11)
Resumo
Israel e Hamas aprovaram um acordo de paz mediado por Donald Trump, que inclui troca de prisioneiros, cessar-fogo iniciado em 10/10/2025 e retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, com apoio internacional.
Israel anuncia acordo de paz com Hamas e prevê cessar-fogo em até 24 horas
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O acordo sobre a primeira fase do plano de 20 pontos proposto pelo presidente americano, Donald Trump, para pôr fim à guerra foi aprovado em negociações indiretas, na quinta-feira (9), no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh. O compromisso prevê a troca dos 48 reféns em poder do Hamas, desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, por cerca de 2.000 palestinos detidos em Israel. 

"O governo acaba de aprovar o quadro para a libertação de todos os reféns, vivos ou mortos", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na rede X. Netanhyahu confirmou nesta sexta que 20 reféns estão vivos e 28 mortos. O chefe de governo disse que esperava que seu país pudesse celebrar "um dia de alegria nacional" já na noite de segunda-feira, com o retorno de todos os reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza.

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"Há dois anos [em 7 de outubro de 2023], o feriado de Simchat Torá [a alegria da Torá, nota do editor] tornou-se um dia de luto nacional. Este ano, com a ajuda de Deus, Simchat Torá se tornará um dia de alegria nacional, uma alegria pelo retorno de todos os nossos irmãos e irmãs reféns", declarou Netanyahu em um discurso à nação. Este ano, Simchat Torá começa na noite de segunda-feira. 

Após a aprovação do acordo, a legislação israelense estabelece que organizações ou indivíduos podem apresentar petições de contestação à Suprema Corte durante um prazo de 24 horas. Em acordos anteriores, esse prazo também foi cumprido, mas não impediu que as decisões aprovadas pelo governo fossem colocadas em prática. 

Em princípio, a libertação dos reféns deve ocorrer na segunda-feira (13). Na sequência, Israel também deverá libertar 250 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua por crimes contra cidadãos israelenses. Além desses prisioneiros, Israel também libertará cerca de 1.700 palestinos presos em Gaza após o início da guerra, mas que não estiveram envolvidos nos ataques do Hamas a Israel em 2023. 

Depois disso, as tropas israelenses deverão recuar ainda mais na Faixa de Gaza, seguindo a ordem das linhas de retirada que foram negociadas com o Hamas. Ainda assim, Israel manterá o controle de partes do território. No final do processo, os soldados permanecerão numa zona tampão em todo o contorno de Gaza, no interior do enclave palestino. 

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Essa zona tampão, ou zona de segurança, tem como objetivo impedir a aproximação da cerca que divide os territórios de Gaza e Israel. Ela poderá variar entre 500 metros e 1,5 quilômetro. 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, virá a Israel, possivelmente entre domingo (12) e segunda-feira. Ele foi convidado a fazer um pronunciamento no Knesset, o Parlamento israelense. Se isso acontecer, Trump será o quarto presidente dos EUA a discursar no Knesset, após George W. Bush, Bill Clinton e Jimmy Carter. 

Apoio da população 

Em Israel, há apoio majoritário da população ao acordo para encerrar a guerra. Segundo o canal israelense i24, 84% dos entrevistados apoiam o plano. A pesquisa também mostrou que 76% consideram que Donald Trump deve receber o Prêmio Nobel da Paz. Mas a recompensa foi atribuída nesta sexta-feira (10) à opositora venezuelana Maria Corina Machado. 

Os Estados Unidos vão enviar 200 soldados como parte de uma força de estabilização para Gaza, disseram na quinta-feira dois altos funcionários americanos. Esse primeiro contingente servirá de base para a formação de um grupo de intervenção maior, que inclua Egito, Catar, Turquia e, provavelmente, os Emirados Árabes Unidos. 

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"Os militares terão como missão garantir que não haja violações ou incursões e trabalharão ao lado de militares egípcios, cataris, turcos e emiradenses, mantendo contato constante com os israelenses", afirmou um responsável durante conversa com jornalistas. Não está previsto que militares americanos entrem em Gaza. 

Brasil elogia acordo 

Em nota, o governo brasileiro elogiou o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas e destacou que ele representa um "passo essencial para interromper os ataques que já causaram mais de 67 mil mortes e o deslocamento de quase dois milhões de pessoas" na Faixa de Gaza. 

Segundo o Itamaraty, o cessar-fogo deverá resultar em alívio efetivo para a população civil e permitir a entrada de ajuda humanitária, além de "criar as condições para a imediata reconstrução de Gaza, com o apoio da comunidade internacional". 

O Brasil reconheceu o papel dos Estados Unidos, do Catar, do Egito e da Turquia como mediadores e exortou todas as partes a cumprirem os termos do acordo, incluindo a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos. 

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O Itamaraty reafirmou ainda a posição histórica do Brasil em defesa da solução de dois Estados na região, com um Estado da Palestina independente e viável, convivendo lado a lado com Israel, dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como capital. 

"Momento histórico", diz presidente palestino

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, declarou na quinta-feira, em rara entrevista concedida a uma emissora de televisão israelense, que deseja "paz, segurança e estabilidade" entre os palestinos e Israel. 

"O que aconteceu hoje é um momento histórico", afirmou Abbas durante entrevista à emissora Canal 12, em Ramallah, sede da Autoridade Palestina, referindo-se à mediação bem-sucedida.

"Esperávamos e continuamos esperançosos de conseguir pôr fim ao banho de sangue que assola nosso país, seja na Faixa de Gaza, na Cisjordânia ou em Jerusalém Oriental", acrescentou. "Esperamos que continue assim e que a paz, a segurança e a estabilidade prevaleçam entre nós e Israel", concluiu Abbas. 

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Com agências

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