Nem todo jogo precisa ser novo para voltar a chamar atenção. E 1000xRESIST é um bom exemplo disso. Depois de conquistar prêmios e elogios pela narrativa no lançamento original de 2024, o título da Sunset Visitor retorna agora aos consoles da geração atual com algumas melhorias e uma localização em português que realmente faz diferença na imersão.
Desde o início, ele se destacou por abordar temas pouco explorados na ficção científica dos jogos, misturando reflexões existenciais com uma direção de arte que usa as cores como parte da própria história. Agora, com essa nova versão, o jogo ganha a chance de alcançar quem perdeu sua estreia e reafirma por que continua sendo uma das experiências narrativas mais fortes do gênero.
Futuro incerto para a humanidade
A história de 1000xRESIST se passa milênios após a extinção da humanidade. A protagonista, Observadora, vive em um bunker subterrâneo e tem como tarefa de reviver as memórias de sua “deusa” criadora, a Mãe de Todos, uma adolescente chamada Iris, que descobriu ser imortal e criou uma sociedade de clones para sobreviver à ameaça trazida à Terra por viajantes do espaço conhecidos apenas como os Ocupantes.
Com essa missão de reviver as memórias de sua criadora, Observadora embarca em uma jornada para entender mais sobre o passado da humanidade e como os eventos antigos moldaram o futuro que levou quase todos à extinção.
Não cheguei a jogar 1000xRESIST quando ele saiu no ano passado, o que é curioso, já que o gênero de ficção científica é um dos meus favoritos. Mas agora que ele chegou aos consoles da geração atual, deu para entender por que a narrativa foi tão elogiada e colocada entre as melhores do gênero.A história é cheia de nuances e aborda temas pouco explorados nos jogos, e acompanhar uma personagem que está descobrindo esses assuntos pela primeira vez torna a experiência ainda mais envolvente. A escrita é de alto nível e sustenta o jogo do começo ao fim.
Narrativamente, 1000xRESIST caminha junto da jogabilidade, ainda que sem interferir diretamente nela. Conforme avançamos, a Observadora ganha a habilidade de alternar entre linhas do tempo, podendo ir do passado ao futuro, que é o seu presente. Nesses momentos, é possível conversar com personagens de diferentes eras e ver como os ambientes mudaram ao longo do tempo. Em uma das partes, por exemplo, ela conversa com um pombo e, ao alternar para o futuro, o pombo está gigante e ainda interage com ela, fazendo perguntas e refletindo sobre o passado.
Outro ponto no qual o jogo se destaca é na forma como explora as memórias. Em boa parte, a jogabilidade é tradicional, com foco em exploração — especialmente no Pomar, o bunker principal onde vivem a Observadora e as outras clones. Esse lugar lembra um pouco a Citadel do Mass Effect, pela estrutura ampla e fácil de se perder.
Mas quando atingimos certos objetivos dentro das memórias, o jogo muda suas mecânicas de forma criativa. Em uma delas, há uma breve sequência de movimentação entre anéis, na qual é preciso parar o tempo para alcançá-los e, por fim, conversar com um personagem que ajuda a encerrar aquela lembrança isolada. Essas variações dão um bom respiro à experiência e mantêm a narrativa interessante.
Durante a exploração, tanto dentro quanto fora do Pomar, o senso de direção pode ser confuso. Mesmo com uma lista de tarefas, é fácil se perder em meio a corredores e salas parecidas, e a mecânica de alternar entre realidades acaba tornando a navegação ainda mais desorientadora em alguns momentos.
Embora não seja um jogo impressionante graficamente, o estúdio soube tirar o máximo do estilo visual. A direção de arte é forte, com uso marcante de cores, especialmente nas partes do futuro, e até essas escolhas cromáticas têm função narrativa. O trabalho com câmeras também chama atenção em certas fases, com enquadramentos bem pensados que destacam cenários mais bonitos e únicos ao longo da jornada da Observadora.
Por fim, essa nova versão para os consoles da geração atual tem como principal atrativo a localização com legendas em português. Muita gente já conhecia o jogo pelos elogios e prêmios que recebeu, mas acabou deixando de jogar ao descobrir que ele não tinha adaptação para o nosso idioma. Agora isso mudou. A localização está muito bem feita, e até nas escolhas de diálogo a tipografia segue o mesmo estilo da versão em inglês, combinando com a estética futurista do jogo.
Considerações
1000xRESIST continua sendo uma das experiências narrativas mais únicas dos últimos anos. Mesmo sem apostar em gráficos de ponta, a força da escrita e o cuidado visual fazem dele um título que vale o retorno. A nova localização deixa tudo ainda mais acessível e mostra o carinho do estúdio com o público.
Para quem gosta de ficção científica com identidade própria, essa nova versão é o momento certo de embarcar na jornada da Observadora e descobrir por que o jogo conquistou tantos elogios no ano passado.
1000xResist esta disponível para PC, PlayStation 5, Switch e Xbox Series, podendo ser jogado também via Game Pass.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Fellow Traveler.