O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) investigou uma rede de agiotas ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com a promotoria, o grupo, que movimentou R$ 20 milhões apenas em 2023, armou um esquema em que ameaçavam os devedores para receber pagamentos com juros abusivos de até 300% e multas de R$ 1 mil por dia de atraso. Em caso de inadimplência, os bens do devedor eram sequestrados.
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Os resultados da “Operação Khalifa” foram divulgados pelo MP na última terça-feira, 7, mas os detalhes tramitam em segredo de Justiça. Foram cumpridos 11 mandados de prisão em São Paulo e, ao todo, 9 pessoas foram detidas. Duas seguem foragidas.
Segundo informações obtidas pelo jornal Metrópoles e publicadas no domingo, 12, e nesta segunda-feira, 13, quem estava na liderança do grupo era Edson Carlos do Nascimento, também conhecido como "Kaká". Ele é apontado como um "membro relevante" do PCC, e também é investigado por envolvimento com jogos de azar e posse ilegal de arma de fogo.
Ao lado dele, Daniel Carvalho Vasconcelos Santana atuava como administrador dos empréstimos, fazia a contabilidade dos valores arrecadados e passava as 'diretrizes' para os 'funcionários' do grupo, que coletavam os pagamentos e cobravam as dívidas.
Os responsáveis por esse serviço eram Fernando de Souza Santos, conhecido como "o Gordo", Ricardo dos Santos Barbosa, apelidado de "o Chocolate", e Rodrigo de Carvalho.
O Terra entrou em contato com o MP-SP, mas não obteve retorno.
Ameaças
Uma das trocas de mensagens, geralmente feitas pelo Whatsapp, obtidas pelo MP e divulgadas pelo Metrópoles mostram em que os investigados comentavam sobre o caso de dois devedores, um homem que estava "tremendo de nervoso" após ser cobrado e uma mulher que não estava querendo pagar. Neste último caso, Daniel, apontado como braço direito de Edson, questionou: "Você não vai cancelar o CPF dela?".
Em outra conversa relata quando o grupo cobrou o dono de um mercado.
"Ele tem 500 conto aqui, e R$ 1.000 ele consegue na segunda-feira, mano. O cara tá enrolando, já vendeu o mercado aqui, não tem mais nada", disse um dos cobradores. "Manda ele se virar, ué", respondeu Daniel.
A conversa termina com o aviso de que um caminhão estaria indo em direção ao estabelecimento para "recolher as coisas".
Corrupção de policiais
As investigações também apontam o envolvimento dos criminosos com atos para corromper policiais. Uma das conversas obtidas pelo MP e divulgadas pelo jornal expõe o diálogo entre o líder Kaká e uma pessoa identificada apenas como "Leo", após a prisão de um amigo em comum em Itaquaquecetuba, em outubro de 2023.
Leo afirma que precisa de R$ 20 mil para pagar propina aos policiais para conseguir soltar o amigo por porte ilegal de arma de fogo. Kaká, então, questiona se tem "gravata" (advogado) lá e diz que não irá cobrar juros, caso Leo devolvesse o valor na sexta-feira.