PCC usa mais de 60 motéis em nome de laranjas para lavar R$ 450 milhões, diz Receita

Ao todo, são cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em seis cidades de São Paulo

25 set 2025 - 11h35
(atualizado às 12h18)
Resumo
PCC utilizou mais de 60 motéis para lavar R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, segundo a Receita Federal; em um esquema envolvendo também postos de combustíveis, franquias e empreendimentos imobiliários.
Autoridades cumprem 25 mandados de busca e apreensão na Operação Spare
Autoridades cumprem 25 mandados de busca e apreensão na Operação Spare
Foto: Divulgação/Receita Federal

O Primeiro Comando da Capital (PCC) usou entre 2020 e 2024 mais de 60 motéis para levar dinheiro. De acordo com a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a movimentação durante esse período foi de R$ 450 milhões e a maioria dos estabelecimentos estava em nomes de laranjas. 

A investigação faz parte da Operação Spare, deflagrada nesta quinta-feira, 25, que busca desmantelar um esquema de exploração de jogos de azar, comércio de combustíveis adulterados, empreendimentos imobiliários e lojas de franquia com utilização de empresa de pagamentos para lavagem de dinheiro, com a infiltração da facção criminosa. 

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Conforme a Receita, os motéis contribuíram para aumentar o patrimônio dos sócios, com distribuição de R$ 45 milhões em lucros e dividendos. Um desses estabelecimentos chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada. 

As autoridades apontam ainda que os restaurantes dentro desses motéis, que tinham CNPJs próprios, também faziam parte do esquema. Somente um deles chegou a distribuir R$ 1,7 milhão em lucros após registrar a receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023.

Também chama atenção as operações imobiliárias realizadas pelos CNPJs de motéis vinculados a integrantes da organização: um dos registros adquiriu um imóvel de R$ 1,8 milhão em 2021, enquanto outro comprou um imóvel de R$ 5 milhões em 2023.

Postos de combustíveis e franquia

O esquema tinha uma extensa rede de postos de combustíveis usados para a ocultação dos valores e lavagem de dinheiro, que foi descoberto a partir da concentração de empresas que estavam sob responsabilidade de um único prestador de serviço. 

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Formalmente, ele controlava cerca de 400 postos, sendo 200 deles vinculados diretamente ao principal alvo da operação, um dos operadores do PCC, e seus associados. 

Ao menos 267 postos ainda estão ativos e movimentaram mais de  R$ 4,5 bilhões de 2020 a 2024, recolhendo apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais - o que, segundo a Receita, seria equivalente a 0,1% do total movimentado, percentual muito abaixo da média do setor. Além disso, as autoridades identificaram administradoras de postos que movimentaram R$ 540 milhões no mesmo período. 

A atuação não se restringia apenas a motéis e postos de combustíveis, mas chegou a lojas de franquias e empreendimentos na construção civil. Ao menos 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos relacionados a uma mesma franquia foram encontrados, todos em nomes de investigados.

Essas empresas apresentavam indícios de lavagem de dinheiro, já que entre 2020 e 2024, movimentaram cerca de R$ 1 bilhão, mas emitiram apenas R$ 550 milhões em notas fiscais. Ainda no mesmo período, recolheram R$ 25 milhões em tributos federais, o que corresponde a 2,5% da sua movimentação financeira no mesmo período, e distribuíram R$ 88 milhões em lucros e dividendos.

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Por meio de Sociedades em Conta de Participação (SCP), construíram empreendimentos imobiliários, especialmente prédios residenciais em Santos, no litoral de São Paulo, durante a década de 2010. Ainda segundo a Receita, não é possível determinar quantos deles ainda estão com os alvos, já que os sócios dessas sociedades são mantidos em sigilo. 

As autoridades estimam que ao menos 14 empreendimentos movimentaram R$ 260 milhões nos últimos quatro anos, com base em uma sócia ostensiva comum.

Operação é derivada da Carbono Oculto

A ação desta quarta é um desdobramento da Carbono Oculto, deflagrada no final de agosto, que esmiuçou a infiltração do crime organizado na economia formal do Brasil. A ação mirou esquema bilionário PCC, que se apoiava em um complexo sistema de fraudes e lavagem de dinheiro.

Ministério Público de SP e Polícia Militar realizam nesta Operação Spare na manhã desta quinta-feira, 25.
Foto: Divulgação/Polícia Militar de São Paulo

O Ministério Público informou que a investigação começou com a apreensão de máquinas de cartão em jogos ilegais em Santos, ligadas a postos de combustíveis. As análises financeiras feitas pelas autoridades apontaram que os valores eram enviados para uma fintech, usada para esconder a origem e destino ilegais do dinheiro.

Com o dinheiro, os criminosos compravam imóveis e bens de luxo, por meio de empresas regulares ou de fachada. Estima-se que os bens identificados representem apenas 10% do patrimônio real dos envolvidos.

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Entre os bens estão:

  • um iate de 23 metros, comprado por um dos motéis e depois transferido a uma empresa de fachada
  • dois helicópteros 
  • um Lamborghini Urus adquirido por empresa patrimonial; 
  • terrenos onde estão localizados diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões. 

Ao todo, são cumpridos 25 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo (19), Santo André (2), Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco.

Ao menos 64 agentes da Receita Federal e 28 do Ministério Público de São Paulo (MPSP), por meio do Gaeco, além de representantes da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo (Sefaz/SP) e cerca de 100 policiais militares participam da ação. 

Fonte: Portal Terra
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