Eduardo Cunha 'detona' submissão da Câmara ao Planalto

Com discurso de independência, candidato à Presidência da Câmara faz duras críticas ao PT da presidente Dilma

19 dez 2014 - 21h36
<p>Eduardo Cunha afirma que não é uma candidatura de oposição ao governo, nem de submissão</p>
Eduardo Cunha afirma que não é uma candidatura de oposição ao governo, nem de submissão
Foto: Agência Brasil

Não faltaram pesadas críticas ao PT e à submissão do Congresso a presidente Dilma Rousseff, no pomposo almoço oferecido pelo PMDB do Rio ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) nesta sexta-feira. O menu oferecido pelo parlamentar, que disputa a presidência da Câmara, teve os ingredientes que o Congresso está ávido para degustar: a independência ao Planalto. Por este motivo, Cunha vem tentando colar sua imagem justamente àquela dos “revoltosos”, que reclamam da já tradicional falta de traquejo da presidente para negociar e do rolo compressor na votação de matérias de interesse do governo.

Muito hábil no discurso, Cunha defendeu a independência: “o que a gente prega aqui é a independência. Se decepcionará quem achar que isso aqui é uma candidatura de oposição. Não é. Mas também não é uma candidatura de submissão ao governo”. Com essa defesa, o deputado tenta agradar aos eleitores naturais dos outros candidatos, o petista Arlindo Chinaglia e o nome lançado pela oposição, o deputado Júlio Delgado, do PSB.

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Em vários momentos, Cunha disparou contra o PT, a quem o PMDB é aliado desde o governo Lula. “Quando a gente criou o blocão (no início do ano) diziam que era para emparedar o governo. Não era. A gente queria combater a hegemonia do PT naquele momento”. O parlamentar ainda colocou no colo dos petistas a responsabilidade pela não votação da Reforma Política, já que o partido teria obstruído a votação por ela não tratar do financiamento público de campanha.

Muitas vezes taxado de candidato da oposição, Eduardo Cunha diz que estará presidente para “sustentar o governo”, mas dando voz para que o “Parlamento possa se manifestar e ser independente”. Depois de dizer que não tem nada contra a candidatura do seu “querido colega” Arlindo Chinaglia, o parlamentar afirmou que o nome dele representa justamente o que o Congresso não quer: a submissão ao governo. E de novo, críticas ao PT. “Os ganhos institucionais que a Câmara teve foi quando o PT não estava no comando da Casa”.

Apesar de ter sido lançado pelo PT justamente para tentar barrar a candidatura de Cunha - que causa arrepios na base fiel e afinada com a presidente Dilma - Chinaglia também tem tentado mostrar que não é o candidato do governo. A retórica, sustenta Cunha, não cola. “Ele era líder do governo há poucos dias. É difícil o líder dizer que não é candidato do governo. Ele deve estar com algum desconforto (de se apresentar como o nome do Planalto)”.

Evangélicos e ruralistas

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Pelas contas de Eduardo Cunha, sua candidatura já tem o apoio de 167 deputados, podendo bater pouco mais de 200 até o dia da eleição, em fevereiro. Hoje, parte do blocão citado por Cunha está fechada com a candidatura do peemedebista, como Solidariedade, PSC e PTB. Na oposição, o DEM também deve ficar com o parlamentar do PMDB. Ele, aliás, comemorou dois outros apoios, de duas frentes conservadoras: a evangélica e a ruralista.

Nos bastidores, já é tido como certo que a disputa pela principal cadeira da Câmara só se encerrará em dois turnos. A tendência é que Cunha e Chinaglia disputem a vaga. “As chances dele são as melhores possíveis. Ele tem traquejo demais. Num segundo turno, os votos da oposição irão todos para o Eduardo Cunha”, disse um aliado do peemedebista.

Chamados para o convescote em torno do parlamentar no restaurante de um hotel da zona sul carioca, estavam vários correligionários, como o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o ex-ministro do Turismo, Pedro Novaes, e o deputado federal Leonardo Picciani, anfitrião da tarde. De outros partidos, marcaram presença o vice-governador Francisco Dorneles, do PP, a deputada Cristiane Brasil, do PTB, o Pastor Everaldo, do PSC, candidato derrotado à Presidência da República, entre vários outros políticos.

Todos destacaram o viés da independência para defender o nome de Cunha. No discurso mais direto, Eduardo Paes ironizou a candidatura adversária: “tem outra candidatura? É tão relevante que eu nem notei”. Já Pezão adotou um discurso “municipalista” para defender o correligionário: “Ele entende como poucos o que os municípios precisam e o que aflige os governadores”, afirmou o governador, um dos últimos a chegar e o primeiro a almoçar - ainda durante os discursos de abertura do evento. 

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Fonte: Especial para Terra
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