“Da Proibição Nasce o Tráfico”. É esse o título de uma campanha provocativa que, após uma passagem pelo Rio de Janeiro, estampará a traseira de 40 ônibus de dez linhas intermunicipais da Grande São Paulo. Com cartuns de Angeli, Laerte, André Dahmer, Arnaldo Branco e Leonardo, a campanha quer mostrar que a “guerra às drogas” causa mais danos que o uso de drogas em si.
“A ideia é provocar perplexidade e curiosidade”, diz a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes e idealizadora da campanha. “Queríamos estimular a busca de informações de uma forma não tradicional, então pensamos no humor como um caminho interessante e conseguimos a parceria desses grandes cartunistas. A campanha quer mostrar que a estratégia de lidar com as drogas no Brasil é uma estratégia equivocada, que provoca muito mais violência do que aquela que se pretende combater.”
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A campanha sustenta que a proibição jogou na ilegalidade um mercado que movimenta bilhões de dólares por ano e que está nas mãos do crime organizado. “As operações diárias de combate violento ao tráfico de drogas acabam com mortes por todos os lados. A polícia do Rio de Janeiro é a que mais mata no Brasil, e também a que mais morre”, afirma Julita, que foi diretora-geral do sistema penitenciário do Rio (1991-1994) e ouvidora da polícia. Ela diz que sua experiência foi fundamental para que, hoje, quisesse se dedicar às políticas de drogas. “Nossa população prisional explodiu com essa nossa legislação obtusa.”
Saúde pública
De acordo com a socióloga, as experiências na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul mostram que é um equívoco pensar que a liberação irá aumentar o consumo de drogas. Segundo ela, um dos benefícios da regulação do mercado de drogas é justamente a criação de programas de redução de danos eficazes, uma vez que a proibição afasta dos serviços de saúde as pessoas mais afetadas pelo abuso do consumo, que temem a prisão e, assim, preferem se esconder a pedir ajuda.
“A gente sabe que não é a proibição que vai reduzir o consumo. Drogas sempre foram usadas na história da humanidade, para fins religiosos, medicinais ou recreativos. Homens e mulheres sempre usaram drogas e vão continuar usando”, diz Julita. “O que precisamos é de inteligência lidar com o percentual pequeno de pessoas que fazem uso abusivo”, encerra.