"Compre um sapato com salto alto, de princesa, como você sempre sonhou. Pegue uma faca e danifique o salto. Vá para a rua, ande com calma até achar um hidrante. Quando encontrar, faça o salto quebrar e caia com a barriga no hidrante, com força. Grite bastante e vão achar que seu aborto foi um acidente."
Essas instruções fazem parte de uma campanha pela legalização do aborto que está causando polêmica no Chile. Os vídeos, em formato de tutorial, ensinam como fazer um aborto acidental.
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Terminam com a frase: "No Chile, um aborto acidental é o único aborto que não é delito" - e pedem apoio à lei que permite o aborto em caso de risco à vida da mãe, estupro ou quando o feto não tem chances de viver.
Em outros vídeos, uma atriz ensina como ser atropelada para abortar, ou como cair de uma escada. Eles já foram assistidos milhares de vezes no Youtube.
"A mensagem principal é que no Chile as mulheres estão tão desesperadas por não ter acesso a um aborto terapêutico que têm que chegar a provocar abortos 'acidentais'", diz Claudia Dides, diretora da ONG Miles, que promoveu a campanha.
As peças, no entanto, sofreram críticas de pessoas que acham que algumas mulheres podem de fato seguir os conselhos.
"Obviamente não estamos falando para as mulheres provocarem um acidente. Acho que fomos responsáveis. Esses vídeos são polêmicos e iniciam uma discussão", argumenta Dides.
O projeto de lei e a campanha sofrem oposição da Igreja Católica e de grupos conservadores no Chile.
"Dar informações de maneira tão leviana causa mais controvérsia e pode provocar um problema de saúde pública mais do que elevar o nível do debate", diz Jorge Acosta, do Instituto Republica.
"Sem dúvidas houve casos dramáticos no Chile, como de crianças e adolescentes, houve o caso de uma menina de 11 anos que foi violada, mas o dano que o aborto provocaria nesta menina é maior do que se ela tiver o bebê", completa.
Nas redes sociais, os vídeos também causaram polêmica, com alguns defendendo o direito das mulheres de decidir e outros acusando a campanha de assassina.