Parlamentares da oposição reagiram à declaração de Donald Trump sobre sua “química” com Lula durante encontro em Nova York. Para críticos do Planalto, a fala do republicano não foi amistosa, mas um movimento que expõe ainda mais a fragilidade diplomática do governo brasileiro. Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Maurício Marcon (Podemos-RS) afirmaram que Trump desmontou a narrativa de confronto de Lula e o colocou em uma situação sem saída: se evita o diálogo, é visto como intransigente; se aceita, pode sair diminuído. José Medeiros (PL-MT) considerou que o gesto de Trump pode ser estratégico e lembrou que sanções já foram impostas.
O Terra ouviu parlamentares da oposição sobre a declaração do presidente norte-americano Donald Trump a respeito do encontro em que disse ter sentido “química” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para os opositores do Planalto, longe de ser um gesto amistoso, a fala do republicano cria novos embaraços para Lula, que tenta administrar a pior crise diplomática em duas décadas de relações bilaterais.
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O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, Paulo Bilynskyj (PL-SP), resumiu o sentimento entre os críticos do governo. “Trump colocou o Lula exatamente no lugar que precisava. Agora quero ver ele se explicar diretamente para o Trump. Agora o Lula vai ter que sentar na mesa com o Trump.”
Bilynskyj fez ainda uma comparação com a experiência do presidente da Ucrânia diante de Trump. “Lembra como é que foi o Zelensky na primeira vez que ele foi na reunião com o Trump? É exatamente isso que vai acontecer com o Lula, vai ser a cartada final.”
O vice-líder da oposição, Maurício Marcon (Podemos-RS), avaliou que a declaração desmonta a narrativa oficial do governo. Segundo ele, Trump quebrou a estratégia de Lula de sustentar, no exterior, uma postura de confronto contra Washington.
“Ao contrário do que os petistas estão querendo propagar, eu acho que a fala foi um desastre para o Lula. Primeiro, porque ele busca no atrito ganhar popularidade. A gente viu nas pesquisas: ele teve sobrevida nesse cenário. Ele vai à ONU, faz discurso sobre democracia, soberania, blá, blá, blá. Deu entrevista dizendo que o Trump não queria negociar. E aí o Trump vai lá e faz exatamente o que o Lula não queria.”
E completou: “Agora o Lula faz o que da vida dele? Se ele não vai conversar, mostra que é intransigente. Se ele vai conversar, infelizmente vai levar invertidas e vai sair de lá sem nada.”
O deputado José Medeiros (PL-MT) também opinou, ao ser questionado se o Brasil poderia chegar a um consenso com os Estados Unidos e se a fala de Trump teve tom de aproximação com Lula.
“Acho difícil, porque a conversa do Lula faz curva e não dá para prever qual seria a reação do Trump caso leve o ‘chapéu’ do Pedro Malasartes. Essa fala aparentemente carinhosa pode até ser estratégia. Mas vai depender do Lula. Na primeira carta, quando anunciou sanções, o Trump avisou: resolva até 1º de agosto. Não resolveu, arque com as consequências.”
Lula e o republicano se encontraram pela primeira vez em Nova York. O aperto de mãos nos bastidores da Assembleia Geral da ONU foi breve, mas carregado de simbolismo. O gesto ocorreu justamente no auge da tensão diplomática: um dia depois de Washington impor novas restrições de vistos e sanções financeiras com base na Lei Global Magnitsky, em resposta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Há quase três meses, Trump acusa o Brasil de promover uma “caça às bruxas” contra seu aliado político e critica decisões do Supremo Tribunal Federal sobre regulação das big techs. O resultado foi imediato: desde 6 de agosto, os Estados Unidos aplicam tarifa de 50% a cerca de 60% das exportações brasileiras.
No tabuleiro, o gesto de Trump embaralha o cálculo político de Lula. Para a oposição, qualquer movimento do presidente brasileiro vira armadilha: se evita o encontro, posa de intransigente; se aceita, arrisca sair diminuído da conversa.