Após 2 anos de guerra e mais de 65 mil mortos, palestinos voltam a Gaza com trégua histórica entre Israel e Hamas

A trégua, mediada pelos Estados Unidos, marca a primeira fase de um acordo que prevê a retirada parcial das tropas israelenses, a libertação de reféns e a entrada de ajuda humanitária

11 out 2025 - 10h39
(atualizado às 13h56)
Resumo
Após dois anos de guerra e mais de 67 mil mortes, uma trégua histórica mediada pelos EUA inicia a retirada parcial de tropas israelenses, troca de reféns e envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, marcando o primeiro passo rumo à paz.
Palestinos, carregando os pertences que conseguiram levar consigo, movem-se em direção à parte norte da Faixa de Gaza pela Rua Rashid, que conecta o norte e o sul do enclave, na Cidade de Gaza
Palestinos, carregando os pertences que conseguiram levar consigo, movem-se em direção à parte norte da Faixa de Gaza pela Rua Rashid, que conecta o norte e o sul do enclave, na Cidade de Gaza
Foto: Khames Alrefi/Anadolu via Getty Images

Milhares de palestinos retornaram neste sábado, 11, ao norte da Faixa de Gaza após o início do cessar-fogo entre Israel e o Hamas. A trégua, mediada pelos Estados Unidos, marca a primeira fase de um acordo que prevê a retirada parcial das tropas israelenses, a libertação de reféns e a entrada de ajuda humanitária. O conflito, que durou dois anos, deixou mais de 67 mil mortos e devastou grande parte do território palestino.

Os moradores da Faixa de Gaza despertaram neste sábado após a primeira noite sem bombardeios, desde a assinatura do cessar-fogo que marca a fase inicial do plano de paz proposto por Donald Trump para a região. As próximas horas serão decisivas: cerca de 2 mil prisioneiros palestinos devem ser trocados pelos últimos reféns israelenses ainda vivos.

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As tropas israelenses recuaram como parte da primeira fase deste acordo mediado nesta semana pelos Estados Unidos, com o objetivo de encerrar uma guerra que já deixou dezenas de milhares de mortos e destruiu grande parte do território palestino.

Representantes do Programa Mundial de Alimentos (PMA), da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) e do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC) afirmaram à AFP que estão prontos para expandir massivamente suas operações em Gaza. O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários também informou ter recebido sinal verde de Israel para enviar 170 mil toneladas de ajuda e já conta com um plano de resposta para os primeiros 60 dias da trégua.

"É uma sensação indescritível; graças a Deus", disse Nabila Basal, que caminhava ao lado da filha, ferida na cabeça durante os confrontos. "Estamos muito, muito felizes que a guerra tenha acabado e o sofrimento tenha cessado." 

Após uma "viagem especialmente exaustiva", Raja Salmi conseguiu retornar ao seu bairro de al-Rimal, no coração da cidade de Gaza, onde os bombardeios das últimas semanas destruíram áreas que o Exército israelense alegou abrigar milhares de combatentes do Hamas.

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Mas seu apartamento havia desaparecido: o prédio "não existe mais, virou apenas um monte de escombros"."Fiquei parada diante daqueles destroços e comecei a chorar. Todas as lembranças viraram pó", contou ela à AFP.

Segundo a rádio do Exército israelense, o enviado do presidente norte-americano Donald Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, esteve em Gaza na manhã deste sábado para acompanhar a retirada das tropas israelenses. Ele estava acompanhado do almirante Brad Cooper, chefe do Comando Central das Forças Armadas dos Estados Unidos (CENTCOM), que afirmou, em comunicado, que a visita faz parte da criação de uma força-tarefa para apoiar os esforços de estabilização em Gaza — sem o envio de tropas americanas ao território.

Contagem regressiva para a libertação dos reféns

Com a retirada israelense concluída na sexta-feira — as forças permanecem fora das principais áreas urbanas, mas ainda controlam cerca de metade da Faixa de Gaza —, começou a contagem regressiva para a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas, prevista para ocorrer em até 72 horas.

"Estamos muito ansiosos, esperando nosso filho e os outros 48 reféns", disse Hagai Angrest, pai de Matan, um dos 20 israelenses que ainda estariam vivos. "Estamos aguardando a ligação."

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Vinte e seis reféns foram declarados mortos, e o paradeiro de outros dois ainda é desconhecido.

Pelo acordo firmado, após a libertação dos reféns, Israel deverá soltar 250 palestinos condenados a longas penas, além de 1.700 detidos durante a guerra.

Centenas de caminhões com alimentos e medicamentos devem entrar diariamente em Gaza, conforme estipulado no pacto.

Trump visitará Israel e Egito

Apesar do avanço representado pelo cessar-fogo e pela troca de prisioneiros — considerada a maior conquista rumo ao fim de dois anos de conflito —, ainda há incertezas sobre a possibilidade de uma paz duradoura, dentro do plano de 20 pontos proposto por Donald Trump.

Diversas questões permanecem em aberto, como a administração de Gaza após o fim dos combates e o futuro do Hamas, que rejeita as exigências israelenses de desarmamento.

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Falando na Casa Branca, Trump afirmou acreditar que o cessar-fogo será mantido: "Todos estão cansados de lutar", disse. O ex-presidente mencionou haver um "consenso" sobre os próximos passos, embora tenha reconhecido que ainda há detalhes a serem resolvidos.

Tanto israelenses quanto palestinos celebraram o anúncio do acordo, que encerra uma guerra que deixou mais de 67 mil palestinos mortos e busca garantir o retorno dos últimos reféns capturados durante o ataque do Hamas que deu início ao conflito.

O ataque, ocorrido em 7 de outubro de 2023, teve como alvos cidades israelenses, bases militares e um festival de música. Na ocasião, militantes do Hamas mataram 1.200 pessoas — a maioria civis — e sequestraram 251 reféns.

Donald Trump é esperado na região na próxima segunda-feira. Ele discursará no Parlamento israelense (Knesset), tornando-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a fazê-lo desde George W. Bush, em 2008. Trump também anunciou que visitará o Egito e que outros líderes mundiais devem participar dos encontros.

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Com AFP

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