Mensalão: Perillo diz confiar em 'discernimento' do Judiciário

31 jul 2012 - 18h05
(atualizado às 18h14)

Mirelle Irene
Direto de Goiânia

Perguntado se Lula deveria ser réu do mensalão, Perillo disse que não faz pré-julgamento
Perguntado se Lula deveria ser réu do mensalão, Perillo disse que não faz pré-julgamento
Foto: Lailson Damasio / Divulgação

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), disse, nesta terça-feira, que espera "discernimento" do Poder Judiciário no julgamento dos réus do mensalão, que começa quinta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2005, logo após o surgimento das primeiras denúncias sobre o caso, Perillo disse publicamente que teria alertado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a existência do esquema de propina a parlamentares no governo do petista desde 2004.

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A declaração teria rendido ao tucano a antipatia política de Lula. Em junho, durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, o governador se queixou da repercussão política que seu aviso ao ex-presidente gerou. "Eu nunca imaginava que um aviso pudesse trazer tantos problemas para mim, tanta perseguição", disse. Segundo declarações recentes do tucano e de seus aliados, o PT, em especial através do relator da Comissão, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), quer atingi-lo politicamente na CPI para tentar encobrir a repercussão do julgamento do mensalão.

Nesta segunda-feira, porém, Perillo usou um tom conciliador e procurou mostrar sua faceta republicana. "Nós vivemos em um País onde a repartição de Poderes, que foi concebida por Montesquieu (Charles de Montesquieu, filósofo francês autor da Teoria da Separação dos Poderes adotada por muitas Constituições, inclusive a do Brasil), é muito evidente: cabe ao Legislativo cumprir o seu papel, ao Executivo também e ao Judiciário tomar decisões em horas cruciais para a República, para a democracia, quanto agora", disse. "Todos nós, brasileiros, confiamos no discernimento do Poder Judiciário", completou.

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As declarações foram dadas na Academia de Polícia Militar, durante solenidade de comemoração dos 87 anos de criação do Gabinete Militar da Governadoria.

Questionado se o ex-presidente Lula também deveria responder judicialmente pelo mensalão, Perillo tentou contemporizar. "Não gosto de pré-julgar ninguém. Eu não sou promotor de Justiça, eu não sou juiz. Não guardo mágoa de ninguém. Quem tem que falar disso é o Judiciário", disse. Porém, logo em seguida o tucano foi mais irônico. "Se eu já fui, de alguma maneira, perseguido porque dei opiniões ao longo da minha vida pública, aceito isso com respeito, democraticamente. Agora, se fazem contra mim, não vou fazer contra as outras pessoas. Não é do meu feitio este tipo de comportamento", assegurou.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

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Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

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Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

Fonte: Especial para Terra
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