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Filósofa: escola não deve ir contra imaginação de meninos

16 jul 2014 - 14h45

O que explica as diferenças de comportamento entre meninos e meninas? A sociedade é mais intolerante com os meninos? A escritora e filósofa americana Christina Hoff Sommers trouxe esses questionamentos à tona em 2001 no livro A guerra contra os meninos, pouco após o massacre na escola americana Columbine, protagonizada por dois adolescentes. 

Em 2013, ela lançou A guerra contra os meninos - Como políticas erradas estão prejudicando os nossos jovens, uma versão atualizada do livro de 2001, que apresenta novas questões como a exclusão dos meninos do processo de aprendizagem. Na sua visão, os métodos de ensino, em geral, estão mais voltados a valorizar o comportamento e habilidades típicas de meninas. Nessa entrevista exclusiva ao Terra, Christina explica como e por que os garotos estão sendo prejudicados nas escolas por se comportarem como verdadeiros… meninos.

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Terra - Quais as diferenças biológicas e comportamentais entre meninos e meninas?

Christina Hoff Sommers - Muitos anos atrás, uma grande fábrica de brinquedos testou uma casa de brinquedos com meninos e meninas. Logo perceberam que eles não interagiram com a estrutura da mesma forma. As garotas vestiram e beijaram as bonecas. Os garotos jogaram o carrinho de bebê de cima do telhado. A gerente geral da Hasbro (empresa americana fabricante de brinquedos e jogos) veio com nova explicação: meninos e meninas são diferentes. Em grupo, os meninos tendem a ser ruidosos, confusos, desorganizados e mais difíceis de controlar do que as meninas. Eles tendem a gostar de ação, risco e competição. É característico dos meninos "brincar de luta". Meninas também fazem isso, mas muito menos.

A biologia parece desempenhar um papel. Vários estudos em animais mostraram que a manipulação hormonal pode reverter um comportamento típico de um sexo. Quando os pesquisadores expuseram fêmeas de macacos Rhesus a hormônios masculinos no pré-natal, essas fêmeas apresentaram níveis de "brincadeiras de luta" próximos aos dos machos.

Resultados similares foram encontrados em seres humanos. Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) é uma condição genética que resulta quando o feto feminino é submetido a grandes quantidades incomuns de hormônios masculinos. Meninas com HAC tendem a preferir caminhões, carros e construção do que bonecas e brincadeiras de chá. Como a psicóloga Doreen Kimura escreveu na revista Scientific American: "Estes resultados sugerem que essas preferências foram alteradas de alguma forma pela exposição hormonal antecipada." Eles também lançam dúvidas sobre a visão de que as brincadeiras típicas para um gênero ou outro são formadas principalmente pela socialização.

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Terra - Por que as necessidades dos meninos são diferentes das necessidades das meninas, considerando crianças da mesma idade e vivendo na mesma cultura?

Christina - Meninos e meninas podem viver na mesma cultura e estar na mesma faixa etária, mas isso não os faz o mesmo, não importa o quanto alguns ativistas de gênero gostariam que fosse assim. Os meninos, em geral, se adaptam menos à escola. As meninas tendem a ter melhores habilidades verbais e sociais, já aos dois ou três anos. Então, garotos começam com uma desvantagem e muitos nunca as alcançam. As salas de aula de hoje tendem a ser centradas em emoções e de aversão ao risco, não promovem competição e são sedentárias. Já na pré-escola e no jardim de infância, os meninos podem ser punidos por se comportar como os meninos.

Terra - No geral, quais as diferenças entre meninos e meninas? Eles aprendem de forma diferente?

Christina - Bem, lembre-se, estamos falando de médias aqui. Há alguns meninos e meninas que desafiam os estereótipos do seu sexo. Mas o fato é que a maioria os incorpora. Normalmente os meninos terão mais dificuldade com a leitura e a escrita. Os professores devem estar cientes disso e encontrar materiais de leitura que agrade os meninos. Estudos britânicos sugerem que os homens preferem não ficção do que a ficção, por exemplo. Os professores também precisam trabalhar com, e não contra, a imaginação masculina. Com os rapazes, deve haver narrativas de ação, super-heróis e humor. Os professores que não permitem isso podem criar um ambiente hostil para os meninos. 

Também é fundamental dar mais recreio para que eles possam se envolver em brincadeiras sem monitoramento (de um adulto). As meninas precisam disso, claro, mas para os meninos parece ser ainda mais importante. Alguns pesquisadores acreditam que o recreio e mais brincadeiras mais duras (como as de luta) são uma cura para a epidemia de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade entre os meninos nos Estados Unidos.

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Terra - Como as escolas podem tornar o ensino mais atrativo para os meninos?

Christina - Resumindo: para ajudar os meninos a serem bem sucedidos, os professores vão ter que aceitar que eles são diferentes das meninas, mas igualmente merecedores de uma boa educação. Se eu fosse listar as quatro coisas mais importantes que os professores podem fazer seriam:

1) Foco massivo em ensinar os meninos a ler e gostar de ler. Isso significa encontrar livros que eles considerem irresistíveis. Aqui é um bom lugar para ir: http://guysread.com/.

2) Faça das salas de aula das séries iniciais lugares animados, engraçados, onde os meninos se sintam bem-vindos.

3) Muito recreio e jogos e brincadeiras livres.

4) Lembre-se que ser um menino não é uma patologia que precisa ser curada: se eles são constantemente reprovados por seus interesses e entusiasmos, eles tendem a se tornar excluídos (do processo de aprendizagem) e ficar ainda mais para trás. Nossas escolas precisam trabalhar com, e não contra, a imaginação dos meninos para que eles se tornem homens educados.

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Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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