- Renata Crawshaw
Para tentar reverter a "troca da qualidade de ensino pela quantidade de escolas" de medicina no País, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) tornou obrigatório o Exame do Cremesp, um processo de avaliação dos formandos em Medicina semelhante ao aplicado pela Ordem dos Advogados do Brasil.
A diferença, por enquanto, é que o Exame de Ordem tem força de lei, e sem aprovação os bacharéis em direito não podem advogar. Na medicina, o exame (que existe há sete anos em caráter facultativo) será obrigatório, mas a nota não impedirá o profissional de trabalhar. A primeira prova no novo modelo acontece em novembro. Em entrevista ao Terra, o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior, afirmou que, apesar de ser o segundo país com mais escolas de Medicina no mundo, o Brasil não forma bons médicos na mesma proporção. "São escolas que não têm hospital de ensino, não têm corpo docente em número e qualidade suficiente, não têm biblioteca, laboratório, nem cadáver para estudo de anatomia, e não tem garantia de residência médica após a graduação". Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Terra - Por que o aluno que fizer a prova e for reprovado vai receber o registro?
Renato Azevedo Júnior Porque não temos uma lei que nos permita negar o registro de um médico que se forma em qualquer faculdade de medicina no Brasil hoje. Diferente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que tem uma lei federal que permite a ela não dar o registro para quem não passa no exame. Infelizmente, ainda não temos essa lei, a gente apoia um projeto que prevê que o estudante reprovado volte à faculdade e fique mais um ano em estágio. A obrigatoriedade que o conselho de medicina de São Paulo está exigindo é o comparecimento e a realização da prova, aí o recém-formado receberá um documento do conselho, que será um dos exigidos para ele obter o registro médico.
Terra - Qual o principal objetivo de fazer prova já que não existe obrigatoriedade da aprovação?
Azevedo O primeiro objetivo é fazermos avaliação do ensino médico. O resultado será fornecido de maneira confidencial. Será feito um consolidado do exame, que será fornecido para cada escola. Essa informação também vai para o Ministério da Educação (MEC). Tem acontecido no Brasil nos últimos anos uma troca da qualidade do ensino pela quantidade de escolas de medicina. Hoje temos 196 escolas, somos o 2º colocado mundial, só perdemos para a Índia.O nosso exame, que por enquanto é voluntário e com questões básicas em medicina, tem demonstrado isso, já que 50% dos estudantes não conseguem aprovação. E, paralelamente, há essa abertura indiscriminada de escolas médicas autorizadas pelo MEC. Hoje, o médico sai mal formado de uma faculdade qualquer e já ganha o registro. Não dá mais para continuar assim.
Terra - O anúncio do MEC da criação de 2,4 mil vagas de cursos de medicina vai de encontro ao Cremesp?
Azevedo Em qual hospital escola eles vão estudar? Tem corpo docente em número e em qualidade suficiente para atender a esses alunos? Eles têm garantia de vaga na residência médica? Não tem. Hoje temos vaga na residência médica apenas para metade dos alunos que se formam como você vai aumentar o número sem essa garantia?
Terra - O cenário de despreparo nas escolas de medicina é uma tendência nacional?
Azevedo Tem sido no Brasil inteiro. Em São Paulo vamos alcançar o número absurdo de 36 faculdades de medicina. Tem cidades médias do interior paulista que tem três faculdades de medicina. A má formação é uma consequência imediata. E o mais espantoso é que a maioria das faculdades é privada, que cobram de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês dos estudantes. Para chegar ao fim do curso e a faculdade falar que ele vai ter que arrumar um estágio em um hospital. Não é séria uma coisa dessas.
Terra - Quais seriam as alternativas para melhorar o ensino da medicina, além do exame obrigatório?
Azevedo Essa é uma função, uma obrigação e um dever do MEC, junto com o Ministério da Saúde. O aparelho formador é obrigação do ministério, eles têm todas as informações sobre a má qualidade do ensino médico no Brasil, muito mais do que a gente tem. Inúmeras faculdades deveriam ser fechadas porque não têm a menor condição de ensinar medicina para ninguém. Mas o MEC não fecha e, pelo contrário, autoriza a abertura de cada vez mais cursos.
Terra - A ideia é que a prova se tornasse como um exame da OAB?
Azevedo A gente defende aqui em São Paulo que seja aprovada uma lei no Congresso Nacional para que se estabeleça o exame de habilitação do recém-formado em medicina. E aquele que não conseguir aprovação no exame, volta para a faculdade e fica mais um ano aprendendo e estudando, e depois se submete ao exame novamente.
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Sho Yano aprendeu a ler aos 2 anos, a escrever aos 3 e a compor músicas aos 5. Aos 9, entrou na universidade e começou a faculdade de medicina três anos depois, já com um Ph.D em genética molecular e biologia celular. Ele se forma em 2012, aos 21 anos, o mais jovem a se tornar médico na Universidade de Chicago
Foto: AP
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O mexicano Andrew Almazán Anaya, 16 anos, é considerado um menino prodígio por sua precocidade intelectual; em agosto deste ano ele concluiu a faculdade de psicologia, enquanto simultaneamente terminava os últimos semestres de medicina
Foto: EFE
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Vestido com gravata e jaleco de médico, ele trabalha em uma pequena escola de aprendizagem para superdotados fundada por seus pais há um ano
Foto: EFE
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Aos seis anos, o menino já havia lido obras de Shakespeare, enumerava ossos do corpo humano e planetas e exibia uma 'memória prodígio'
Foto: EFE
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Com apenas 12 anos, Andrew ingressou na universidade e em 2011 tornou-se o mais jovem psicólogo da Universidade do Vale do México; veja mais
Foto: EFE
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Aos 13 anos, o argentino Kouichi Cruz começou a cursar três faculdades: matemática, engenharia informática e ciências econômicas; a família chegou a pensar que ele fosse autista, mas os exames médicos indicaram que o menino tinha QI mais alto que a média das crianças da sua idade; veja mais
Foto: BBC Brasil
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A paulista Deborah Alves, 18 anos, já perdeu a conta de quantas medalhas conquistou em olímpiadas de matemática pelo mundo, mas a jovem não se considera um 'gênio', e sim uma pessoa muito dedicada aos estudos; em setembro deste ano ela embarcou para os Estados Unidos para estudar naquela que é considerada a melhor universidade do mundo: Harvard
Foto: Arquivo Pessoal
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O bom desempenho nas olímpiadas - foram mais de dez medalhas - ajudaram a jovem a conseguir a bolsa para estudar em Harvard
Foto: Arquivo Pessoal
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A estudante, que desde pequena adorava fazer cálculos, começou a participar das olimpíadas na quinta-série, incentivada pelos professores do colégio onde estudava em São Paulo; 'não foi tudo fácil, eu tive que estudar muito', afirma a jovem; veja mais
Foto: Arquivo Pessoal
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Outra brasileira que foi destaque pela determinação é a jovem Maria Júlia Segantini, 21 anos; no começo do ano ela pode escolher a faculdade de medicina que preferia estudar já que foi aprovada em seis vestibulares para o curso, considerado o mais concorrido do País; Júlia optou pela USP
Foto: Arquivo Pessoal
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O galês Cameron Thompson tem 14 anos e já cursa matemática na Open University, no Reino Unido; aos 10 anos ele venceu concursos de cálculos pela internet e foi considerado um gênio por desvendar problemas complexos, no entanto, hoje o adolescente apresenta problemas de relacionamento e diz ter a 'sociabilidade de uma barata'.
Foto: BBC Brasil
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Reportagem do jornal britânico The Sun deste ano destacou o sucesso de uma estudante taiwanesa em um concurso de linguagem na Inglaterra; Sonia Yang tem apenas 10 anos de idade e fala dez idiomas, entre eles o português
Foto: The Sun
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Quando estava na quarta série, a americana Shree Bose (esq.) já havia construído uma lata de lixo guiada por controle remoto; quando completou 17 anos, em 2011, ela ganhou um prêmio de R$ 100 mil do Google por desenvolver uma terapia contra o câncer; leia mais
Foto: The New York Times
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Jovens brasileiros também fazem façanhas consideradas impossíveis para a maioria das pessoas; é o caso da paulista Marcela Santos, que com apenas 16 anos passou em nove vestibulares de medicina, entre eles o da USP, Unicamp, Unesp, Unifesp e UFRJ
Foto: Arquivo Pessoal
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Em julho deste ano, os melhores estudantes de matemática de todo o mundo se reuniram em Amsterdam para competir na Olímpiada Mundial de Matemática
Foto: EFE
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Considerados 'gênios' da matemática por resolver cálculos complexos de teoria dos números, álgebra e geometria, os estudantes de 100 países demonstravam concentração durante os testes
Foto: EFE
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No intervalo entre uma prova e outra, os cerca de 600 alunos de todo o mundo aproveitavam para descansar da maratona exaustiva de questões
Foto: EFE
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Receber uma medalha de campeão na matemática é uma grande conquista para os jovens, e abre portas nas melhores universidades do mundo
Foto: EFE
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E não são só americanos, japoneses, coreanos que figuram entre os 'gênios' das olimpíadas de matemática; uma equipe brasileira também esteve representada no torneio mundial na Holanda e voltou para casa com 6 medalhas, entre elas a da estudante Deborah Alves, que ganhou bolsa para estudar em Harvard
Foto: OBM
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Em agosto deste ano, estudantes do ensino médio ganharam quatro medalhas de prata para o Brasil na Olimpíada de Matemática do Cone Sul, em La Paz, na Bolívia
Foto: OBM
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Em setembro deste ano, os 'gênios' brasileiros ganharam quatro medalhas na Olimpíada Iberoamericana de Matemática na cidade de San José, na Costa Rica
Foto: OBM
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Universitários brasileiros também mostram seu talento nas competições internacionais, na foto a equipe que representou o País na competição de matemática para estudantes universitários em agosto na Bulgária; o resultado foi uma medalha de outo, cinco de prata e sete de bronze
Foto: OBM
Fonte: Terra