Trump não suspendeu tarifaço e uma nova reunião deve ocorrer na Malásia neste domingo, diz ministro

Segundo Mauro Vieira, Brasil pediu trégua na taxação imposta pelos EUA durante o período de negociação. Presidente americano ordenou que sua equipe se reúna com a brasileira

26 out 2025 - 07h13
(atualizado às 07h18)
Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, durante Encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático
Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, durante Encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático
Foto: Ricardo Stuckert / PR

ENVIADO ESPECIAL A KUALA LUMPUR - Uma nova reunião entre representantes do governo brasileiro e americano deverá ocorrer na noite deste domingo, 26, na Malásia. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o Brasil negocia a suspensão do tarifaço durante o período de negociações e a resposta sobre tal pedido pode ocorrer nesse novo encontro. O horário e local, entretanto, ainda não foram definidos.

"O Trump não suspendeu o tarifaço. O Brasil pediu uma suspensão durante um período de negociação. Eles vão se reunir hoje ainda, à noite, aqui na Malásia, para saber se eles aceitam, durante um período de negociação futura, que as tarifas fiquem em suspensas. O Trump ordenou a equipe dele a se reunir com a equipe brasileira", afirmou o ministro após o encontro do presidente Lula com o presidente Donald Trump.

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Ainda de acordo com o ministro, outros temas foram colocados na mesa pelo presidente brasileiro. Lula se ofereceu para intermediar Venezuela, defendeu que a América do Sul é zona de paz, e citou o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para afirmar que não se justificam punições a ministros.

O encontro começou às 15h30, horário local, no Centro de Convenções de Kuala Lumpur (KLCC). Os dois governos confirmaram a realização da conversa, em paralelo à Cúpula de Líderes da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).

Em princípio, participariam da reunião apenas Lula e Trump e assessores diretos, além de intérpretes. Após o fim do encontro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, deverá se pronunciar a respeito da conversa, conforme o Palácio do Planalto.

Na sala 410, Trump estava acompanhado de Marco Rubio (secretário de Estado), Scott Bessent (secretário do Tesouro) e Jamieson Greer (USTR). Com Lula, participaram o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), o embaixador Audo Faleiro (Assessoria Especial) e o secretário-executivo Márcio Elias Rosa (MDIC).

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Antes da conversa, Trump chegou a dizer que poderia baixar o tarifaço de 50% sobre a pauta de exportações brasileira, sob certas condições. Lula disse que um acordo amplo talvez não fosse atingido agora.

A conversa terá teor eminentemente político e busca discutir problemas e diferenças. Empresários com negócios nos EUA também esperam que Trump e Lula desobstruam canais de diálogo e comuniquem posteriormente um processo de negociação estruturada.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que um acerto levará ainda algum tempo de negociação. "Acreditamos que, a longo prazo, é benéfico para o Brasil nos tornar seu parceiro comercial preferencial em vez da China - por causa da geografia, por causa da cultura, por causa de um alinhamento em muitos aspectos", disse Rubio.

A declaração reflete uma preocupação de fundo com a influência chinesa na América Latina. Se Trump decidir apelar e pedir um afastamento de projetos da China, deverá ouvir de Lula um sonoro "no way", segundo um estrategista do governo brasileiro.

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Essa pressão os EUA fizeram com a Argentina, para um socorro financeiro ao governo Javier Milei, e sobre o Panamá, com a ameaça de retomar o controle do canal. Mas a diplomacia aposta que a não-adesão brasileira à Nova Rota da Seda pode atenuar.

"Obviamente, temos alguns problemas com o Brasil, particularmente como eles têm tratado alguns de seus juízes, têm tratado o setor digital nos Estados Unidos, os indivíduos localizados nos Estados Unidos por meio de postagens nas redes sociais. Teremos que trabalhar nisso também. Isso se tornou um emaranhado em tudo isso. Mas o presidente vai explorar se há maneiras de superar tudo isso, porque achamos que será benéfico fazê-lo. Vai levar algum tempo", afirmou o chefe da diplomacia dos EUA.

Singapura e Semicondutores

Antes de encontrar Trump, o presidente Lula se reuniu com o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, também no Centro de Convenções de Kuala Lumpur.

Em discurso a empresários da Asean, Lula disse que o Brasil vai receber investimentos de empresas da Malásia no setor de semicondutores.

O Brasil tem como meta digitalizar 50% da indústria nacional até 2033 e triplicar a participação da produção nacional no segmento de novas tecnologias.

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Queremos fortalecer nossa soberania digital por meio do desenvolvimento de soluções locais de computação em nuvem e da instalação de centros de dados em território nacional.

"O Brasil acaba de lançar um novo programa de semicondutores, que vai estimular o setor por meio de financiamento e incentivos tributários", disse o petista. "Pesquisadores brasileiros e malásios vão colaborar no desenvolvimento de novos materiais para a fabricação de chips. Empresas brasileiras e malásias vão trabalhar juntas na implantação de fábricas de semicondutores no sul do Brasil."

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