SP: 'será sempre uma incógnita', diz professora baleada por aluno
21 set2012 - 07h28
André Gomes
Direto de São Paulo
Após um ano da tragédia envolvendo o estudante Davi Mota Nogueira, a professora que estava na sala de aula e acabou baleada por ele disse não ter ideia do motivo para o garoto de 10 anos atirar e depois se matar. "Será sempre uma incógnita para o resto da vida. A única pessoa que poderia explicar não está mais aqui", disse Rosileide de Oliveira, 39 anos, que recém voltou ao trabalho.
Rosileide ficou uma semana internada. Depois passou o resto de 2011 e o primeiro semestre deste ano em tratamento. Só voltou a pisar numa escola no mês passado. "O joelho não dobrava, então tive que fazer muita fisioterapia. Tinha fisio todos os dias, além de consultas com psicólogos. Hoje, quando preciso correr ou subir escadas o joelho ainda dói", afirmou. A professora fraturou o joelho na queda após ser baleada na região lombar pelo aluno.
A professora, porém, preferiu mudar e agora trabalha na biblioteca da Escola Municipal Bartolomeu Bueno da Silva, a 3,5 km do colégio onde foi baleada. "Pedi para trocar, pois para mim o impacto era muito grande voltar aonde tudo aconteceu. E também pedi para ficar na biblioteca por enquanto. Não estou podendo mexer muito o joelho, ai seria ruim ficar me movimentando dentro da sala. E também fiquei bastante tempo fora, é tudo muito estranho. Melhor ir aos poucos", disse Rosileide, que prefere esperar mais para voltar a dar aulas.
Mesmo em outro colégio, Rosileide diz esperar um dia voltar a entrar na escola onde foi baleada. "Não fui mais lá, mas estou criando coragem para voltar. Espero que com o trabalho psicológico eu consiga, vamos indo aos poucos", disse ela, sempre com uma voz tranquila.
De acordo com a professora, a maior dúvida da solução do caso está relacionada com a personalidade de Davi. "Ele era um menino muito tranquilo, tranquilo até demais. Nós nunca tivemos atrito. Ele não era um mau elemento dentro da classe." Davi tirava notas boas e, segundo a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, onde ele estudava, o serviço de orientação pedagógica nunca recebeu a visita do menino.
A tragédia
A tragédia aconteceu no dia 22 de setembro de 2011, na escola Alcina Dantas Feijão, que fica no bairro Mauá, em São Caetano do Sul, ABC paulista, por volta das 15h50. Davi Mota Nogueira, 10 anos, aluno do 4º ano, disparou contra a professora Rosileide de Oliveira, que dava aula de português para 25 estudantes. Em seguida, segundo testemunhas, o aluno se retirou da sala de aula e disparou contra a própria cabeça próximo a escada. O garoto chegou a ser encaminhado ao Hospital Albert Sabin, mas não resistiu ao ferimento.
Rosileide precisou ser resgatada pelo helicóptero Águia da Polícia Militar. Ela foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, e ficou sete dias internada para retirar a bala e tratar o joelho esquerd, fraturado após a queda sofrida pelo tiro. Ela lecionava na Alcina Dantes Feijão desde 2005.
A polícia investigou se o pai do menino, o guarda Milton Evangelista Nogueira, foi omisso, já que a arma do crime pertencia a ele. De acordo como o guarda, o revólver ficava guardado na parte de cima de um armário e sempre descarregado. Porém, naquele dia, Nogueira estava com pressa e acabou deixando a arma com as balas. Dois meses após a tragédia, o processo foi arquivado por ato infracional de Davi e a delegada do caso, Lucy Mastellini Fernandes, não denunciou o pai.
A professora Rosileide de Oliveira, 38 anos, é socorrida após ser baleada por um aluno em São Caetano do Sul
Foto: Adriano Lima/Fotoarena
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A professora foi baleada por um aluno de 10 anos na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão
Foto: Adriano Lima/Fotoarena
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Alunos e pais se reúnem em frente à escola em busca de informações
Foto: Adriano Lima/Fotoarena
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A prefeitura suspendeu as aulas no turno da noite de quinta-feira e em todos os turnos da sexta-feira
Foto: Celso Lima
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Ambulância chega à escola Alcina Dantas Feijão, após estudante alvejar professora no quadril e se matar. Ambos foram resgatados ainda com vida
Foto: Celso Lima
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Segundo o secretário de segurança da cidade, a arma utilizada pelo menino não é propriedade da Guarda Municipal
Foto: Simone Sartori
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Foto: Terra
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A Escola Municipal Alcina Dantas Feijão amanheceu com uma pichação depois da tragédia envolvendo aluno
Foto: Celso Lima
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O corpo do aluno foi velado durante toda a madrugada no Cemitério das Lágrimas, em São Caetano do Sul
Foto: Aloísio Maurício
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A vítima cometeu suicídio após atirar na própria professora
Foto: Aloísio Maurício
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Parentes e amigos ficaram emocionados com o caso
Foto: Aloísio Maurício
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O Cemitério das Lágrimas fica a apenas uma quadra da escola onde ocorreu a tragédia
Foto: Aloísio Maurício
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O menino foi velado em clima de consternação e perplexidade
Foto: Aloísio Maurício
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Pai de criança que baleou professora chega ao velório do filho
Foto: Aloisio Mauricio
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Pai de criança é escoltado por Guardas Municipais
Foto: Aloisio Mauricio
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Para pedagoga, motivos que levaram criança a abrir fogo contra professora 'ficarão no ar'
Foto: Aloisio Mauricio
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Segundo a diretora, o menino de 10 anos era bom aluno
Foto: Aloísio Maurício
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As aulas na Escola Alcina Dantas Feijão estão suspensas até quarta-feira
Foto: Aloísio Maurício
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Alunos compareceram à escola onde aconteceu o crime
Foto: Aloísio Maurício
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A Polícia Civil apresentou a arma usada no crime
Foto: Aloísio Maurício
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O revólver era do pai do menino
Foto: Aloísio Maurício
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Segundo a delegada Lucy Fernandes, o pai da criança não deverá ser responsabilizado pelo crime
Foto: Aloísio Maurício
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O corpo do menino foi enterrado na tarde desta sexta-feira no Cemitério das Lágrimas
Foto: Aloísio Maurício
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Amigos e familiares compareceram ao sepultamento
Foto: Aloísio Maurício
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O enterro estava marcado para às 16h desta sexta-feira
Foto: Aloísio Maurício
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Foto: Terra
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Estudante teria premeditado o crime, segundo depoimento de professora que ouviu informação de colega de classe do garoto
Foto: Ivan Pacheco
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Verônica dos Santos Berneschi, que visitava o túmulo do marido no Cemitério das Lágrimas, lamentou morte do estudante
Foto: Ivan Pacheco
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A dona de casa de 70 anos estava com a filha e acredita que o pai do menino deve estar sentido muita dor
Foto: Ivan Pacheco
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Por causa do sofrimento causado pela perda do filho, pai - dono da arma usada pelo aluno - pode receber perdão judicial
Foto: Ivan Pacheco
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Coroas de flores cobrem túmulo do aluno de 10 anos que atirou contra professora e depois se matou, no ABC Paulista
Foto: Ivan Pacheco
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Escola Municipal de Ensino Alcina Dantas Feijão, onde aluno baleou professora e depois contra si mesmo, tem vigilância da guarda municipal desde o ocorrido, e está com aulas suspensas até terça-feira
Foto: Ivan Pacheco
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A coordenadora pedagógica Meire Bernadete disse que o atentado não foi tema das conversas durante a visita que fez à professora no hospital
Foto: Ivan Pacheco
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A professora se recupera bem, mas ainda sem previsão de alta após cirurgia para retirada do projétil
Foto: Ivan Pacheco
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A professora Rosileide de Oliveira, baleada por um aluno de 10 anos na última quinta-feira, recebeu visitas no Hospital de Clínicas, onde está internada
Foto: Ivan Pacheco
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Foto: Terra
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Os alunos da escola municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo, retornaram às aulas na manhã desta quarta-feira, seis dias após a tragédia
Foto: Aloísio Maurício
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Pela internet, alunos combinaram voltar às aulas com camisetas, bexigas e rosas brancas
Foto: Aloísio Maurício
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O evento, criado no Facebook, foi chamado de 'Retorno da Paz'
Foto: Aloísio Maurício
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Por causa do tempo frio por volta das 6h30, muitas vieram com a camiseta branca por baixo do agasalho do uniforme escolar
Foto: Aloísio Maurício
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O discurso de todos era de dissociar a instituição de ensino da tragédia. "A escola não vai mudar. Não tem como colocar um detector de metais, porque são 900 alunos por turno", ponderou um dos estudantes, de 15 anos
Foto: Aloísio Maurício
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Na hora do intervalo da manhã, haverá uma cerimônia em homenagem ao aluno morto e à professora baleada, onde será lida uma crônica escrita por uma das professoras e tocada a música 'Pais e Filhos', do grupo Legião Urbana
Foto: Aloísio Maurício
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Um funcionário da escola procurou evitar que os alunos falassem com os jornalistas e fechou o portão pouco após o sinal das 7h
Foto: Aloísio Maurício
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Um psicólogo da prefeitura estava presente na escola para acompanhar a retomada das atividades letivas após a tragédia, atendendo as crianças e os professores na escola
Foto: Aloísio Maurício
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"Estamos preocupados com o bem estar das crianças. Se necessário, vamos abraçá-las, deixar que chorem e desabafem", explicou o psicólogo Sérgio Mayer
Foto: Aloísio Maurício
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A escola Alcina Dantas Feijão é considerada modelo em todo o Estado: segundo o exame do Enem, é a melhor instituição de ensino público e não técnica de São Paulo
Foto: Aloísio Maurício
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Uma professora que acompanhou a filha até a entrada da escola disse confiar na instituição. "A escola é muito boa. Elas vão ter toda a orientação necessária"
Foto: Aloísio Maurício
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Durante o intervalo dos alunos, pouco após as 10h, a escola promoveu uma homenagem à professora baleada e ao aluno
Foto: Aloísio Maurício
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De mãos dadas, professores, alunos, policiais e funcionários rezaram um pai-nosso em homenagem às vítimas
Foto: Aloísio Maurício
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Após a oração, os alunos cantaram ao som da música 'Pais e Filhos', do grupo Legião Urbana
Foto: Aloísio Maurício
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Os presentes também gritaram várias vezes o nome do garoto que se matou e desejaram força a sua mãe
Foto: Aloísio Maurício
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As inscrições nas bexigas e em um cartaz desejavam paz e conforto aos corações da família e dos envolvidos
Foto: Aloísio Maurício
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Na manhã desta quarta-feira, pouco após as 9h, chegaram à 3ª DP de São Caetano do Sul o pai, a mãe e o irmão mais velho do menino
Foto: Diogo Moreira
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Depois de um depoimento de cerca de três horas, os pais e o irmão do menino deixaram a delegacia
Foto: Aloísio Maurício
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O primeiro a ser ouvido foi o pai, seguido pela mãe e pelo irmão mais velho do garoto
Foto: Aloísio Maurício
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Ela crê que o pai não pode ser acusado de negligência e não tem planos de indiciá-lo. "Ele não escondia dos filhos onde estava a arma, mas tinha a precaução de deixá-la sem balas"
Foto: Aloísio Maurício
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Após o depoimento da família entre a manhã e o começo da tarde, ela afirmou que o depoimento dos colegas pode indicar que ele tenha "tomado as dores de outro colega"
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A delegada Lucy Fernandes disse que a motivação do menino que atirou na professora antes de se suicidar segue um mistério
Foto: Aloísio Maurício
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Em outro desenho, o menino se retrata com 16 anos em frente à escola municipal Alcina Dantas Feijão, onde atirou na professora
Foto: Aloísio Maurício
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A delegada Lucy Fernandes divulgou nesta quarta-feira os desenhos que o menino fez de si próprio
Foto: Aloísio Maurício
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A professora Rosileide divulgou uma carta aos veículos da imprensa