Operação Carbono não mira fraude em pesquisas eleitorais, ao contrário do que afirmam postagens

BANCO GENIAL PARCEIRO DA QUAEST EM LEVANTAMENTOS SOBRE INTENÇÕES DE VOTO É CITADO NA AÇÃO DEVIDO À INVESTIGAÇÃO SOBRE UM FUNDO DE INVESTIMENTOS

5 set 2025 - 16h21

O que estão compartilhando: vídeos afirmam que a Polícia Federal teria descoberto uma ligação do crime organizado para manipulação de pesquisas eleitorais "favoráveis" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Operação Carbono Oculto teria revelado a conexão entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o banco Genial Investimentos, que financia o instituto de pesquisa Quaest. Os conteúdos ainda citam que o PT e a Globo estariam envolvidos com a suposta falsificação dos levantamentos de intenções de voto.

Foto: Estadão

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. Os comunicados das autoridades públicas sobre a megaoperação não citam pesquisas eleitorais feitas pelo Instituto Quaest em parceria com a Genial Investimentos ou qualquer outro levantamento sobre intenções de voto no Brasil divulgado pela imprensa brasileira. A Operação Carbono Oculto foi detalhada em coletivas de imprensa do Ministério da Justiça e do Ministério Público de São Paulo (MPSP) em 28 de agosto. A investigação está sob segredo de Justiça.

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Em nota, o banco Genial negou que pesquisas estejam ligadas à ação. Segundo a instituição, em reunião com o MPSP, foi esclarecido que o banco não é um alvo da operação e deve apenas prestar esclarecimentos sobre um fundo de investimento investigado.

Ao longo da disputa à Presidência em 2022, Lula esteve à frente das principais pesquisas eleitorais do Brasil, não apenas da Quaest, no primeiro e segundo turno. Não há qualquer evidência de manipulação.

Saiba mais: a Operação Carbono Oculto, deflagrada na semana passada, investiga a infiltração do crime organizado na economia formal do País. Os agentes fizeram buscas e apreensões na Faria Lima, um dos mais importantes centros comerciais. Eles apuram crimes como adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e estelionato.

A investigação é feita em conjunto pelas Polícias Federal e Militar, promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo e agentes das Receitas Estadual e Federal.

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Após o início das ações contra empresas do setor de combustíveis e instituições financeiras, passaram a circular nas redes sociais publicações sobre o caso. Devido a citação do banco Genial na ação, que tem uma parceria com o instituto Quaest, usuários passaram a dizer que as pesquisas eleitorais eram manipuladas pelo crime organizado a favor de Lula.

Em vídeo publicado no YouTube, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) diz que "o banco Genial, que financiava pesquisas que favoreciam o Lula, lavava dinheiro para o PCC". Ele ainda afirma que os resultados que colocavam o presidente à frente de Bolsonaro eram divulgados pela Globo, relacionando a emissora à investigação.

As alegações de Gayer, contudo, não são comprovadas nos comunicados públicos sobre o tema. Apesar de o caso estar sob segredo de Justiça, os órgãos envolvidos na operação detalharam a investigação em coletivas de imprensa transmitidas no dia 28 de agosto. Não há nenhuma citação à manipulação de pesquisas eleitorais por empresas e facções criminosas.

As explicações das autoridades e os comunicados oficiais da Polícia Federal e da Receita Federal também não citam como alvos o instituto Quaest, a emissora Globo ou o PT. Em nota, a Genial Investimentos negou o envolvimento de pesquisas eleitorais com a operação.

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O Verifica procurou Gayer, que não respondeu até a publicação da checagem.

Genial administrava um fundo investigado na megaoperação; não há ligação com pesquisas eleitorais

A Genial Investimentos financia pesquisas eleitorais do instituto Quaest desde 2022 e disse, por nota, que as alegações sobre envolvimento dos levantamentos eleitorais com a operação são "falsas". A instituição ainda ressaltou que, em reunião com o MPSP, no dia 3 de setembro, foi esclarecido que a corretora não é investigada pela Polícia Federal.

O banco é citado na ação devido à administração do Radford Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado, que foi alvo de um bloqueio judicial por parte das autoridades. A investigação aponta que o fundo aparece entre os quarenta alvos da operação.

A Genial Investimentos é considerada pelo Ministério Público um "terceiro de boa-fé e mencionado apenas para fornecer informações sobre o Fundo Radford", segundo comunicado divulgado pela instituição financeira.

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Como explicou o site E-Investidor, do Estadão, o fundo foi incluído na lista de investigação em um termo firmado entre o Gaeco e representantes da Genial. Foi determinado que sejam enviados dados cadastrais, bancários e fiscais sobre o Radford.

O Genial afirmou que cumpriu as diligências sobre o Radford e renunciou imediatamente à prestação dos serviços ao fundo.

À reportagem, o MPSP informou que "a Operação Carbono Oculto está sendo investigada sob segredo de Justiça".

Pesquisas de vários institutos indicavam vitória de Lula nas eleições

As postagens analisadas pelo Verifica alegam que as pesquisas da Genial/Quaest eram "favoráveis" a Lula na corrida eleitoral de 2022. Porém, outros levantamentos também indicaram a vitória do petista nas eleições presidenciais.

A 90 dias do primeiro turno, Lula tinha 46% das intenções de voto para ocupar o cargo, contra 30% de Jair Bolsonaro (PL). A média foi feita, na época, a partir de um agregador do Estadão Dados de pesquisas divulgadas por 14 empresas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Dias antes do pleito, que ocorreu em 2 de outubro, Lula também liderava no agregador de pesquisas, com 51% das intenções. No fim do primeiro turno, o petista ficou à frente na corrida eleitoral, com 48,43% dos votos, contra 43,20% de Bolsonaro.

No segundo turno, não foi só a pesquisa Genial/Quaest que indicou a vitória de Lula com uma margem pequena em relação ao ex-presidente. Como noticiou o Estadão, na véspera da eleição, em 30 de outubro, o petista estava à frente nas principais pesquisas nacionais.

Os levantamentos do Datafolha, Ipec, CNT/MDA, Quaest, Paraná Pesquisas, PoderData e Ipespe/Abrapel indicavam que Lula teria mais de 50% dos votos válidos. O petista venceu as eleições com 50,90%, ou seja, 60,34 milhões de votantes.

O Verifica procurou o instituto Quaest e a comunicação da Globo, mas não recebeu retorno até a publicação.

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